A noite com os velhos amigos Metallica

James Hetfield ciclicamente pergunta: querem uma das pesadas? Das novas ou das velhas? A resposta também nunca muda. Sim, pesada. Sim, das velhas. 13.º concerto da banca em Portugal encheu o Estádio do Restelo em Lisboa.
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É como se de uma visita a um velho amigo se tratasse. E na 13.ª passagem por Portugal, os Metallica voltaram a não desiludir quem os foi cumprimentar. É verdade que, em palco e fora dele, os cabelos brancos se tornaram dominantes e que a velocidade das guitarras já denota as décadas passadas na estrada, mas nem por isso a noite do regresso da banda aos concertos de estádio foi dada por mal empregue. Não é quase sempre assim entre velhos conhecidos?

Conhecem-se as letras e os truques, até algumas das frases com que o vocalista James Hetfield brinda a audiência. É tradição. Pergunta se o público está com os Metallica e assegura a verdade do inverso, ao fim da primeira hora confirma se o público ainda está vivo e ciclicamente pergunta: querem uma das pesadas? Das novas ou das velhas? A resposta também nunca muda. Sim, pesada. Sim, das velhas.

Depois de no final da década de 80 terem mudado o rumo do rock - do pesado, pelo menos - com três discos imaculados e de terem entrado na seguinte com um dos discos mais vendidos dos anos 90 - o tal sem nome, a que todos chamam de álbum preto - a relação com os fãs nunca foi fácil. Primeiro porque nunca mais tocaram com a velocidade ou agressividade que fizeram de Kill em All, Ride the Lightning e Master of Puppets os discos favoritos dos mais devotos, depois porque venderam muito, porque lançaram os malditos Load, ReLoad e St Anger. E mais tarde, até com Lou Reed editaram um disco - Lulu de seu nome, uma espécie de ópera vanguardista, com Reed a declamar poemas, mais ou menos percetíveis. Poucos gostaram. Os fãs dos Metallica são pouco dados a inovações.

O negro da trupe do Metal encheu o Estádio do Restelo

Mas se os pecados de uma carreira que se aproxima dos 40 anos quebraram corações aos mais puristas, a verdade é que nem por isso as digressões deixam de ser intermináveis, os palcos os maiores possíveis, os bilhetes caros e nem por isso a sobrar. Em Lisboa não foi diferente e por uma noite o Estádio do Restelo trocou o azul do seu Belenenses pelo preto da trupe do Metal.

Do mais recente disco, tiraram Hardwired para abrir, seguiram para Disposable Heroes, logo depois Ride the Lightning e God that Failed, sempre a manter o equilíbrio entre as novas, as velhas e ... as que toda a gente canta. Seguiu-se Unforgiven e duas horas e meia de rock pesado, velho como todos exigiam e sempre com com o público a cantar. Vantagens de quem traz One, Master of Puppets, Enter Sandman e Nothing Else Matters no reportório.

Robert Trujillo e Kirk Hammet voltaram a brincar com duas músicas nacionais - a homónima dos Censurados e a Casinha dos Xutos e Pontapés. Para fechar enfeitaram o palco com a bandeira nacional e deixaram um vídeo de agradecimento a Lisboa. Afinal, entre velhos amigos conhecem-se as preferências, os hábitos e todos nos esforçamos por ser boa companhia. Seja do topo de um palco onde as músicas obrigatórias nunca deixam de ser tocadas, seja de uma plateia onde não faltaram metaleiros e metaleiras de voz afinada e até dispostos a respeitar a inesperada proibição da mosh.

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