Este fim de semana boa parte dos alunos da Academia de Música de Santa Cecília "mudou-se" para Mafra. É lá que o coro e a orquestra da escola vão dar um concerto que será transmitido na RTP nas vésperas do Natal. São 200 alunos dos vários ciclos de ensino, a pôr em prática o que aprendem ao longo do ano. A componente musical é uma vertente estruturante desta escola de ensino integrado que nos últimos anos ronda sempre os primeiros lugares do ranking das escolas e este ano volta a arrecadar o primeiro. Será a música a explicar os resultados?.Filipa Pacheco de Carvalho, que integra a estrutura de dois membros da direção, diz que a palavra-chave é "consistência" - "Tem muito a ver com a articulação dos ciclos. Temos os alunos desde muito novos, eles vão-se habituando ao ritmo de trabalho, a um rigor, a uma exigência que lhes fica colada à pele". E sim, a música tem alguma coisa a ver com isso, responde: "Eles vivem num mundo um pouco diferente daquilo que é habitual nas escolas, o contacto com os grandes compositores, com as obras musicais, tudo isso se transfere para o âmbito escolar geral... No fundo são alunos que fazem dois currículos"..Com 640 alunos, da infantil até ao 12º ano, "90% dos alunos do secundário andam na Academia desde pequenos". Logo nos primeiros anos, a par dos conceitos matemáticos, das bases da leitura e da escrita, "trabalham conceitos musicais", entrando mais tarde na aprendizagem formal da leitura e da escrita musical. O percurso estende-se pelo menos até ao terceiro ciclo: "No pré-escolar as turmas têm habitualmente 18 crianças, para a música vão em grupos de nove. Duas vezes por semana fazem este trabalho musical. Depois, no primeiro ciclo, juntam-lhe o Laboratório Instrumental onde, ao longo dos dois primeiros anos da primária, têm contacto com um instrumento de cordas, de teclas... passam semestralmente por instrumentos diferentes. O objetivo não é que toquem perfeitamente, é que o instrumento seja mais uma forma de transmitir a música. No terceiro e no quarto ano já fizeram a sua escolha, vão estudar individualmente um instrumento. A partir do quinto começam os cursos oficiais de música". Em paralelo seguem a componente académica normal, ou nem tanto: "Os professores tentam dar-lhes uma visão mais cultural e mais aberta das disciplinas". A música vai sendo levada tão longe quanto "a vontade e a capacidade que cada aluno for mostrando ao longo do tempo"..E o que tem esta componente musical a ver com o resultado dos alunos nos exames do ensino curricular? "É importante pelo ambiente que cria na escola. Por exemplo, eles percebem que sendo parte de uma orquestra ou de um coro, o trabalho do todo depende do trabalho individual. Se não se prepararem bem individualmente, o todo não funciona bem. A orquestra e coro são aprendizagens importantes nesse aspeto". Outro aspeto sublinhado pela responsável passa pela estabilidade do corpo docente e "a proximidade grande" entre professores e alunos..Filipa Pacheco de Carvalho diz que a liderança do ranking das escolas é um "ótimo sinal da consistência do ensino da Academia", mas também sublinha que "não se pode comparar realidades diferentes" - e elas existem no ranking. "Nós sabemos que os nossos alunos têm um nível sociocultural e económico alto".