A pop com causas de Melanie Martinez passa hoje por Portugal em concerto único
É conhecida pelo cabelo, sempre pintado a duas cores, mas reduzir Melanie Martinez a uma mera excentricidade capilar é no mínimo condescendente, tendo em conta o fenómeno pop em que esta jovem artista americana de apenas 24 anos se tornou. Ao contrário das suas madeixas bicromadas, a música da cantora nova-iorquina é feita de uma variada paleta de cores, resultante de influências tão díspares como Beatles, Feist, Zooey Deschanel, Regina Spektor, CocoRosie, Fiona Apple ou Ariana Grande.
À medida que crescia na pequena cidade de Baldwin, em Long Island, no estado de Nova Iorque, começou a alimentar o sonho de cantar, enquanto ouvia na rádio os êxitos de Christina Aguillera, Shakira ou Britney Spears. Desde cedo começou também a escrever, a pintar e a tocar guitarra, encontrando na arte um escape para "uma enorme sensibilidade" para a qual, segundo a própria, não tinha outra forma de se expressar, além das frequentes crises de choro que lhe valeram, entre os amigos e colegas de escola, a alcunha de Cry Baby (Bebé Chorão) - mais tarde também o nome do seu álbum de estreia.
Em 2012, com apenas 16 anos e numa altura em que já tinha assumido perante os pais, de origem dominicana e porto-riquenha, a sua bissexualidade,Melanie tentou a sorte no programa televisivo de talentos The Voice, onde convenceu os juízes com uma versão de Toxic, de Britney Spears. Tendo como mentor Adam Levine, vocalista dos Maroon 5, aguentou-se durante cinco semanas no programa, acabando excluída pelo voto do público. Estava no entanto lançada e dois anos depois estreou-se finalmente em nome próprio com o EP Dollhouse, que antecedeu o álbum de estreia Cry Baby, editado no verão de 2015.
Então ainda rotulado como pop alternativa, o disco, uma espécie de autobiografia fantasiada sobre a sua infância e adolescência, valeu-lhe comparações a Lorde ou Lana del Rey e recebeu críticas bastante positivas. Passado algum tempo, foi certificado com a marca de platina, equivalente a um milhão de unidades vendidas. Foi aliás durante a digressão de apresentação de Cry Baby que Melanie Martinez pela primeira vez atuou em Portugal, a 5 de novembro de 2016, com um concerto na Aula Magna, em Lisboa.
Apesar de todo o culto criado à sua volta pelos fãs, a cantora gosta de se assumir como "uma rapariga normal" e que, "de vez em quando", até bebe álcool e fuma erva. "Não quero que me vejam como uma rainha, mas sim como uma amiga, uma pessoa igual às outras", escreveu a dada altura nas redes sociais, numa mensagem dirigida aos fãs que a idolatram. A mesma normalidade que se preocupa em apregoar na sua música, com uma mensagem de respeito pela diferença e pela individualidade de cada um.
Talvez por isso tenha causado tanta controvérsia a acusação, por parte de uma antiga amiga, Timothy Heller, de que Melanie teria abusado sexualmente dela durante uma festa, aproveitando-se da sua exaustão, após terem fumado erva. O caso dividiu os fãs e a cantora chegou mesmo a receber ameaças de morte por parte de alguns. Outros, porém, acusaram Heller de se estar a aproveitar da ex-amiga para se autopromover, pois também ela tinha acabado de lançar um single de estreia como cantora. Melanie Martinez nunca negou o envolvimento com Timothy Heller, mas justificou o caso dizendo que nunca se envolveria com alguém sem o seu consentimento.
O caso parece ter ficado encerrado e os fãs apaziguados, como se viu pelas reações a K-12, o segundo disco de originais da cantora, lançado em setembro do ano passado. Nele, a cantora volta a reavivar a mesma personagem de Cry Baby, mas de uma forma muito mais ambiciosa, pois as músicas servem de banda sonora para um filme com o mesmo nome, realizado e protagonizado pela própria Melanie Martinez. É este trabalho que agora vem a apresentar a Portugal, num concerto único em Lisboa, mas desta vez num recinto muito maior, o Campo Pequeno, onde "irá apresentar uma produção teatral única", inspirada no universo de fantasia de K-12. E a exemplo dos restantes concertos da digressão, também em Lisboa parte da receita da bilheteira (um euro por cada ingresso vendido) reverterá a favor de uma organização de apoio à comunidade LGBTQ.
Melanie Martinez
Campo Pequeno, Lisboa. 21 de janeiro, terça-feira, 19h30. €25 a €40