François Ozon não é o primeiro a transpor para a tela os romances negros de Ruth Rendell -Chabrol fê-lo com perfeição ritualística em A Cerimónia (1995), e também Almodóvar o experimentou no Em Carne Viva (1997). Evocar estes exemplos serve apenas para notar que a primeira virtude de Uma Nova Amiga reside na inteligente escolha narrativa, tomada numa adaptação livre de Ozon.
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E é extremamente difícil levantar o véu sobre o filme, estruturado na progressiva e aliciante descoberta, sem lhe roubar algo do clímax que surge pouco depois do início. Claire (Anaïs Demoustier) e Laura (Isild Le Besco) são as melhores amigas, com uma aura homoerótica a cobrir os parcos momentos que conhecemos dessa amizade. Mas a morte desta última, após a maternidade, vai deixar a porta aberta - literalmente - para o encontro com uma segunda realidade sexual, protagonizada pelo viúvo (Romain Duris).
Uma Nova Amiga chega às salas portuguesas com atraso - é de 2014 - e não deve ser penalizado por isso. Ozon deixa-nos verdadeiramente cativos da gradação do desejo e ambiguidade psicológica, com um adorno de fetichismo.
CLASSIFICAÇÃO: ****