O AC Monza é um mini-AC Milan que sonha chegar à série A. O clube da cidade localizada a cerca de 20 quilómetros a nordeste de Milão, mais conhecida por acolher os bólides da F1 do que as estrelas de futebol, ganhou nova vida e ambição quando em 2018 foi comprado por Silvio Berlusconi. O antigo primeiro-ministro italiano (cumpriu três mandatos de 1994 a 2011) que foi dono do Milan e chegou a ganhar cinco Ligas dos Campeões e oito scudettos, entre 1986 e 2017, investiu no pequeno clube da série C do calcio com o objetivo de chegar à Série A e fazer história. Nunca o emblema da Lombardia esteve na primeira divisão italiana desde que foi formado em 1912 (108 anos). Há quem desconfie das intenções de Berlusconi - comprou o clube 18 meses depois de vender o Milan por 740 milhões de euros ao investidor chinês da Sport Investment Lux -, mas os resultados falam por ele. Apesar de a pandemia ter paralisado os campeonatos secundários em Itália, o Monza foi premiado com a subida à Série B na secretaria pela primeira vez em 19 anos. Para quem já venceu a Champions, subir ao escalão secundário do futebol italiano não foi menos festejado. "Fiz um brinde em casa com a minha filha, já que não podemos ter nenhuma comemoração pública no momento. O mérito é dos jogadores, treinadores e dirigentes, e também um pouco de mim mesmo", contou o humilde ex-presidente rossoneri, numa entrevista ao jornal local Cittadino di Monza..A promoção à Série A poderá assim ser alcançada apenas três anos depois de Berlusconi ter adquirido o clube. E tudo começou numa conversa de café entre o ex-presidente do Milan e o amigo e braço direito no clube rossoneri durante 27 anos, Adriano Galliani, que nasceu em Monza e tem uma ligação forte à cidade natal. "Num dos nossos cafés da manhã em Arcore, sussurrei-lhe que a família Colombo estava a vender o clube. Ao almoço lançou o assunto para a mesa entre alguns convidados. Eu fiquei em silêncio até que ele se virou para mim e disse 'Adriano, vai e faz'", contou Galliani, que fechou o negócio pouco depois por três milhões de euros..Uma das primeiras medidas de Berlusconi foi mudar o nome ao clube e torná-lo mais parecido com o seu ex- AC Milan. Fundado em 1912, após a fusão do Pro Monza e do Pro Italia, no Caffè Pasticceria Roma, em Monza, em 2019 deixou de ser Società Sportiva e Dilettantistica Monza 1912 para se chamar Associazione Calcio Monza (AC Monza)..Um português na equipa: Dany Mota.Logo no primeiro ano foi preciso investir dez milhões de euros para melhorar as instalações, principalmente no Estádio Brianteo, e já há uma plano para atacar a subida à série A com um investimento de 30 milhões de euros. Um orçamento que faz inveja a muito bom clube em Itália e até na I Liga portuguesa. "Não estamos aqui para nos esconder, queremos levar o Monza à Série A", insistiu Galliani, que aceitou ser o manda-chuva do clube e chamou mais ex-Milan para o projeto. O técnico é Cristian Brocchi, um ex-jogador e treinador do AC Milan, contratado depois de o novo dono do Monza despedir o treinador que estava no cargo desde 2006. Com um projeto assente na formação e prospeção juvenil, o emblema da Lombardia presidido pelo irmão do ex-primeiro-ministro italiano, Paolo Berlusconi, quer descobrir jovens talentos e transformá-los em grandes jogadores. Isto sem esquecer que é preciso uma ou outra estrela para dar brilho e notoriedade mediática à equipa. Galliani tentou tirar Kaká da reforma e convencer Ibrahimovic a reformar-se em Monza, mas falhou o objetivo. Apesar disso e do limite orçamental, o sueco de 38 anos tem alimentado a novela. O novo sonho de Berlusconi é agora Giovinco, a "formiga atómica" de 33 anos, que joga no Al-Hilal Saudi Football Club. Com a temporada da Serie B marcada para começar no final de setembro, os biancorossi (equipam de vermelho e branco) estão em vias de garantir Carlos Augusto do Corinthians e já contrataram o croata Mirko Maric do Osijek, assim como o goleador da liga polaca, o dinamarquês Christian Gytkjaer do Lech Poznan, além de Giulio Donati (Lecce) e Antonino Barilla (Parma). Em janeiro garantiu o português Dany Mota por empréstimo da Juventus. O internacional Sub-21 por Portugal nasceu no Luxemburgo, mas foi na terceira divisão italiana, ao serviço do Virtus Entella, que se deu a conhecer ao futebol, sendo depois contratado para os Sub-23 da vecchia signora..As últimas contratações já fogem ao jogador-tipo do Monza decretado pelo dono. "O Monza será uma equipa muito jovem, composta apenas por jogadores italianos, com cabelo bem arranjado, sem barba e sem tatuagens. Além disso, não poderão utilizar brincos. Serão exemplo pela sua personalidade, pois pedirão desculpa se fizerem faltas, tratarão o árbitro como cavalheiros e irão cumprimentar os adversários no final dos jogos", explicou Berlusconi, que definiu que os autógrafos têm de ser personalizados e não um "rabisco". Antes de a temporada 2020-21 começar, o Monza vai jogar um particular com o Milan no dia 5 de setembro. Um dia em que o coração do ex-primeiro ministro vai estar "dividido".