Alta costura em Paris. De novo com espectadores

Ainda é cedo para dizer que tudo voltou "ao normal", mas, por estes dias, a capital francesa revive o frenesim dos desfiles com público na semana da alta-costura. Dior já mostrou ao que vem, ao vivo e em pessoa. Chanel também.
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Peças básicas na sua maioria, mas únicas, muito perfeitas e pondo em evidência o talento da manufatura deram o tom à coleção que a diretora artística da casa Dior, Maria Grazia Chiuri, quis mostrar esta segunda-feira, primeiro de quatro dias da semana de Alta-Costura de Paris, e, no seu caso, um regresso aos desfiles ao vivo. Este foi o primeiro pós-pandemia (se é que já se pode falar assim).

Mais uma vez, e como tem vindo a fazer desde que tomou conta da maison fundada em 1946 por Christian Dior, a designer italiana manteve-se fiel ao propósito de unir arte e moda, com uma perspetiva histórica (do mundo e do criador da marca Dior). Para isso, Chiuri convocou a artista Eva Jospin, conhecida pelas suas esculturas de cartão de grandes dimensões (e filha do antigo primeiro-ministro francês Lionel Jospiin) para criar uma "câmara de seda", uma série de telas bordadas, evocando a natureza, que ocupavam as paredes da sala retangular do Museu Rodin, com bancos corridos ao centro, onde aconteceu o desfile.

Em contraste com os últimos "shows", em que tirou o máximo partido da bidimensionalidade do vídeo, nesta coleção de alta costura Maria Grazia Chiuri pôs a tónica em tecidos que não é preciso tocar para adivinhar texturas rugosas, macias ou fortes. Viram-se lãs, tweed,, grafismos conseguidos pela combinação de tecidos e bordados (como nas telas de Eva Jospin) e nos vestidos, longos e com pregas, alças muito finas. A paleta Dior para o próximo outono-inverno é feita de tons nude e cinzentos, pontualmente animada com estampados florais, carmins, amarelos e verdes.

Esta terça-feira, outro desfile muito esperado: Chanel - também com público, também apenas acessível com convite. Desta vez, a casa trocou o Grand Palais pelo Palais Galliera, a casa do Museu da Moda de Paris, de que a Chanel é o principal financiador (e onde foi realizada a exposição retrospetiva Gabrielle Chanel - Um Manifesto de Moda.

Virginie Viard, herdeira de Karl Lagerfel e seu antigo braço direito, apresentou37 looks Chanel no centro do palácio, ao ar livre, e sob as suas arcadas. Como é devido quando se trata da semana dedicada à Alta Costura, uma guilda onde poucos têm assento, o diabo está nos detalhes - execução impecável, materiais nobres e inovação no design. Neste caso, Virginie Viard refrescou peças clássicas como o casaco marinheiro criado pela própria Coco Chanel (em exposição no Palais Galliera), deu altura às saias de folhos e combinou-as com os casacos. Manteve-se, ainda assim, o sapato branco com a ponta negra.

A julgar por Dior e Chanel, tweed será obrigatório na próxima estação fria. A reviravolta de Viard é a combinação com cores pasteis que, já o disse a Vogue, transportam estes materiais para paisagens pintadas por impressionistas.

Numa combinação entre espetáculos ao vivo e livestreaming, a semana da Alta Costura começou à distância com a maison Schiaparelli e Giambattista Valli. Até sexta-feira, o público, em Paris ou à distância, poderá ver desfiles de Julien Fournié, Zuhair Murad, Iris Van Herpen, Giorgio Armani, Jean-Paul Gaultier e Fendi.

Uma das grandes atrações desta edição é a presença de Balenciaga, a primeira de alta costura em mais de 50 anos, mas a grande notícia é o desfile da Pyer Moss, cujo fundador se tornará no primeiro designer afro-americano da semana da Alta Costura de Paris. O desfile, o último da semana, será na antiga casa e Madam C.J. Walker, em Irvington, Nova Iorque, via live streaming. uma escolha simbólica. Walker, nascida em 1867, é uma empreendedora e ativista negra que abriu caminho nos negócios graças a uma linha de produtos de beleza destinados a mulheres negras.

lina.santos@dn.pt

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