Almaraz: Eurodeputado alerta para segundo adiamento do encerramento da central

José Inácio Faria acusa Governo espanhol de adiar encerramento da central nuclear de Almaraz, desta vez diferindo a desativação dos dois reatores para 2027 e 2028, mais oito anos do que o inicialmente previsto.
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O eurodeputado José Inácio Faria questionou a Comissão Europeia (CE) sobre o segundo adiamento do encerramento da central nuclear de Almaraz e os riscos de segurança do programa nuclear espanhol com impacto em Portugal.

No documento, a que a agência Lusa teve hoje acesso, o eurodeputado português reage, após o anúncio do Governo espanhol, de voltar a adiar o encerramento da central nuclear de Almaraz, desta vez diferindo a desativação dos dois reatores para 2027 e 2028, ou seja, por mais oito anos do que o inicialmente previsto.

Em novembro passado, o Governo espanhol anunciou que pretendia começar a encerrar as centrais nucleares do país à medida que estas cumpram 40 anos de atividade, prevendo que um dos reatores da de Almaraz seja desligado em setembro de 2023 e o outro em julho de 2024.

O secretário de Estado da Energia espanhol, José Domínguez, tinha anunciado que Madrid não deveria prorrogar as licenças para as centrais nucleares quando estas atingirem os 40 anos de vida útil, pelo que os sete reatores que estão a funcionar seriam desligados entre 2023 e 2028.

Já a 29 de janeiro soube-se que a central nuclear de Almaraz teria o seu fecho adiado, pelo menos, mais seis anos, de 2024 para 2030, segundo o jornal Cinco Días. Segundo fontes conhecedoras do processo, citadas pelo jornal, o governo espanhol terá chegado a acordo com as principais empresas elétricas para um encerramento ordenado das centrais nucleares entre 2025 e 2035.

José Inácio Faria considera grave o facto de o Estado espanhol ter em mãos o início de um procedimento de infração movido pela Comissão Europeia, por ainda não ter transposto a Diretiva (UE) 2014/87, que faz alterações importantes ao quadro comunitário para a segurança nuclear das instalações nucleares.

O eurodeputado do MPT aponta ainda, como agravante, o facto de após ter sido rejeitada, por contestação popular, a opção de se criar um aterro na meseta ibérica central, "que se arrisque a que o armazém de resíduos nucleares espanhóis em Almaraz passe de provisório a definitivo", uma opção que considera, a todos os títulos, "indesejável pelo risco sísmico e pela proximidade ao curso de água".

"Em 2020, caduca a vida útil deste tipo de central, mas o Governo espanhol tem mantido e estendido a operação para lá do desejável", sustenta Inácio Faria.

A central de Almaraz está situada junto ao rio Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.

O eurodeputado realça que a central está em operação desde 1981 (operação comercial desde 1983) e que está implantada em zona de risco sísmico e apenas a 110 quilómetros em linha reta da fronteira portuguesa.

"A central tem um sistema de refrigeração aberto para a albufeira de Arrocampo, que debita diretamente no rio Tejo, sem nunca se ter feito uma avaliação de impacto ambiental nem existir um plano de emergência transfronteiriço", sublinha.

José Inácio faria mantém-se convicto de que é necessário defender os cidadãos em risco, exigindo o encerramento no período de vida útil.

Defende ainda que, a manter-se o atual quadro temporal, "será essencial um estudo de impacto ambiental e um plano de emergência transfronteiriço, já que tais medidas são inexistentes até aos dias de hoje", conclui.

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