Álvaro Santos Pereira: recapitalização da Caixa Geral de Depósitos pode elevar défice
O antigo ministro e atual economista na OCDE, Álvaro Santos Pereira, considerou hoje, em Paris, que se a Caixa Geral de Depósitos for recapitalizada, o défice de Portugal "será certamente acima dos 3%".
"As nossas previsões são que, tendo em conta um crescimento de 1,1%, 1,2% para este ano, estamos a falar de um défice a rondar 2,9% mais ou menos este ano. Se obviamente houver uma recapitalização dos bancos, nomeadamente a Caixa Geral de Depósitos, o défice será certamente acima dos 3%", declarou o diretor dos estudos nacionais no Departamento de Economia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Nas previsões económicas divulgadas hoje, a OCDE piorou a sua estimativa para o défice de Portugal, esperando agora que atinja os 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, quando em novembro antecipava um défice de 2,8%.
Assim, a OCDE está mais pessimista do que o Governo português, que mantém como meta para este ano um défice para 2,2% do PIB, e junta-se ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que também antecipa um défice de 2,9%, e à Comissão Europeia, que estima um défice de 2,7%.
A instituição também reviu em baixa as suas previsões do crescimento do PIB para 1,2% este ano e 1,3% em 2017, duvidando que a economia portuguesa cresça ao ritmo de 1,8% previsto pelo Governo para este ano e para o próximo, de acordo com as estimativas inscritas no Programa de Estabilidade 2016-2020, remetido a Bruxelas no final de abril.
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Álvaro Santos Pereira explicou que as perspetivas têm em conta "um crescimento muito fraco" de outros países "que tem implicações muito grandes para Portugal", indicando que "claramente a conjuntura global é difícil".
"Estamos a ter o pior crescimento de comércio mundial das últimas décadas, só houve cinco vezes nas últimas cinco décadas em que o crescimento do comércio mundial esteve abaixo dos 2%. Todos esses anos foram anos de recessão mundial. Nós não estamos a falar em recessão mundial mas estamos a falar de um abrandamento muito significativo", acrescentou o antigo ministro da Economia, classificando o valor de 2,1% da perspetiva de crescimento do comércio mundial como "um número muitíssimo baixo".
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Álvaro Santos Pereira disse ser "pessoalmente" contra qualquer tipo de sanções aplicadas a Portugal, justificando que "nenhum país da OCDE, muito menos nenhum país da Europa, fez reformas como Portugal fez entre 2011 e 2013".
"Sou totalmente contra qualquer tipo de sanções que sejam aplicadas a Portugal. Aliás, acho que seria vergonhoso se fossem aplicadas sanções a um país que fez os sacrifícios que Portugal fez e que fez as reformas que Portugal fez", declarou, defendendo que o país "tem que ser recompensado, não pode ser penalizado com sanções que são totalmente injustificadas nesta altura".
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