Agitação no PSD. Rangel pressionado se Rio não avançar e Cavaco entra no jogo

O eurodeputado está a ser pressionado pelas alas próximas de Rui Rio para avançar com candidatura à liderança do PSD caso o atual presidente acabe mesmo por atirar a toalha ao chão. Cavaco avançou já com o nome de uma passista, Maria Luís Albuquerque.
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A guerra pela conquista da liderança no partido já começou e os telemóveis não param de tocar. As pressões e o contar de espingardas estão em curso. Paulo Rangel, que está em Bruxelas, irá refletir sobre este apelo para comparecer - o que também aconteceu nas diretas que opuseram Rui Rio a Pedro Santana Lopes. Em qualquer caso, o eurodeputado só avançará, caso assim decida, se Rio não for a jogo. A pesar nesta equação está o mau resultado que conseguiu nas recentes eleições europeias, de 21,94% dos votos, e que poderá ser explorado pelos adversários.

Jorge Moreira da Silva, antigo conselheiro de Cavaco e que está a trabalhar na OCDE, também poderá posicionar-se se o atual presidente do partido entender que não tem condições para continuar.

Mas os que já decidiram entrar na corrida à liderança - Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz - preferem só avançar depois de Rui Rio clarificar se se recandidata ou não à liderança.

Fonte do PSD afirmou ao DN que Luís Montenegro vai nesta quarta-feira, durante a entrevista que dará à SIC, reafirmar a sua intenção de ser candidato quando houver eleições no PSD. Montenegro tem agendado um jantar para sexta-feira, em Espinho, com cerca de 400 militantes sociais-democratas, para celebrar os 10 anos da vitória autárquica do PSD sobre o PS.

Montenegro esteve sempre nos bastidores, sem qualquer ação de contravapor à campanha de Rui Rio, mas à espera de um desaire eleitoral. "Ainda maior do que aconteceu, mas a derrota foi clara", afirma ao DN um dos seus apoiantes. E, poucas horas depois, das suas fileiras saíram as primeiras defesas de eleições diretas pelas vozes do ex-deputado Luís Menezes, do presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, e do líder da distrital de Santarém, João Moura.

Entre os candidatos à liderança do PSD poderá ainda emergir Miguel Morgado, ex-assessor de Pedro Passos Coelho, que responsabilizou diretamente Rui Rio pelo resultado desastroso nestas eleições legislativas, mas recusou-se a anunciar, para já, uma candidatura.

O tiro de Cavaco

Quem entrou de sopetão neste momento em que se contam espingardas no partido foi o antigo líder Aníbal Cavaco Silva. O ex-Presidente da República, em declarações à Lusa, manifestou-se "triste" com o resultado do PSD e diz que é urgente mobilizar os militantes que se afastaram ou foram afastados, apontando a ex-ministra Maria Luís Albuquerque. Uma intervenção rara e um sinal que é visto no PSD como o tirar o tapete a Rui Rio.

"Como social-democrata com fortes ligações à história do PSD, o resultado obtido pelo partido não pode deixar de me entristecer", afirmou Cavaco Silva, numa declaração escrita, após questionado pela Lusa sobre os resultados das legislativas de domingo.

Para o ex-Chefe do Estado, "a tarefa mais importante e urgente que o PSD tem agora à sua frente é a de reconstruir a unidade do partido e de mobilizar os seus militantes" e trazer "ao debate das ideias e ao esclarecimento e combate político os militantes que, por razões que agora não interessa discutir, se afastaram ou foram afastados".

"Como é o caso de Maria Luís Albuquerque, uma das mulheres com maior capacidade de intervenção que conheci durante o meu tempo de Presidente, e muitos outros", apontou.

Esta declaração do antigo líder do PSD, que sempre evitou pronunciar-se publicamente sobre os processos de sucessão no partido, está a ser lida como o tirar o tapete a Rui Rio, de quem foi apoiante há dois anos. "Esta declaração deve custar muito a Rio, porque muitos dos seus apoiantes ainda são da ala cavaquista", disse ao DN uma fonte social-democrata.

As distritais posicionam-se

As distritais do PSD também começam a posicionar-se. Mas há quem ainda se mantenha numa posição neutra e apele ao líder do partido para que analise com as estruturas locais, como a de Portalegre, liderada por António José Miranda, os resultados eleitorais que deram ao PSD 27,9% dos votos.

Devido aos resultados do PSD nas eleições legislativas de domingo, "defendo, em primeiro lugar, que seria interessante que a Comissão Política Nacional [do partido], nomeadamente [o presidente] Rui Rio, se reunisse com todas as distritais, como fez no início da preparação da campanha eleitoral", disse António José Miranda, em declarações à agência Lusa.

Segundo o dirigente do PSD/Portalegre, "seria bom todos os presidentes das distritais, frente a frente com o líder do partido, dizerem aquilo que pensam, o que é que correu bem e mal e só depois dessa reunião pensar-se num possível congresso, se assim se entender".

Questionado pela Lusa sobe se Rui Rio deve continuar a liderar o PSD ou demitir-se, António José Miranda disse que "entende" que "terá de ser Rui Rio a tomar essa decisão depois de ouvidas as distritais".

"A Comissão Política Nacional do PSD terá também de fazer essa reflexão, não deverá ser uma decisão precipitada, há alguns militantes que estão a perfilar-se para a liderança do partido, mas neste momento a distrital de Portalegre do PSD não tem qualquer opinião sobre isso", acrescentou.

António José Miranda defendeu que "todo o PSD deve pensar naquilo que deve ser o futuro do partido", mas "com muita serenidade e muita calma, porque o PSD tem andado de uma forma muito agitada e isso não o tem beneficiado".

Notícia atualizada às 21.45 de dia 8 out. com a informação do provável anúncio da candidatura de Montenegro nesta quarta-feira

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