Em 1708, Inglaterra está em guerra com a França mas a rainha Ana parece mais interessada em corridas de patos e em brincar com os seus 17 coelhinhos (cada um deles representando um filho que perdeu) do que em governar o seu reino. O seu desinteresse permite a interferência nos assuntos da governação de Sarah Churchill, duquesa de Marlborough, confidente e conselheira da rainha e uma das pessoas mais poderosas na corte. Mas a situação altera-se com a chegada de Abigail Hill, jovem prima de Sarah, que vem à procura de emprego e logo cai nas boas graças da soberana. O lugar de favorita da rainha é disputado pelas duas mulheres. Esta é também uma luta pelo poder. E por um lugar na cama de Ana..A história verdadeira deu origem a A Favorita, drama histórico (e com muito humor negro) de Yorgos Lanthimos, protagonizado por Olivia Colman (que faz a rainha Ana), Rachel Weisz (Sarah) e Emma Stone (Abigail). Os portugueses podem vê-lo nos cinemas a partir desta quinta-feira e descobrir porque é que esta coprodução entre Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos está nomeada para dez Óscares, para além dos muitos outros prémios que já ganhou ou para os quais esteve indicada..Foram precisos 20 anos para fazer este filme só de mulheres.Deborah Davis escreveu o argumento de A Favorita em 1998, na altura com o título The Balance of Powers. "Não sabia nada sobre a rainha nem sobre as suas relações", contou mais tarde. "Então, dediquei-me a saber tudo sobre a rainha Ana e Sarah e acabei por dar de caras com uma história de mulheres no poder e um triângulo amoroso." Na sua pesquisa consultou as cartas trocadas pelas três mulheres, as memórias de Sarah e até a autobiografia de Winston Churchill que, ao escrever sobre o seu antepassado duque de Marlborough, acabou por falar bastante deste triângulo. Logo nessa primeira fase a produtora Ceci Dempsey mostrou-se interessada no projeto mas teve imensa dificuldade em conseguir financiamento. Afinal, tratava-se de um filme histórico sem qualquer protagonista masculino e ainda por cima sobre relações lésbicas. A quem é que isto iria interessar?.Quase uma década depois, o produtor Ed Guiney interessou-se pelo projeto, mas as dificuldades de financiamento mantiveram-se. O realizador grego Yorgos Lanthimos, que já tinha sido nomeado para os Óscares com Canino (2011) e A Lagosta (2015), aceitou o desafio e começou a trabalhar com o argumentista Tony McNamara no guião. Esta é a primeira vez que Lanthimos não é também argumentista de um filme que realiza..Em setembro de 2015, o filme A Favorita foi oficialmente anunciado. "Foi preciso vir alguém da Grécia para que o filme se tornasse real", comentou recentemente a atriz Rachel Weisz numa entrevista à Screen Daily, referindo-se a Lanthimos..O realizador explicou depois à IndieWire que não quis que a homossexualidade fosse o tema principal do filme: "Não queria sequer que as personagens lhe dessem muita importância. Só queria ter estas três mulheres enquanto seres humanos. Não fazia diferença se havia relações entre pessoas do mesmo género. Deixei de pensar nisso logo no início do projeto." As relações acontecem à porta fechada mas não são tratadas como um tabu. Lanthimos nem sequer se preocupou com o que os espectadores iriam pensar daquelas relações: "Faço os filmes que faço. Algumas pessoas gostam e outras pessoas não gostam.".Parece que há muitas pessoas a gostar. Nos primeiros três dias de exibição nos EUA, o filme conseguiu a melhor receita média por sala do ano: 105 mil dólares (92 mil euros). E até agora já arrecadou mais de 20 milhões de euros em bilheteira nos EUA. No Reino Unido chegou aos 12,6 milhões de euros em apenas três fins de semana..Prémios para as três protagonistas.Além de um sucesso de público, A Favorita também tem sido um dos grandes vencedores da temporada de prémios. Olivia Colman ganhou o prémio de melhor atriz no Festival de Veneza, onde o filme se estreou, e um Globo de Ouro pela sua interpretação de Ana. Entre muitas outras premiações, o filme tem neste momento dez nomeações para os Óscares (o mesmo número do que Roma), que serão entregues a 24 de fevereiro, e 12 nomeações para os BAFTA, cujos vencedores serão conhecidos já no dia 10. Apesar de as três atrizes terem praticamente o mesmo tempo de ecrã, Weisz e Stone têm sido nomeadas para os prémios de atriz secundária, enquanto Colman foi considerada protagonista - uma decisão tomada desde o início pela Fox Searchlight..Aos 44 anos, Olivia Colman é uma das mais conhecidas atrizes no Reino Unido embora quase sempre por trabalhos em televisão e poucas vezes como protagonista. Estamos ansiosamente à espera de vê-la como rainha Isabel II na terceira temporada de The Crown, na Netflix, que deverá estrear ainda neste ano. Sobre a rainha Ana, a atriz diz: "Ela é apenas uma mulher que tem pouca autoconfiança e não sabe se alguém a ama verdadeiramente. Ela tem demasiado poder." Na The Atlantic , David Sims não poupa elogios à sua interpretação de uma rainha "simultaneamente monstruosa e vulnerável"..Rachel Weisz, de 48 anos, chegou ao projeto para substituir Kate Winslet, o primeiro nome anunciado para interpretar Sarah. Mas este acabou por ser o seu filme mais popular desde O Jardineiro Fiel (2006), de Fernando Meirelles, que lhe valeu um Óscar. Com Sarah a atriz já conseguiu 35 nomeações para os mais diversos prémios. Ela vê a sua personagem como "um falcão". Uma predadora. Disposta a tudo para se manter no poder..Quanto a Emma Stone, 30 anos, chega a A Favorita depois de aparecer em Magia ao Luar (2014) e Homem Irracional (2015), de Woody Allen, e La La Land: Melodia de Amor (2016), de Damien Chazelle - com o qual ganhou o Óscar de melhor atriz. A personagem da oportunista e manipuladora Abigail permite-lhe mostrar que, apesar daquele sorriso, também é capaz de interpretar uma grande vilã. Ninguém está a salvo da implacável ambição de Abigail, nem mesmo um coelhinho inocente.