Ainda sem acordo com BE, Medina atira aos comunistas

Presidente da Câmara tomou ontem posse para um novo mandato sem maioria no executivo e ainda sem parceiro para os entendimentos necessários à governação da cidade.
Publicado a
Atualizado a

O número de casas a disponibilizar em regime de renda acessível, a forma de financiamento do programa e a extensão da rede do metropolitano de Lisboa são as grandes questões que estão a emperrar as negociações entre socialistas e bloquistas. Fernando Medina tomou ontem posse como presidente eleito da autarquia lisboeta ainda sem acordo com o BE. E uma porta fechada pelo PCP, que não escapou às críticas do autarca da capital.

"Tomei a iniciativa do diálogo político à esquerda. Infelizmente o PCP não se mostrou disponível para um acordo mais permanente de governação da cidade", referiu Fernando Medina, sustentando que a atitude que os comunistas assumiram agora contraria o discurso do partido durante a campanha eleitoral. "Creio que terá desiludido muitos dos eleitores que votaram no PCP nestas eleições, porque muitos ouviram da candidatura uma disponibilidade para o compromisso", sublinhou o autarca, dizendo lembrar-se de ouvir ao PCP que "nos locais em que é poder tem sempre a disponibilidade para partilhar pelouros, dando a entender que também o faria" no caso de Lisboa. "Creio que há eleitores que se podem sentir desiludidos com esta posição", rematou o presidente da autarquia, resumindo assim a recetividade dos comunistas: "Não houve negociação, o PCP entendeu que não deveria ter um acordo permanente".

Uma interpretação do discurso do PCP que Carlos Moura, vereador comunista que ontem também tomou posse, contesta: "Não sei de onde é que o presidente da câmara tirou a leitura de que estávamos disponíveis para fazer um acordo de governação da cidade", afirmou ao DN. Para Carlos Moura é até estranho que Medina "possa achar que os eleitores votaram no PCP para que fosse apoiar acriticamente o PS". "Se assim fosse", acrescenta, "teriam votado no PS, o senhor presidente da câmara teria conseguido a maioria absoluta e não estaria agora dependente dos dois vereadores do PCP".

Já o BE "mostrou disponibilidade para discutir", disse ontem Medina, e é isso que ambos os lados têm vindo a fazer, ainda sem resultados concretos. As grandes questões que estão a travar um entendimento passam pela habitação e transportes - dois pontos centrais quer do programa do BE quer do PS. Mas com pontos de partida distintos e que ainda não se encontraram. Em relação à habitação, a divergência mantém-se quanto ao número de fogos a disponibilizar no regime de renda acessível, e ao financiamento desse programa, que os bloquistas querem que seja exclusivamente público. Já nos transportes, a grande divergência prende-se com a extensão da rede do Metropolitano, que nos planos do governo (que Medina apoia) deve passar a ser uma rede circular, enquanto os bloquistas querem a extensão até Belém. Muito embora esta seja uma matéria de decisão do governo, o BE acredita que a oposição da câmara de Lisboa faria travar o projeto.

Já quanto a eventuais acordos à direita, Medina negou que tenha havido qualquer tentativa de entendimento para um acordo.

Medina promete mais elétricos

No discurso de tomada de posse dos eleitos para a Assembleia Municipal e para a Câmara de Lisboa, Fernando Medina prometeu avançar já no primeiro semestre de 2018 com o concurso para a construção dos primeiros seis centros de saúde dos 14 que prometeu durante a campanha eleitoral. E avançou com uma outra promessa, na área dos transportes: comprar "30 novos elétricos, tendo em vista a extensão do 15 a Santa Apolónia, a recuperação do 24 entre o Cais do Sodré e Campolide e o início de uma nova fase de expansão da rede na cidade".

Como já fizera no discurso do 5 de Outubro, Medina voltou a referir-se à descentralização para defender que "este é o tempo de o Estado fechar" este dossier. Com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, sentado na primeira fila da assistência, Medina defendeu que "as cidades do Porto e Lisboa enfrentam hoje muitos desafios comuns", a "começar no combate ao centralismo" - "Obrigado Rui, pela tua presença. Vamos trabalhar juntos".

Acordo à vista em Almada

Em Almada, a socialista Inês de Medeiros dirigiu convites aos vereadores eleitos de todas as forças políticas para assumirem pelouros, apurou o DN. Até amanhã, dia em que tomam posse os órgãos autárquicos no município, a distribuição desses pelouros deve estar concluída entre os quatro eleitos socialistas, os quatro do PCP/PEV, os dois do PSD e a do BE.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt