A música de dança segundo os Disclosure

A dupla britânica chega agora a um novo patamar mediático com o lançamento do seu álbum de estreia, 'Settle', onde colaboram AlunaGeorge, Jessie Ware, Jamie Woon, Eliza Doolittle, entre outros.
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Artista: Disclosure

Álbum: 'Settle'

Editora: Universal Music

Classificação: 4/5

É inegável que hoje a música house produzida no Reino Unido vive um momento de aclamação como há muito não acontecia. Este revivalismo pelo hedonismo do uk garage do início do século XXI e pelo deep house que entre finais dos anos 80 e início de 90 se afirmou como mais que um mero subgénero tem sido particularmente evidente ao longo dos últimos dois anos. Partindo de circuitos underground começaram a entrar a par e passo no campo mainstream uma série de vozes e produtores adeptos destas correntes da música de dança. Houve, por exemplo, o álbum On A Mission de Katy B. Nomes como Rudimental e Duke Dumont têm liderado os tops de vendas no Reino Unido. Jessie Ware, depois de se estrear em álbum no ano passado com Devotion, tem-se aproximado cada vez mais deste circuito, como o prova Imagine It Was Us, single produzido por Julio Bashmore e que nos transporta (sem saudosismo) para os ambientes house dos anos 90.

É neste contexto que surgem os Disclosure, dupla de irmãos que depois de um promissor EP lançado no verão do ano passado - The Face - surgem agora como uma das faces mais mediáticas da música de dança britânica de hoje. Pouco depois do primeiro álbum - Settle - ter sido editado, já vários críticos o apontavam como o melhor álbum do género (por muito vaga e abrangente que a definição 'música de dança' seja) deste ano. Se estas conclusões são ou não precepitadas, há que esperar mais seis meses, mas a aclamação que os irmãos Guy e Howard Lawrence (22 e 19 anos, respetivamente) estão a ter é mais que merecida.

A idade dos músicos é relevante neste sentido: quando o deep house estava na berra os dois irmãos não passavam de crianças. Já quando os Artful Dodger se tornaram grandes na senda uk garage, ainda nem tinham verdadeiramente entrado na adolescência. Daí que nesta estreia em álbum a recuperação dessas correntes da música de dança nunca seja feita com uma atitude saudosista ou meramente reverente para com o passado. Como os próprios assumiram, é perceptível como o gosto pelo clubbing entrou na vida desta dupla mais pela admiração por Joy Orbinson e pela reapropriação r&b no Untrue de Burial do que por memórias saudosistas.

Dado o sucesso de que hoje gozam, depressa se insurgiram vozes puristas contra a associação dos Disclosure ao deep house. Em Settle o grupo parte dessa cultura house para concretizar um trabalho bem mais abrangente e assumidamente pop. Ao longo de 13 canções acabam por condensar muita da diversidade da música de dança britânica de meados dos anos 90 até aos nossos dias, mas com uma preocupação em mente: a canção pop. Oiçam-se os irresistiveis singles White Noise (numa colaboração com AlunaGeorge) e You & Me (com Eliza Doolittle). Ambos primam pelo seu aprumo pop, pelos seus refrães certeiros, mantendo sempre presente as dinâmicas da cultura house.

E mesmo nunca se restringindo a um só género (Jessie Ware e Jamie Woon trazem consigo uma sensibilidade ligada à soul em Confess to Me e January, respetivamente; em Grap Her samplam J. Dilla num dos temas mais incisivos na sua ligação à pista de dança), a coesão nunca se perde ao longo de todo o disco. Daí que este Settle seja também uma das estreias em álbum mais surpreendentes deste ano, já que é perceptível o claro domínio que os produtores já têm sobre estas linguagens, conseguindo assim evidenciar uma personalidade musical forte.

Este verão os Disclosure vão-se estrear em palcos portugueses no festival Optimus Alive e, por todas estas razões, este é também um dos concertos mais aguardados dos próximos meses.

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