A história de Tacko Fall. O gigante que pouco joga mas é uma das atrações da NBA
Tacko Fall soma apenas quatro minutos na NBA, naquela que é a sua época de estreia na liga norte-americana de basquetebol, mas já é uma das atrações da competição. Os adeptos do Boston Celtics gritam o nome dele e não há quem não queira tirar fotografias com o pivô de 23 anos, mas tudo devido à sua altura. Com 2,29 metros, Fall é o jogador mais alto do mais mediático campeonato de basquetebol do mundo.
Porém, a altura, que hoje lhe confere estatuto de estrela, fez dele uma vítima de bullying durante a infância. Nascido e criado no Senegal, Tacko Fall era gozado por outras crianças por ser muito alto. "Não podia contar à minha mãe. Ela teria matado os outros miúdos", contou, citado pela ESPN . Na família tinha um irmão que aos sete anos media 1,75 metros e dois tios que na idade altura mediam 2,03 metros.
Natural da capital Dakar, o basquetebolista cresceu no seio de uma família muçulmana, com poucos recursos e que quase foi devastada pelo surto de malária, recorrente em África. "As redes para matar mosquitos custavam apenas três dólares (2,72 euros), mas não tínhamos condições para as comprar. Ainda bem que não fomos afetados. Tive malária quando era criança e foi horrível", confessou.
Aos 16 anos, mudou-se para os Estados Unidos, onde passou por diversas escolas. Inicialmente, jogou futebol e não mostrava qualquer interesse pelo basquetebol. A primeira vez que praticou a modalidade de forma organizada foi já em solo norte-americano, na Jamie's House Charter School, de Houston, onde foi treinado por Hakeem Olajuwon, um Hall of Fame da NBA. Venceu o campeonato do estado do Texas, deu nas vistas pela altura e rapidamente captou o interesse de várias universidades, optando pela de Central Florida (UCF), em Orlando, pela qual assinou em outubro de 2014.
Paralelamente, Tacko Fall foi dando cartas nos estudos, tendo obtido a nota máxima no exame de admissão à faculdade (SAT) e estudado ciência da computação na UCF. Antes de as ambições passarem pela NBA, os sonhos do gigante senegalês passavam por se tornar engenheiro eletrónico em empresas como a Siemens ou a Microsoft. Tanto assim foi que algumas das propostas que recebeu foi da Ivy League, conhecida como a liga dos nerds, onde estão universidades conceituadas como Harvard, Princeton e Yale.
Desportivamente, foi dando nas vistas no campeonato universitário ao serviço dos UCF Knights, tendo protagonizado um duelo titãs num jogo com os UCF Irvine, porque do outro lado estava outro gigante pivô senegalês de 2,29 metros, Mamadou N'Diaye. Curiosamente, foi um irmão de Mamadou, Ibrahim, que convenceu Fall a apostar no basquetebol.
Quando em 2016 N'Diaye participou no draft da NBA, Fall tornou-se o jogador mais alto do campeonato universitário e melhorou o seu jogo. No ano seguinte, foi nomeado melhor jogador defensivo de 2017. Nessa altura surgiu a possibilidade de participar no draft, mas acabou por retirar o seu nome da lista.
Em 2019 voltou a entrar no draft, mas nenhuma franquia o escolheu. Porém, assinou pelos Boston Celtics um contrato de exibição, um vínculo específico da NBA com um salário mínimo durante um ano. Depois de vários jogos na liga de verão da NBA, assinou um contrato a 13 de outubro e estreou-se no principal campeonato de basquetebol nos Estados Unidos a 26 de outubro, tendo atuado quatro minutos, marcado quatro pontos e conseguindo três ressaltos diante dos New York Knicks no Madison Square Garden, onde foi ovacionado.
"Foi uma coisa descontrolada, ele gosta que as pessoas o adorem e é a oportunidade de mostrar a todos a pessoa especial que é", comentou o treinador Brad Stevens. "Não quero tirar o foco dos meus companheiros e sei como é difícil para o Brad ouvir o público gritar o meu nome, mas ele também se quer manter focado. Quero jogar, claro, mas é trabalho dele saber quando vai precisar de mim", frisou o carismático senegalês, com o dorsal 99 nas costas, em homenagem aos noventa e nove nomes de Alá.
Apesar da pouca utilização, não passa despercebido entre os adeptos dos Celtics, que em todos os jogos fazem questão de tirarem selfies com o gigante Tacko. Recentemente, marcou presença num jogo dos Boston Red Sox, da MLB (liga norte-americana de beisebol) e quando saía do estádio os donos da franquia de Boston desceram para tirar fotos com ele. Sem ter por onde se esconder devido aos 2,29 metros, esteve uma hora e meia a pousar para fotografias. "Ele estava exausto, mas nunca diz que não. Pára, sorri e dá autografos quando lhe pedem", disse Grant Williams, colega de equipa que o acompanhou nesse dia. "Ele é tão bom e tem uma energia tão positiva que as pessoas até se esquecem que ele tem sentimentos. Fica triste, furioso, cansado e frustrado. Ele vai ter de aprender a dizer que não algumas vezes", crê o companheiro Enes Kanter.
Para ir muito além do que os quatro minutos que somou diante dos Knicks, Tacko terá de trabalhar bastante, mas conta com a confiança de companheiros e treinador.
"Um dia ele vai estar mais connosco. É talentoso e trabalha no duro. Acho que as pessoas não entendem o que ele consegue fazer com aquela altura", diz o colega Kemba Walker. "Ele faz um bom trabalho no pick and roll, alguns duelos são complicados para ele e estamos a tentar dar-lhe ritmo de jogo", acrescenta o técnico Brad Stevens.
O senegalês nunca fez um lançamento fora do garrafão e, diz Williams, é dotado de uma mecânica "horrível". Porém, trabalha para melhorá-la, passando muitas horas no ginásio. "Melhorei com repetição, repetição e mais repetição", contou Tacko Fall.