A crise a brincar que tapa a séria

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Armado em povo feliz, de quem se diz (em definição infeliz) que não tem história, Portugal lá arranjou a sua crise. Qual Guaidó, o BE saiu à rua, libertou o PCP da sua modorra, garantiu que tinha consigo uma lista de generais, entre os quais o PSD e o CDS, e lá pensaram todos ter derrubado o Maduro. Nesta fábula, a fava calhou a António Costa, pois fica comparado ao bolivariano.

O que, neste caso, é um pouco justo mas também muito injusto. Um pouco justo porque problema de fundo com os professores é a farsa da avaliação em que todos passam, o que leva ao faz de conta de todos chegarem ao patamar de excelência (nomeadamente no salário) que demasiados, efetivamente, não merecem. Aí, de facto, não estamos longe da Venezuela: o poder da muita retórica silencia a possibilidade de fazermos muito mais e melhor num dos dois setores (com a Saúde) mais importantes para Portugal. E, aí, no combate à farsa da avaliação, este governo, na esteira de todos os outros, falha.

Mas é também muito injusto que Costa, nesta fábula luso-bolivariana, acabe por ser remetido para o papel do rotundo e estúpido Nicolás Maduro, porque isso, ontem, coube à oposição. Quem não saiu à rua e ganhou - na versão tão portuguesa de fazer coisas hipoteticamente radicais no remanso dos Passos Perdidos mas perdendo o reconstruir do futuro - foi o BE, o PC, o PSD e o CDS. Parabéns à prima, mas não aos filhos dos portugueses que é para quem a Educação se faz.

Factos acontecidos, paga-se o que não se pode, mas não interessa: só é para o Orçamento de Estado de 2020... Calendas, pois. Que tem o orçamento do ano que vem a ver com os portugueses de hoje?! Foi isso mesmo que já disse o CDS: chumbou "o pagamento de tempo integral dos professores", mas chumbou também o governo, obrigando-o a pôr em causa as contas do país. Dois em um, na teoria mostrou-se coerente com o que sempre disse e na prática pôs em véspera de eleições o governo atrapalhado. Que esta prática prejudique em breve as contas do país, paciência, lá teve que ser.

Nessa navegação à vista foi também o PSD, onde Rui Rio abdicou de ser o campeão das causas difíceis, no momento em que as sondagens pareciam indicar que ia pelo caminho certo. Acontece a muitos, às vezes, a travessia do deserto cobra a dois passos da praia... Já o BE e o PCP estão nas suas sete quintas, contentinhos por lavrar as sete, áridas e sem futuro. Quanto ao PS mobiliza os duros e finge demissão. Políticas...

Voltando à Venezuela e, desta vez, com a fábula em comparação certeira: No pasa nada! Por cá, de facto, não se passa; só há políticas. E, ao contrário do que se julga, isso não é política. Na Educação, política é uma política de Educação em que os professores são incentivados a professorar melhor. Ontem e hoje, foram só políticas de contar de espingardas para as guerras pífias de sondagens. Exceto na política financeira, que foi uma derrota grave para todos.

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