A enésima proposta para criar um Exército europeu
Jean-Claude Juncker defendeu ontem a criação de um Exército e um quartel-general europeus na cidade, Estrasburgo, onde há muito está o corpo militar que foi visto como o embrião desse exército comum.
O falhanço dessa intenção em duas décadas e meia, a incapacidade da generalidade dos Estados membros da UE em cumprir a meta de 2% do produto interno bruto (PIB) em despesas com a defesa, o facto de 22 desses países pertencerem também à NATO, de muitas dessas capitais verem a defesa militar como responsabilidade nacional ou de estarem a adotar posições isolacionistas e o Reino Unido ter decidido deixar a UE, indiciam que pouco ou nada mudará nesse domínio.
Este discurso do presidente da Comissão Europeia ocorre semanas após a primeira reunião de alto nível na Europa do pós-Brexit - juntando os líderes da Alemanha, da França e da Itália - ter ocorrido a bordo de um porta-aviões europeu (o transalpino Garibaldi), precisamente para defenderem uma maior integração europeia como resposta à saída do Reino Unido.
Mas isso, a exemplo dos discursos similares ao longo dos últimos largos anos, pouco deverá alterar no que respeita à criação de um verdadeiro instrumento militar europeu credível - porque Londres é uma das duas grandes potências europeias nesse domínio e vai sair, porque UE e NATO são como água e azeite apesar dos 22 países que estão em simultâneo nas duas organizações, porque não há dinheiro suficiente nos países que dizem ter vontade política para avançar nesse sentido.
Note-se ainda, conforme assinalou ontem o ministro da Defesa português no Parlamento, que "não deixa de ser extraordinário" que a máquina jurídica de Bruxelas encontre ou ponha sistematicamente obstáculos ao reforço da integração europeia no domínio da defesa quando países como a Alemanha e a França o desejam.
Relevante ainda em questões financeiras é o facto de o próprio Reino Unido ter feito cortes significativos nas despesas militares no quadro das políticas de austeridade, a ponto de se prever que as Forças Armadas britânicas reduzam nos próximos anos mais 30 mil efetivos.
Voltando ao chamado Eurocorpo sediado em Estrasburgo, numa altura em que a eventual vitória de Donald Trump nas presidenciais dos EUA é uma preocupação dentro da NATO: integra cinco países - Alemanha, Bélgica, Espanha, França e Luxemburgo - e nasceu de uma iniciativa franco-alemã em 1992.