A proposta partiu do Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab/UF), da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, que considera que a adopção desta medida colmataria um vazio no processo de interrogatório e inquirições judiciais.."A ausência deste método é uma falha grave no sistema judiciário português. Nos Estados Unidos é utilizado há mais de 30 anos pelo FBI e CIA, sendo considerado um instrumento muito fiável em todo o mundo", disse à Lusa o presidente do laboratório, Freitas-Magalhães..O especialista defende que os interrogatórios e inquirições policiais e judiciais deviam ser gravados em vídeo para análise posterior, contribuindo para o esclarecimento da importância "daquilo que não se diz"..Referindo que os juízes costumam sempre dizer que todo o processo deve ter em conta todas as provas, o responsável lembra que "na face vê-se tudo, mesmo o que a face não apresenta"..Freitas-Magalhães explicou que mesmo quando uma pessoa apresenta uma "face neutra", os movimentos oculares são reveladores.."O cérebro não permite duas emoções em simultâneo na face. É sequencial. Quando há duas emoções em milésimos de segundo, detectam-se incongruências emocionais, que revelam a mentira. O cérebro quer dizer a verdade e ao mesmo tempo quer mentir", explicou..Inquéritos como os que foram feitos a Leonor Cipriano, aos pais de Maddie ou no caso Casa Pia teriam beneficiado se tivesse sido utilizada a análise facial da emoção..A técnica utilizada é semelhante à usada com os estudos de ADN. O ADN tem marcadores e é necessário encontrar determinado número de marcadores para saber se o ADN pertence a uma pessoa. Na expressão facial também há marcadores que estão bem descritos no "sistema de código facial", inventado em 1998 por Paul Ekman..É precisamente baseado nas técnicas inventadas por este psicólogo norte-americano - conselheiro da série "Lie to me", que gira em torno de investigadores que detetam fraudes através das micro expressões faciais - que se desenvolve o trabalho do laboratório português e que inspirou um livro escrito por Freitas-Magalhães, a ser lançado na próxima quarta-feira.."'O Código de Ekman: o Cérebro, a Face e a Emoção' é um tributo ao meu amigo Paul Ekman e ao trabalho por ele desenvolvido. E a proposta que entregaremos ao Ministério da Justiça assenta no conteúdo desse livro, mas com uma linguagem mais institucional", explicou..Freitas-Magalhães faz também parte do Comité da União Europeia, com sede em Roma, que está a tentar adotar nos aeroportos europeus estudos de biometria, como acontece nos Estados Unidos.