Amphan será o super ciclone mais poderoso a atingir a Índia e o Bangladesh

A tempestade deverá chegar à Baía de Bengala nesta quarta-feira e preveem-se ventos até 270 km/hora. Já há um morto a registar: um voluntário do Crescente Vermelho.
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O ciclone mais violento a atingir a Baía de Bengala irá afetar milhões de pessoas no leste da Índia e Bangladesh, com previsões para esta quarta-feira de uma tempestade potencialmente devastadora e mortal.

O Amphan deve chegar a terra por volta das 18:00 locais (13:30 em Lisboa), na fronteira entre Índia e Bangladesh, ao sul da cidade de Calcutá, com ventos de até 185 quilómetros por hora (km / h). Os meteorologistas temem uma tempestade com ondas até cinco metros de altura e a possibilidade de maremotos.

O poderoso ciclone já provocou uma primeira morte no Bangladesh, um voluntário do Crescente Vermelho local, anunciou a organização.

Um barco da organização não governamental que estava a ajudar a retirar os moradores da cidade costeira de Kalapara capotou devido às rajadas de vento e foi atirado para o rio.

O voluntário "carregava um megafone pesado e usava botas e um blusão", além de que "não sabia nadar", disse o responsável do Crescente Vermelho no Bangladesh Nurul Islam Khan.

O homem "afogou-se devido ao peso de seu equipamento", acrescentou.

Classificado como de categoria 4 (em 5) na escala Saffir-Simpson, com ventos entre 200 e 240 km / h, e é o ciclone mais poderoso a formar-se no Golfo de Bengala desde 1999. Naquele ano, um ciclone matou 10.000 pessoas em Odisha.

Apesar da perda de energia do ciclone à medida que se aproxima da costa, as autoridades indianas e do Bangladesh esperam muitos danos materiais.

"É uma velocidade devastadora de vento e pode causar destruição em larga escala. Pode arrancar árvores e danificar muito as infraestruturas", disse o diretor geral do departamento de meteorologia da Índia, Mrutyunjay Mohapatra.

As autoridades esforçam-se para proceder a evacuações em massa e retirar populações do caminho do Amphan, que é potencialmente o maior "super ciclone" a formar-se no nordeste do Oceano Índico desde o início dos registos.

Mas os esforços de evacuação estão a ser prejudicados pela necessidade de seguir precauções para impedir a propagação da pandemia do novo coronavírus, com o número de infeções ainda a subir nos dois países.

No mar, o vasto sistema de prevenção climática a partir do espaço observa ventos até 270 quilómetros por hora, segundo o US Joint Typhoon Warning Center.. Esperava-se que diminuísse um pouco antes de cruzar as costas do estado indiano de Bengala Ocidental e do Bangladesh.

Mas a tempestade ainda pode ser forte o suficiente para "causar danos extensos e em larga escala", disse o chefe do serviço meteorológico da Índia, Mrutyunjay Mohapatra.

Juntamente com as "chuvas muito fortes", deve resultar numa tempestade que eleva o nível do mar vários metros, disse. Pode produzir uma parede de água a cair em cascata até vários quilómetros para o interior e estas tempestades geralmente são responsáveis ​​pela perda em massa de vidas durante os ciclones mais severos.

Vítimas regulares

A costa baixa de Bangladesh, lar de 30 milhões de pessoas, e o leste da Índia são regularmente atingidos por ciclones que mataram centenas de milhares de pessoas nas últimas décadas.

O estado indiano de Odisha, no leste da Índia, foi atingido por um super ciclone que deixou quase 10 mil mortos em 1999, oito anos depois de um tufão, tornados e inundações matarem 139 mil no Bangladesh.

Embora a frequência e a intensidade das tempestades tenham aumentado - um fenómeno atribuído em parte às alterações climáticas - as mortes caíram graças a evacuações mais rápidas, melhor tecnologia e mais abrigos.

As autoridades de Bangladesh ainda temem que o Amphan seja a frente de tempestade mais poderosa, pelo menos desde que o ciclone Sidr devastou o país em 2007, matando cerca de 3.500 pessoas e causando biliões de dólares em prejuízos.

