A força da vida na última entrevista

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Ao longo da vida guardamos vários amigos, criamos cumplicidades, ouvimos vários fados! Carlos do Carmo sempre foi uma voz da minha casa, na infância e na juventude. A voz superou sempre todas as ideologias.

Carlos do Carmo sempre esteve acima dos partidos, com a sua serenidade, um cavalheiro com um sorriso e uma voz firme, mas doce. Um homem com ideais, sem vedetismo, e sempre com a sua Maria Judite. Já diz o povo que atrás de um grande homem está sempre uma grande mulher.

Podemos (re)comprovar isso mesmo na entrevista com Carlos do Carmo - a última da sua vida - publicada nesta edição, num caderno especial para ler, contemplar e guardar. Quem sabe, caro leitor, para um dia passar aos seus filhos ou aos seus netos. A entrevista - que durou duas horas e que concentramos neste especial que hoje publicamos no Diário de Notícias - foi dada ao seu amigo Nicolau Santos, há pouco mais de um mês, em casa do fadista em Lisboa.

Eu e o Nicolau fomos colegas na redação do jornal Expresso, além de colegas do jornalismo económico por várias décadas. Há dias cruzámo-nos e ele disse-me que me queria falar. Não desenvolvemos a conversa, não deu tempo - afinal, os jornalistas andam sempre a correr de um lado para o outro, como se o mundo fosse acabar, e, por vezes, acabam mesmo alguns pedaços do nosso mundo.

No primeiro dia do ano de 2021, falámos ao telefone. Nicolau guardava no seu gravador aquela que seria a última entrevista de Carlos do Carmo. De tão debilitado, o fadista deixou claro que não queria ser fotografado, consciente de que há momentos em que é preciso sair de palco, sem nunca calar as palavras que traduzem o livre pensamento, a indignação, a crítica, mas também a esperança e o sentido de humor. Veja-se a graça do momento em que, durante um concerto no Coliseu em Lisboa, interpela Mário Centeno, ex-ministro das Finanças e atual governador do Banco de Portugal.

Ao longo da vida, fazemos e guardamos vários amigos, ouvimos e memorizamos vários fados. Agradeço ao Nicolau Santos a bondade e a amabilidade em ceder ao renovado Diário de Notícias esta conversa belíssima que, decerto, fará história na história da cultura portuguesa.

Nesta edição, no mesmo caderno especial dedicado ao fadista, Carlos Coelho, presidente da Ivity, analisa a influência da música de Carlos do Carmo na marca Portugal, e republicamos o artigo que o primeiro-ministro, António Costa, endereçou ao DN a propósito desta grande perda.

Em dia de luto nacional, aqui fica a singela homenagem deste centenário jornal que também faz parte da vida dos portugueses.

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