Depois de Castle e da série de culto Firefly, o ator Nathan Fillion desapareceu dos ecrãs durante dois anos e regressou na semana passada no papel principal de The Rookie, uma produção ABC. O ator e produtor executivo nos estúdios da Warner Bros em Burbank, onde o elenco filma uma série inovadora na forma como reflete a polícia de Los Angeles, deu uma entrevista ao DN..Fillion, aos 47 anos, veste a pele do novato John Nolan, que mudou radicalmente a sua vida, falando de algo que é difícil mas não impossível: nunca parar de recomeçar..Como surgiu a ideia para The Rookie depois de tantos anos como Castle?.Em Castle, tinha sido escolhido da forma tradicional. Há um projeto, têm papéis e começam a preenchê-los, é a experiência típica. Aqui, tivemos a ideia, propusemos à ABC e eles compraram. Só então escrevemos o argumento. Foi a primeira vez que aconteceu assim..De que forma esta série é diferente de Castle, visto que ambas são policiais?.É um policial, já vimos muitos antes. Qual é o ângulo novo, de que forma entramos na história de forma a que seja interessante? Este fenómeno cultural: o casamento era a constante, agora o divórcio é que é. E o divórcio não significa que a vida para, as pessoas recomeçam. Também já não entram num emprego aos vinte e poucos anos e reformam-se aos 65. Muda-se mais de emprego, as coisas movem-se mais rapidamente. A nossa entrada nesta série policial é um homem que recomeça. O casamento acabou, já não é preciso como figura paterna em casa porque o filho está na faculdade e o emprego que tinha era uma necessidade para sustentar a família. Qual é o seu sonho, o que quer ao começar mais tarde na vida? Temos um olhar refrescado através de olhos que não são assim tão frescos..Mas ser polícia não era um sonho, é uma reação a algo que lhe acontece?.Sim. Não me parece que se ele tivesse visto alguém a pintar uma casa teria sido inspirado a tornar-se pintor de construção civil. É um homem à procura de relevância. Ele quer fazer a diferença. Está numa altura da vida em que já ninguém precisa dele, nem como marido, nem como pai em casa. Quando tem a experiência do assalto ao banco vê que é um trabalho importante, precisa de ajuda e a polícia vem. Esse é o seu caminho para a relevância. Na força policial, eles querem pessoas jovens para lhes poderem dizer "é assim que se lida com esta situação", enquanto ele, aos 40 anos, já tem as ideias formadas. Já tem experiência suficiente para saber como lidar com situações e não é assim que eles querem..É um contrariar desta tendência da sociedade para valorizar excessivamente a juventude?.Sou o tipo de homem que neste momento da minha vida, especialmente agora que estou a bater nos 50, aprecia experiência. Não sou daqueles que quer cometer todos os erros, gosto de aprender com os erros dos outros..O que descobriu na sua vida após os 40?.Os meus joelhos. Há muitas coisas que já não faço, sei onde vou parar. Se aterrar 14 vezes de joelhos para uma cena não me mexo. Tenho também agora uma capacidade de previdência totalmente desenvolvida. Consigo olhar para uma situação e dizer as 25 formas em que pode correr mal. Sou esperto o suficiente para saber quando tenho à frente uma excelente oportunidade. Consigo ver uma posição perfeita à minha frente e dizer que sim.. The Rookie inspira-se numa história real. Conheceu o "verdadeiro" rookie?.Sim, encontrei-me com ele. Não se chama John Nolan. Depois do facto de ele ter escolhido aos 40 tornar-se polícia, sendo que só havia duas esquadras que aceitam novatos com mais de 37 anos, e além de se ter mudado para a casa de hóspedes de um ex-colega da faculdade aqui em Los Angeles, tudo o resto inventámos. O verdadeiro rookie não era casado nem tem filhos..Que características partilha com o seu personagem?.Ambos temos um cabelo espetacular. Diria que o John Nolan e eu partilhamos um sentido de calma. Sei como apreciar a vida e não o faço a correr. Em termos de diferenças, quanto mais filmo esta série e aprendo sobre o trabalho da polícia mais compreendo que isto é uma vocação e não seria emprego para mim. Nem pensar. Quando alguém liga para o 112 [número de emergência] as coisas já estão fora de controlo. Precisam de alguém que vá e tenha a