"Ontem assistimos a um banqueiro português a rir-se das pessoas"

Marisa Matias, numa ação eleitoral em Amarante, defendeu o fim dos offshore, maior regulação e justiça, não deixando de referir a prestação de Joe Berardo, na véspera, na II Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da CGD
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Marisa Matias afirmou este sábado, no mercado de Amarante, no contexto da campanha para as europeias de 26 de maio, que existe um descontentamento profundo entre os cidadãos europeus e que isso advém de uma falta de resposta para os problemas reais das pessoas e também, deu como exemplo, da falta de justiça em casos flagrantes relacionados com banqueiros.

"As pessoas percebem claramente os problemas que estamos a enfrentar na União Europeia, percebem as injustiças continuam a existir, percebem que ainda não há respostas para aquilo que são as suas necessidades mais básicas. Eu acho que à medida que o tempo vai passando, essa dimensão de injustiça se vai tornando mais clara", declarou aos jornalistas, num dia em que andou a distribuir panfletos e a contactar com a população local.

"Nós ainda ontem assistimos, infelizmente, a um banqueiro português literalmente a rir-se das pessoas. Isso tem muito a ver, não apenas com o que se passa em Portugal, mas também com o que se passa em Bruxelas. Nós tivemos nos últimos anos e, sobretudo desde a crise financeira em 2008, mais de 30% do PIB europeu a ser injetado em operações de recapitalização da banca ou de limpeza de ativos tóxicos. As pessoas têm perceção disso. Obviamente isto não é apenas uma questão de regulação, é também uma questão de justiça, mas a regulação tem que ajudar à justiça", declarou a eurodeputada do Bloco de Esquerda, de 43 anos, referindo-se às declarações feitas, na sexta-feira, por Joe Berardo perante os deputados na II Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos.

"Eu pessoalmente não tenho dívidas. Claro que não tenho dívidas", disse Berardo. O empresário tinha explicado que nunca iria dar avales pessoais para financiamentos com o objetivo de investir em ações. No entanto, em 2008 o empresário deu títulos da Associação Coleção Berardo como garantia. Mas diz que não vai abdicar das obras de arte. "Nunca ia dar a coleção que faz parte da minha vida", disse Berardo. Segundo uma versão preliminar da auditoria da EY, a Fundação Berardo e a Metalgest deviam, no final de 2015, um total de 320 milhões à CGD. Desse montante, o banco público tinha assumido perdas superiores a 152 milhões de euros. Berardo é ainda um dos grandes devedores do BCP e do Novo Banco, com empréstimos próximos de cerca de 960 milhões de euros. Esses bancos deram ordem para executar bens do madeirense e de empresas relacionadas com o mesmo.

Em Amarante, distrito do Porto, a cabeça de lista dos bloquistas insistiu bastante na necessidade de se fazer justiça: "Nós ainda não vimos nenhum banqueiro ser condenado em nenhum destes processos. Mas, como disse, temos que ajudar a que a justiça funcione nestes domínios, o fundamental é a regulação, neste caso, para extinguir os offshore, que é o que permite que toda a gente possa fazer com o seu dinheiro o que bem entender, não pagar os impostos onde deve, não estar a contribuir para as contas públicas e para a sua consolidação e estar a ser possível todo o tipo de esquemas que permitem a corrupção e isso é uma questão de regulação que pode ajudar a justiça a funcionar. E o que nós vimos nos últimos anos foi, de facto, falta de regulação".

Marisa Matias, socióloga de formação, foi eleita pela primeira vez para o Parlamento Europeu em 2009. Nas europeias de 2014, foi a única eurodeputada eleita pelo Bloco de Esquerda, com 4,56% dos votos. Agora, neste escrutínio, procura um terceiro mandato como deputada portuguesa na eurocâmara. Nesta legislatura de 2019-2024, Portugal tem direito a eleger o mesmo número de eurodeputados que já tinha, ou seja, 21.

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