Agora são os romenos em fúria com o Charlie Hebdo
Três anos e meio depois de meio mundo ter proclamado "Je suis Charlie" há quem não tenha compreendido o que é o Charlie Hebdo. O semanário satírico, caracterizado por não fazer concessões nem alinhar no politicamente correto, continua a colecionar ódios. À lista de judeus, muçulmanos, católicos ou nacionalistas irritados com o humor insolente juntam-se os romenos.
No mais recente número do Charlie Hebdo a capa é dedicada ao campeonato do mundo de futebol, com um cartoon de um ameaçador Vladimir Putin, no topo de um tanque, a ameaçar um guarda-redes.
A controvérsia estalou, porém, com o cartoon à número um do ténis mundial, Simona Halep. À legenda "Uma romena venceu Roland Garros", a vencedora brande a taça conquistada no dia 9 e exclama "Ferro-velho! Ferro-velho!". Uma alusão aos ciganos que percorrem França à cata de sucata.
O desenho, assinado por Felix, recebeu centenas de protestos na página do Facebook da publicação humorística. Vários meios de comunicação romenos criticaram o conteúdo, apelidado de "racista".
"Ofende os ciganos, os romenos e Simona Halep", disse o comentador Cristian Tudor Popescu no canal Digi24. A associação dos romenos à minoria cigana é um tema particularmente sensível no país balcânico.
Nem todos os romenos reagiram de forma temperamental. O periódico humorístico Times New Roman reportou que na última edição do Charlie Hebdo "publicaram uma caricatura que retrata a mulher do presidente francês, Brigitte Macron, depois de ter roubado o troféu a Simona Halep".
A embaixada francesa em Bucareste emitiu hoje um comunicado no qual recorda que "esta publicação só vincula o seu autor e não representa o sentimento da opinião pública francesa". A embaixadora Michèle Ramis sublinhou também que "a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são princípios fundamentais da república francesa".
A anterior onda de indignação internacional contra o Charlie Hebdo deu-se após o furacão Harvey: na capa, sob o título "Deus existe!", um cartoon com bandeiras nazis e mãos a submergir, e para que não restem dúvidas: "Ele afogou todos os neonazis do Texas!".
Em agosto de 2017 o furacão causou 37 mortos e obrigou milhares de pessoas a procurarem refúgio.
Em janeiro de 2015 dois terroristas entraram na redação do Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas. Em 2011, na sequência a publicação de caricaturas de Maomé, a anterior sede foi destruída por um ataque à bomba.