autoridade para retomar o controlo. E essa pessoa não sou eu..Como foi a preparação física para este papel?.Além de fazer muitos alongamentos, adicionei ao meu regime água de coco. Quando se vê alguém a correr rua fora na televisão, sabemos que ele passou a manhã inteira a fazer sprints. Cada ângulo da câmara significa quatro ou cinco corridas. Não fui feito para isso, honestamente. Sou mais tipo para um jogging leve. A água de coco hidrata e tem muito potássio, se não a tomar acordo cheio de câimbras nas pernas..Como é o relacionamento com o resto do elenco, a maioria do qual muito mais jovem?.Tivemos um encontro para nos conhecermos melhor fora das filmagens e aluguei uma máquina de karaoke para minha casa. Eu pedia algo dos anos 80 ou início dos anos 90 e eles diziam, "ah sim, conheço isto", e cantavam juntos. Eles escolhiam uma música e alguém dizia "boa, isto é o meu som!". E eu nunca tinha ouvido aquilo na vida..Esta série é uma das primeiras que usa imagens das câmaras corporais dos policiais. A intenção é fazer um retrato realista ou dar uma mensagem de responsabilização das autoridades?.Essa é a realidade. Os polícias agora usam câmaras no corpo e queríamos trazer essa realidade para a série..Usar a farda policial muda a sua postura, a forma de andar?.Sim, é como usar um fato formal. Puxa os ombros para trás, o que se torna extenuante no final do dia, e não é nada fresco. Usar lã de cima abaixo no calor de Los Angeles é um desafio. Nas filmagens contratamos polícias para controlar o trânsito e pergunto sempre o que estão a usar, mas parece que algodão não é melhor. Com os avanços que já foram feitos nos têxteis, isto devia ser um material durável, respirável e elástico..A sua relação com o showrunner Alexi Hawley vem de Castle. Como é essa colaboração de longo prazo?.Quando se entra num projeto, muita gente pensa que o essencial é olhar para o argumento e para a história. Mas eu penso no que o meu dia-a-dia será. Se vou estar em estúdio 16 horas por dia, com quem vou passá-las? Trabalhar com pessoas que já se conhecem e se pode contar com elas e se respeita o talento e a experiência é isto. Sei o que esperar com o Alexi e que vou desfrutar do dia-a-dia..Fez Firefly e outros projetos excitantes. Há alguma coisa que gostaria muito de fazer e ainda não fez?.As pessoas perguntam-me se quero fazer mais ficção científica ou o que quero fazer a seguir. Há essa impressão de que ando por aí a dizer que quero fazer este ou aquele papel e peço que mo deem. Não é assim que funciona. Ando de chapéu na mão a pedir trabalho, como toda a gente. Mas é excitante com a minha idade ainda estar a fazer coisas pela primeira vez..É importante sentir que tem reconhecimento internacional?.Sim. Quando gravamos não temos reação. E eu adoro viajar. Ser um ator e manter-me relevante é muito importante. Quanto mais avanço nesta indústria mais reconheço a importância e raridade disso..Tem uma carreira de 25 anos. Que evolução foi mais notória desde que começou?.Lembro-me da greve dos argumentistas. Lembro-me de eles porem coisas online para defenderem o seu argumento. Será que ainda precisávamos de produtores, se tínhamos a internet? Lembro-me de discutir isso com um dos meus agentes na altura, que não dava qualquer crédito à internet na área do entretenimento. Achei isso muito estranho, porque eu via as coisas a moverem-se nessa direção. Agora vemos a proliferação dos serviços de streaming. O Netflix era um negócio de aluguer de DVD - alguém se lembra do DVD? Sempre me perguntei qual seria o próximo formato físico do entretenimento, a seguir ao DVD. E é nada, faz-se streaming. É etéreo. Já não se pega nele, está ali e acede-se. Penso que é incrível. Não sei o que fez à indústria como um todo, mas há muito mais trabalhos disponíveis..Como é ter tantas mulheres a escrever e a interpretar, algo muito diferente do que era há 25 anos?.Não passo muito tempo na sala dos escritores, mas sei que para o Alexi a igualdade é muito importante. Queríamos refletir a representação dos géneros na LAPD e das várias culturas. Penso que há dois homens brancos em toda a série, e isso é fiel ao que sucede hoje na polícia de Los Angeles..The Rookie.Canal AXN ,às segundas pelas 23.25