"Alguém deveria dizer aos médicos anti-armas que se acham importantes para se manterem no lugar deles". Assim tuitou a Associação Nacional de Armas (NRA) norte-americana, na passada quarta-feira, depois de tomar conhecimento que metade dos artigos publicados na revista médica académica Annals of Internal Medicine iam contra a sua ideologia, apelando ao controlo de armas de fogo no país. A publicação gerou revolta e a resposta foi rápida e viral. Através do Twitter, vários médicos dos EUA decidiram responder à organização, contando as suas experiências no local de trabalho, e a hashtag #ThisIsOurLane ("este é o nosso lugar") nasceu..Histórias pessoais e fotografias de blocos operatórios salpicados de sangue encheram as redes sociais. Em entrevista à BBC, Dave Morris, médico norte-americano, e uma das vozes que se manifestaram contra o grupo NRA, disse que era necessário que as pessoas vissem a realidade que esta classe profissional vive diariamente, para que não se fique "preso nos velhos argumentos filosóficos sobre a violência com armas"..Na sua conta de Twitter, o cirurgião do Intermountain Medical Center partilhou uma fotografia onde mostra o seu uniforme profissional manchado de sangue, acompanhado da declaração "isto é o que significa ficar no meu lugar"..Vários profissionais juntaram-se contra o discurso da organização que apoia o livre-trânsito de armas nos EUA e o movimento ganhou até uma página oficial..A partilha rapidamente abriu um debate sobre a violência com armas nos EUA, país onde estas são responsáveis pela entrada de cerca de 8300 jovens no hospital, todos os anos. O número de mortes por armas na América é maior do que no Médio Oriente, com os óbitos por conflitos armados descartados das estatísticas. Mas há quem não hesite em comparar: "estamos a viver numa zona de guerra"..Dave Morris explica que os profissionais de saúde não são anti-armas ou anti-NRA, mas sim "anti-violência". "A violência é o problema real, as armas são simplesmente um vetor", remata. O cirurgião apela ainda ao estudo do panorama nacional e à aplicação de "uma metodologia científica sólida para melhorar as coisas"..O tweet da NRA gerou reações políticas, nomeadamente dentro do Partido Democrata. O político e advogado Sheldon Whitehouse partilhou uma opinião sobre o tema na sua conta de Twitter, onde critica "a lata" do grupo pro-armas em ter assumido que os médicos não devem ter uma palavra a dizer neste assunto..A publicação da NRA chegaria horas antes de um atirador ter morto 12 pessoas num bar na Califórnia. Em fevereiro deste ano, durante uma conferência de cariz conservador nos EUA, o líder da Associação Nacional de Armas, Wayne LaPierre, disse que o direito às armas "é garantido por Deus a todos os americanos como direito de nascença"..Sobre a sugestão apontada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de armar os professores para responderem a possíveis conflitos dentro da escola, LaPierre afirmou que as "escolas têm de ser endurecidas e o mal deve ser confrontado com toda a força necessária para proteger as crianças"..De acordo com a BBC, durante anos a NRA tentou silenciar investigações públicas sobre a violência armada, nomeadamente nos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), que tem procurado estudar o assunto..O controlo de armas tem sido um dos temas mais debatidos desde que Donald Trump chegou à Casa Branca.