Sequelas ou prequelas, elas andam aí. Ao quinto filme do universo cinematográfico dos Minions, pode mesmo dizer-se que temos ambas as coisas. O novo Mínimos 2: A Ascensão de Gru surge, por um lado, como a sequela de Mínimos (2015), o filme que contava a história de origem dessas criaturinhas amarelas em forma de comprimido, no final dos anos 1960, e por outro como a prequela de Gru - O Maldisposto (2010), o vilão que aí adotava três meninas órfãs, tendo em vista um grande plano malvado, sem imaginar que se pudesse afeiçoar às petizas. Entre um e outro, a mais recente entrada neste universo mostra como os Mínimos (seres cujo único objetivo de vida é servir o maior dos vilões), já estão ao serviço do pequeno Gru, curtindo um quotidiano de modestas vilanias, como lançar um engenho de gás malcheiroso numa sala de cinema cheia, onde o público está a assistir ao Tubarão, para evacuarem o anfiteatro e poderem ver o resto do filme sozinhos..CitaçãocitacaoCom estreia originalmente marcada para 2020, Mínimos 2 faz parte daquele grupo restrito de títulos, como Top Gun: Maverick, que apesar dos adiamentos por causa da covid, não sucumbiram ao streaming.Com estreia originalmente marcada para 2020, Mínimos 2 faz parte daquele grupo restrito de títulos, como Top Gun: Maverick, que apesar dos adiamentos por causa da covid, não sucumbiram ao streaming. Pôs-se assim a jeito para ser o blockbuster deste verão (de resto, a referência ao Tubarão de Spielberg não aparece ao calhas...). E para isso não fez esforços extraordinários de criatividade, porque não precisa de muito mais do que a engrenagem habitual para satisfazer o apetite dos fãs. A saber, o sucesso desta franchise de animação americana dos estúdios Illumination assenta no humor apalermado das suas figurinhas icónicas com um idioma peculiar, que passam o tempo a meter-se em sarilhos. A essa base imutável, o trio de realizadores - Kyle Balda, Brad Ableson e Jonathan del Val - limitou-se a dar uma injeção de estilo e visual do cinema dos anos 1970, com o género do Blaxploitation a impor-se desde os primeiros minutos, para além de piscadelas de olho aos 007 de Roger Moore e às artes marciais de Bruce Lee. Tudo isto com banda sonora à medida..Recapitulando, este é (apenas) o segundo filme dos Mínimos. Aqui entre nós, como se nos títulos de Gru - O Maldisposto eles não fossem já a imagem de marca da Illumination. Sabendo de antemão que os adoráveis traquinas amarelos roubam todas as cenas, entra-se nesta história para encontrar Gru, um menino de 12 anos a viver em São Francisco, em 1976, que sonha integrar a principal equipa de supervilões do mundo, os Vicious 6, sem ter de esperar pela idade adulta. Eis senão quando abre uma vaga - justamente a ausência do velho líder do grupo, Wild Knuckles, o favorito de Gru - e ele é chamado para uma entrevista. O que a malta da pesada não sabia é que o candidato que chamaram é... uma criança. Algo que, obviamente, aos olhos do próprio não é impeditivo do que quer que seja. E para o provar, Gru termina a sua malsucedida entrevista com o furto de um amuleto precioso, iniciando uma fuga agitada, até ser sequestrado pelo tal ídolo Wild Knuckles, que afinal tinha sido traído pelos próprios companheiros do grupo..No meio disto, como seria de esperar, os três Minions em missão - Kevin, Stuart e Bob - prestam auxílio, não solicitado mas necessário, ao seu "mini-boss" e acabam por complicar um pouco mais as coisas: para além de salvarem, perderem e voltarem a tentar recuperar o valioso amuleto, ainda têm de resgatar o pequeno mestre Gru. Nada que seja possível sem percorrer os mais variados cenários de humor e disfarce, desde uma sequência dentro de um avião, com Kevin perigosamente na cabine de comando, até aulas de kung fu ministradas por uma acupunturista. Esta última é talvez a mais hilariante subtrama da ação inesgotável de Mínimos 2. Um filme que não prima por um argumento inédito (no final há, inclusive, a típica grande batalha), mas também não desilude na sua premissa de diversão descabelada, entre as citações que o público adulto cinéfilo apanha e a legítima farra de desenhos animados para a miudagem. Naturalmente, quem não estiver com disposição para piadas descartáveis e acidentais, despejadas a um ritmo alucinante, mais vale ficar quieto..Um dos aspetos determinantes para se apreciar esta franchise tem que ver com o elenco original de vozes. Pelo menos para os adultos, nunca será a mesma experiência assistir à versão dobrada em português. Com 59 anos, Steve Carell continua a emprestar um distinto sotaque de Leste Europeu ao enfant terrible Gru, fazendo desta vez um pequeno ajuste no tom, assim como Julie Andrews retoma o papel da sua mãe (com muito poucas falas). Em todo o caso, a boa surpresa está nas novas aquisições, que incluem o veterano Alan Arkin, capaz de passar aquela sua secura espontânea para o vilão amigável Wild Knuckles, Jean-Claude Van Damme, que dá alma a outro dos Vicious 6, uma personagem chamada Jean Clawed, e ainda Michelle Yeoh, a atriz asiática em alta com o filme Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, que aqui assume o pulso da acupunturista mestre de kung fu empenhada em libertar as "feras interiores" dos três Minions. A verdade é que esta adequação das vozes imprime outra camada de personalidade em figuras que, de outra maneira, poderiam não ter um traço de identidade..Enfim, falando de assuntos mais sérios, há um truque novo que certamente será usado em futuros filmes com Minions: os seus olhos arregalados à Gato das Botas sempre que tentam forçar uma resposta emocional... É ver quem consegue resistir. Depois de Mínimos 2: A Ascensão de Gru não teremos de esperar muito pelo regresso ao grande ecrã destas pop stars da animação. Com um Gru - O Maldiposto 4 a caminho, agendado para o verão de 2024, a garantia é que essa personagem de nariz adunco não existe sem Mínimos..dnot@dn.pt