As ameaças de morte ao árbitro Luís Godinho, na sequência da arbitragem no Sp. Braga-FC Porto da Taça de Portugal, na quarta-feira, entraram para a triste contabilidade das queixas contra a integridade física dos árbitros. Segundo dados fornecidos ao DN pela APAF - Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, desde o início da temporada 2020-21 foram apresentadas oito queixas crimes nos tribunais por ofensas à integridade física de juízes de futebol. Desde 2016 foram 181, das quais resultaram cem condenações em tribunal..O número de queixas desta época não é comparável com outras, uma vez que o futebol amador e não profissional teve pouco jogos e os que se realizaram não tiveram público. Em 2019-20, o futebol amador e não profissional terminou em março devido à pandemia e a época acabou com 25 queixas, metade das registadas em 2018-19 (48), em 2017-18 (49) e 2016-17 (51)..O processo é simples. Quando os árbitros se sentem lesados pedem apoio à APAF, que reencaminha todas as solicitações para a sociedade de advogados que lhe presta apoio jurídico - a LSCN e Associados. Tudo que ponha em causa a integridade, a honra, a imagem e a dignidade dos árbitros e das suas famílias e que tenha matéria criminal é alvo de queixa e/ou processo-crime..O que acontece à maior parte? "Até ao momento todos os processos-crime de ofensa à integridade física, vulgo agressão, e que já terminaram, terminaram com condenação dos arguidos. Em nenhum dos processos os arguidos foram absolvidos. Em relação aos crimes específicos de injúria agravada e difamação agravada ainda não houve nenhuma condenação, apenas acusações, com julgamento marcado, e outros processos estão ainda em fase de investigação", explicou fonte da APAF ao DN..A maior parte dos processos crimes chegam a julgamento. Desde a época 2016-17 (os únicos dados existentes), aproximadamente cem processos a nível nacional resultaram em condenação dos arguidos..E já houve casos de agressões em que existiu prisão efetiva dos arguidos, penas essas confirmadas pelo Tribunal da Relação. Outros tiveram suspensão da pena de prisão, com condenação em multa de indemnizações que rondam sempre os €1500/2000 euros, ou mais no caso de agressões graves. Paralelamente, há muitos processos que terminam com a aplicação da sanção de interdição de entrada do arguido em qualquer recinto desportivo, aplicada pela Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD).."Felizmente", segundo a APAF, as ameaças de morte são raras - antes desta de Luís Godinho (e única de que há memória recente), tinha sido a de Bruno Paixão, em 2019 -, mas as que existem seguem os mesmos procedimentos de qualquer outro crime: "As pessoas têm de ser responsabilizadas pelos seus atos e pelas suas ações. Chegou a altura de dizer basta. A crítica aos árbitros é admissível desde que feita com a devida competência e instrução técnica. Mas ameaças, injúrias e difamação, jamais poderão ser consentidas por uma classe profissional que merece o total respeito.".Luciano Gonçalves, presidente da APAF, condena as ameaças recorrentes aos árbitros e reclama maior proteção, lembrando que "além das ameaças recorrentes" há uma constante "invasão do espaço pessoal dos árbitros". Ameaças como as recebidas por Luís Godinho após o Sp. Braga-FC Porto (1-1) "vão para lá do julgamento da competência dos árbitros e entram na esfera das pessoas, do ser humano, do homem". São dignas "de um país de terceiro mundo" e "acontecem repetidamente no nosso futebol"..Por isso, o líder da APAF vai solicitar uma reunião de caráter urgente ao governo e pede a intervenção dos responsáveis da arbitragem nacional. "É importante que expliquem qual é a indicação que existe para aqueles lances [Luis Díaz]. É importante que o público em geral perceba quais são as diretrizes que os árbitros recebem do Conselho de Arbitragem, do IFAB [International Board, órgão responsável pela revisão das regras do jogo], da FIFA e da UEFA", defendeu este responsável, que não entende a postura "inflamatória" dos líderes dos clubes..Só desde o início do ano, a APAF já denunciou e fez queixa do presidente do Sporting (Frederico Varandas), do treinador do FC Porto (Sérgio Conceição) e do capitão portista (Pepe), bem como do presidente do Boavista, Vítor Murta, entre muitos outros..A ameaça ao juiz alentejano após o Sp. Braga-FC Porto foi denunciada à Lusa por fonte do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol. O organismo lamentou que os contactos dos árbitros estejam "a ser disponibilizados nas redes sociais" - já não é a primeira vez que acontece -, lembrando que tal "constitui um incitamento à violência e um insuportável atentado à privacidade e à serenidade dos agentes de arbitragem"..O árbitro Luís Godinho e a sua família "receberam ameaças de morte durante toda a noite passada, logo após o jogo em Braga", entre o Sp. Braga e o FC Porto (1-1) na primeira mão da Taça de Portugal. As autoridades policiais foram de imediato avisadas e a viagem do árbitro de regresso a casa foi monitorizada..Godinho foi poupado nas nomeações para a 19.ª jornada da I Liga, a exemplo do que aconteceu há quatro dias com o árbitro inglês Mike Dean, que também havia recebido ameaças de morte online após uma polémica expulsão num jogo da Premier League. O juiz pediu para não ser designado para as próximas partidas, embora tenha apitado um jogo da Taça de Inglaterra na quarta-feira..Logo após o polémico jogo da Pedreira, na quarta-feira, Pinto da Costa veio apelar à serenidade dos adeptos e pedir que deixem de provocar o FC Porto, enumerando (aquilo a que chamou de "factos") os erros do VAR Hugo Miguel, em particular no lance que resultou na expulsão de Luis Díaz. Numa jogada dividida, o colombiano atingiu David Carmo, de forma involuntária, mas o central lesionou-se com gravidade..Enquanto o bracarense era assistido no relvado, o portista via o vermelho saindo em lágrimas depois de o árbitro lhe explicar a decisão. "Tu rematas à baliza, levas o pé esticado, é sem querer, mas partes-lhe o pé", explicou Luís Godinho ao futebolista dos dragões, uma conversa que foi captada pelos microfones colocados junto ao relvado..A revolta portista foi imediata e levou o juiz alentejano a explicar a Sérgio Conceição e demais os motivos que o levaram a mostrar o vermelho a Díaz. O jogo foi retomado e o árbitro ainda expulsou Uribe, após agressão a Esgaio, e Luís Gonçalves, dirigente dos portistas, por excessos nos protestos..E nem a Federação e a Liga escaparam à fúria dos adeptos. A Cidade do Futebol (Oeiras) e a sede da Liga Portugal, no Porto, amanheceram vandalizadas com pinturas nas paredes. "Não matem o futebol! A Liga é m****", escreveram no muro da sede da Liga.