Nasceu numa cabana de madeira junto ao mar, num dos recantos mais paradisíacos do Brasil, mas o destino e o surf levaram Elohe Alvarez a fixar-se nas águas frias do Porto. E é na Invicta, mais propriamente em Matosinhos, que o surfista especialista em aéreos competirá, a partir de hoje, na segunda etapa da Liga Meo..A história de Elohe começa em Florianópolis, estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, há 27 anos. Uma história que antes de começar já tinha uma marca de rocambolesco e de diáspora: "Nasci em Floripa com o sonho de ser surfista. Bem, antes disso quis ser astronauta. Sou filho de um casal de uruguaios que emigrou para os EUA na adolescência e que quando tinham vinte e poucos anos rumaram ao Brasil, compraram uma montanha e aí se fixaram.".Leu bem: uma montanha. Mas Alvarez explica: "Naquela época, a terra era barata e os meus pais tinham juntado algum dinheiro. Parece estranho, mas foi assim, uma montanha perto da praia. Aí construíram umas cabanas de madeira e foi aí que eu nasci. Foi uma opção arriscada mas na época o Collor [de Mello] era presidente, o Brasil estava a atravessar uma fase complicada e havia trocas de bebés nos hospitais, pelo que os meus pais decidiram ter-me em casa.".Num cenário destes, é normal que o surf surgisse naturalmente. "A minha mãe conta que eu já surfava desde bebé. Pegava na prancha do meu pai, colocava no sofá e surfava nela. Ou então ia para a praia, apontava para as ondas e ali ficava eu, na areia, a surfar na minha cabeça", conta entre risos..Os companheiros de ondas foram quase todos surfistas profissionais, mas faltava uma oportunidade. Foi o que o levou a competir pelo Uruguai e a fazer o circuito latino-americano pro júnior, passando alguns anos na Florida, mais propriamente em Miami..O talento chamou a atenção de patrocinadores, nomeadamente de uma marca peruana. Um apoio que lhe permitiu fazer uma carreira de free surfer profissional. "Acompanhava as etapas do World Tour e fazia fotos e filmes para o patrocinador. Era ótimo porque me permitia viajar e acompanhar os melhores surfistas do mundo e evoluir. Ficava três meses em Teahupoo [Taiti], o tubo mais perfeito do mundo, e mais três meses em Pipeline, no Havai. E assim construí a base do meu surf", conta..Uma vida de sonho, mas que também cobrava uma fatura elevada: "Era viver o sonho do surf, mas também era trabalho. Estava obrigado a ter a foto ou o vídeo a tempo e com qualidade, e as viagens eram boas mas chega uma altura em que você está desgastado.".Chegou a crise e o crash da indústria do surf, com a consequência mais direta no corte de muitos patrocínios e carreiras. E Elohe optou por se radicar em Portugal: "Ainda tinha alguns patrocínios, mas já não tinha condições para viajar. Conhecia Portugal das vezes que tinha vindo a Peniche para o Mundial e tinha feito cá alguns amigos, como o Nic von Rupp ou o fotógrafo Tomané, grande figura do surf nacional. Por isso, sabia que o país tinha boas ondas e era uma boa ponte aérea para alguns sítios estratégicos.".Mas e a opção pelo Porto? "Fui recebido de braços abertos e a cidade é mais cool, as pessoas mais calorosas. Aqui fiquei, casei, tive uma filha e vesti a camisola. Hoje sou portuense!" Assim, aos passaportes uruguaio, brasileiro e americano juntou o português (está em vias de concluir processo) e a surfar em Portugal. E, no caso, a competir na Liga Meo: "Não estive na primeira etapa porque estava a surfar no Brasil, mas gosto muito da Liga Meo. Adoro surfar com os melhores e só tenho essa oportunidade quando o mar está grande e clássico e nos encontramos na água, ou então na Liga Meo. É assim que sinto o surf e é assim que evoluo. E estou ansioso para o fazer na minha cidade do Porto."