O país tem trabalhado para levar 2,2 milhões de pessoas para locais seguros, enquanto Bengala Ocidental está a realojar outras 300.000.

O grupo de ajuda dos Serviços de Socorro Católico (CRS) disse que as pessoas enfrentam "uma escolha impossível", de levar com o ciclone permanecendo nas suas terras ou correndo o risco de infeção por coronavírus num abrigo coletivo.

As autoridades de ambos os países disseram que estavam a usar espaço extra para reduzir a aglomeração, além de tornar obrigatórias as máscaras faciais e fornecer sabão e desinfetante extras.

"Também mantemos salas de isolamento separadas nos abrigos para qualquer paciente infetado", disse à AFP o ministro de gestão de desastres do Bangladesh, Enamur Rahman.

"Pelo menos 50 pessoas refugiaram-se em minha casa, que é de cimento. Chegaram ontem à noite. Nós demos-lhes comida. Há uma atmosfera de pânico", disse à Agência France Prece (AFP) Abdur Rahim, um criador de camarão da vila de Kalinchi, no Bangladesh.

"As mulheres estão muito preocupadas. Rezam a Deus para que poupe os aldeões. Chove desde esta manhã, mas ainda não há sinal de ventos fortes", disse.

Porque existe um grande perigo?

Os ciclones são sistemas de baixa pressão que se formam sobre as águas tropicais quentes, com ventos fortes que podem estender-se por centenas de quilómetros. Sugam grandes quantidades de água e geralmente produzem chuvas torrenciais e inundações, resultando em grande perda de vidas e danos à propriedade.

Também são conhecidos como furacões ou tufões, dependendo de onde se originam no mundo, quando atingem ventos sustentados de pelo menos 119 quilómetros por hora (74 milhas por hora).

Os ciclones tropicais (furacões) são os eventos climáticos mais poderosos da Terra, de acordo com a NASA.

Podem desencadear tempestades catastróficas - inundações tipo tsunami - quando atingem o solo. São por norma a parte mais mortal de um ciclone e podem ser parcialmente afetadas pela velocidade do vento.

Com a subida do mar, cria-se uma parede de água vários metros acima do nível normal da maré. As grandes ondas movem-se mais rápido do que o ciclone e às vezes são vistas até 1.000 quilómetros à frente.

A costa leste da Índia e o vizinho Bangladesh, um país do delta baixo, são muitas vezes atingidos por tempestades entre abril e dezembro que causam mortes e danos à propriedade.

O Bangladesh é vulnerável a ciclones devido à sua localização na cabeça triangular da Baía de Bengala, à geografia de sua área costeira e à sua alta densidade populacional, de acordo com especialistas.

Centenas de milhares de pessoas que vivem na Baía de Bengala foram mortas em ciclones nas últimas décadas. O número de mortos diminuiu nos últimos anos devido às evacuações mais rápidas e à construção de milhares de abrigos costeiros.

A temporada de ciclones tropicais na Baía de Bengala e no vizinho Mar da Arábia tem dois picos em maio e novembro, segundo a Organização Meteorológica Mundial.

Os ciclones podem formar-se no oeste do Oceano Pacífico e viajar na direção noroeste antes de chegar à Baía de Bengala. Alguns chegam à costa sudeste da Índia, mas outros desviam para o nordeste e dirigem-se para os estados de Bengala Ocidental e Odisha.

A Baía de Bengala possui condições favoráveis ​​ao desenvolvimento de ciclones, incluindo altas temperaturas da superfície do mar. Algumas das tempestades mais mortais da história formaram-se na Baía de Bengala, incluindo uma em 1970 que matou meio milhão de pessoas no atual Bangladesh. Cerca de 138.000 morreram em Bangladesh em 1991, devido a um ciclone e, em 2008, o ciclone Nargis, que devastou o delta de Irrawaddy, em Myanmar, matou cerca de 140.000 pessoas.

Estudos sugerem que um clima quente pode trazer ciclones mais destrutivos, pois há calor acrescido nos oceanos e na atmosfera, embora também possam tornar-se menos frequentes.

O aumento do nível do mar pode aumentar as tempestades provocadas pelos ciclones, tornando-os ainda mais mortais e destrutivos.

(Notícia atualizada às 13:07/20 de maio)

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