Agora sem Joacine, o que vai fazer o Livre?
O Livre não quer renovar o chamado "acordo coligatório" que tem com o PS na Câmara Municipal de Lisboa. O acordo permite ao partido fundado por Rui Tavares em 2013 ter dois deputados municipais e representação nas juntas de freguesia da Estrela e do Areeiro.
Para o partido, a prioridade em Lisboa é, agora, tentar uma coligação formal com o PS - algo, portanto, que lhe permita aparecer no boletim de voto. No caso de o PS não aceitar, o Livre desligar-se-á dos socialistas.
Os dirigentes do partido contam com a necessidade dos socialistas para impor essa solução. Das autárquicas de 2013, com António Costa como candidato, para as de 2017, já com Fernando Medina, o PS perdeu oito pontos percentuais, passando de 50,9% para 42%.
Ao todo, menos dez mil votos (de 116,4 mil para 106 mil). Mas, mais grave que tudo para o PS, a diferença entre uma maioria absoluta de 11 eleitos no executivo camarário e, agora, uma maioria relativa de oito, que só sobrevive por causa de um acordo pós-eleitoral com o Bloco de Esquerda (um vereador).
Lisboa é, historicamente, a praça-forte do Livre. Dito de outra forma: os resultados do partido na capital são sempre (bastante) melhores do que os nacionais.
Nas Europeias de 2014 - as primeiras eleições em que o partido foi a votos -, a diferença foi de 2,18% (resultado global) para 5,32% (cidade de Lisboa).
Nas legislativas de 2015, os resultados variaram entre 0,73% (nacional) e 2% (Lisboa cidade).
Depois, em novas Europeias, em junho do ano passado, a diferença foi de 1,83% para 4,45%. Nas legislativas de outubro passado - que deram ao partido, pela primeira vez, representação parlamentar, com a eleição de Joacine Katar Moreira - o resultado nacional foi de 1,09% e o na capital de 3,26%.
Antes das autárquicas (outubro de 2021) há porém eleições regionais nos Açores (outubro próximo) e depois presidenciais (janeiro de 2021).
O Livre quer ter pela primeira vez candidatura nos Açores. Mas também vai lutar para que, nas presidenciais, surja "uma candidatura que dê prioridade aos princípios do nosso partido, assente nos quatro pilares das liberdades e direitos cívicos; da igualdade e da justiça social; do aprofundamento da democracia em Portugal e da construção de uma democracia europeia; bem como - e é importante salientar isto - da ecologia, da sustentabilidade e da solidariedade intergeracional".
"Só apoiaremos uma candidatura que acredite, como nós, que os direitos humanos são a base para um futuro melhor para todos e uma bitola na ação portuguesa na ordem internacional, que recuse a mercantilização do humano e que acredite que é através do ecossocialismo que o verdadeiro desenvolvimento existe" e que "tenha na defesa [do Estado social] um dos pilares fundamentais bem como na defesa do conhecimento, da educação e da cultura como motores de desenvolvimento humano e nacional", lê-se, na moção de estratégia aprovada no último congresso nacional.
Tendo em vista as autárquicas, o partido irá procurar reforçar a sua rede local. Estas eleições representam, segundo a dita moção estratégica, "um desafio de particular envergadura" para o partido. As opções admitidas são várias: "A apresentação de candidaturas próprias, apoio formal a candidaturas de outros partidos ou movimentos de cidadãos, ou pela participação do partido em coligações eleitorais com outros partidos progressistas."
E "a definição destas estratégias deverá ser, necessariamente, articulada entre os órgãos nacionais e os Núcleos Territoriais, avaliando as dinâmicas e realidades locais", sendo que "a experiência dos atuais eleitos do Livre em órgãos autárquicos será particularmente relevante na preparação destas eleições".
Na atualidade nacional, o Livre irá agora procurar não perder de todo o palco que a eleição de uma deputada - agora perdida - deu ao partido. Isso será feito pela manifestação permanente de posição sobre os temas que a agenda parlamentar for colocando na atualidade. Mas toda a gente na direção sabe que nada será como dantes, agora que Joacine Katar Moreira passou a deputada não inscrita, recusando renunciar ao mandato.