Trump em febre de tweets a apelar ao voto

Só nesta segunda-feira, Donald Trump escreveu 16 mensagens na sua rede social preferida, o Twitter. São incitamentos ao voto, no último dia da campanha. Mas talvez sejam mais do que isso
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Não é preciso entrar no espírito, com rigor. Se não conseguimos imitar, como Stephen Colbert, a dicção, a rigidez gestual, aquele tom mimado e displicente do Presidente dos EUA, conseguimos, à mesma, ver Donald Trump a verbalizar o que escreve. "Os Republicanos criaram a melhor economia na HISTÓRIA do nosso País - e os mais fixes mercados de trabalho no planeta terra. A Agenda Democrata é um Pesadelo Socialista. A Agenda Republicana é o SONHO AMERICANO! Votem GOP"

Tudo o que ali em cima se escreve (fixes é uma tradução menos literal de "hottest") foi publicado pelo sucessor de Barack Obama. As maiúsculas estranhas - e as minúsculas ainda mais estranhas como que a explicarem que o planeta Terra merece menos destaque que o "pesadelo socialista". A dicotomia (agora chama-se "polarização") simplista: pesadelo contra sonho, maus contra bons. A avaliação pouco rigorosa: a lista de mercados de trabalho mais "hottest" é uma marca registada de Donald Trump, mas que dizer da "melhor economia" de sempre nos EUA?

Este é apenas um dos muitos tweets de Donald Trump, na véspera de uma importante eleição intercalar: que vai decidir quem tem a maioria nas duas câmaras legislativas. Esta terça-feira, os norte-americanos vão escolher se preferem que o resto do mandato do seu presidente seja mais controlado pela oposição, ou uma calma maioria.

Trump faz uso desse argumento, à sua maneira. "Um voto nos Republicanos é um voto para continuar a nossa extraordinária prosperidade. Um voto nos Dems é um voto para levar este Boom Económico em queda a um final abrupto e repentino." É por isso, adverte, que o Ohio deve votar em Mike deWine.

Na Flórida há mais uma razão para os democratas serem maus, diz o tweet seguinte. O candidato a senador, Bill Nelson, um ex-astronauta, é, segundo Trump, um "stiff" - o que tanto pode ser um insulto grande, como pequeno, se escolhermos a tradução "peso morto", "rígido" ou "chato".

Se nem mesmo assim os eleitores se convencem, talvez uma advertência legal ajude: "Os Agentes da Lei foram avisados seriamente para verem com atenção qualquer tentativa de VOTO ILEGAL que possa ter lugar na Eleição de Terça-Feira (ou no Voto Antecipado). Qualquer pessoa que seja apanhada será sujeita à Penalização Criminal Máxima permitida pela lei. Obrigado!"

De novo, as maiúsculas são imponentes. E do tweet fica a sensação estranha de que o Presidente está a sugerir que alguém apanhado a votar sem identificação pode estar sujeito à pena capital, porque a frase é dúbia.

Mais concreta é a comparação seguinte, de novo com o ex-astronauta do Partido Democrata. "LEMBRA-TE FLÓRIDA: Eu sou Presidente dos Estados Unidos há quase dois anos. Durante esse tempo o Senador Bill Nelson não me telefonou uma única vez. Rick Scott telefonou-me várias vezes a pedir mais dólares para a Flórida. Fez um ÓTIMO trabalho nos furacões. VOTA SCOTT!"

Há de tudo neste regateio final. "Sondagens falsas" da CNN, candidatos opositores que vão trazer crime e amigos que são "estrelas do futuro". Esta é uma campanha em que a linguagem limita as opções. É fácil de entender, e dá votos por ser assim. Ninguém interpreta a frase, a frase interpela quem a lê. Há um "bom" e um "mau", um "certo" e um "errado". O eleitor tem apenas 50% de hipóteses de errar. E isso deve dar algum conforto, apesar de tudo. Fossem assim tão simples todas as outras decisões que os eleitores americanos têm de tomar.

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