Tão desventurado quanto genial, Edgar Allan Poe continua a ser sucessivamente redescoberto por várias gerações de leitores em todo o mundo, o que apenas vem reforçar a crença de Jorge Luis Borges (coordenador da colecção “Biblioteca de Babel”, em que este volume se insere), para quem o criador do género policial é um dos dois autores – o outro é Whitman – sem os quais a literatura do nosso tempo seria inconcebível. Para essa pujança da sua obra contribuem em grande parte as numerosas reedições, de que é exemplo A carta roubada. Além do primor gráfico, o que distingue a presente edição das várias que periodicamente vão chegando ao mercado em diferentes formatos é a excelência da escolha dos cinco contos reunidos: além da narrativa homónima, estão aqui incluídas A verdade sobre o caso de M. Valdemar, Manuscrito encontrado numa garrafa, O homem na multidão e O poço e o pêndulo. Ler estas breves narrativas equivale a reconciliarmo-nos com a literatura na sua faceta mais perturbadora e inquietante. Os delírios e as obsessões que marcaram a vida de Poe foram magistralmente cristalizados nos seus escritos, sobretudo nos contos de teor fantástico, que conseguem sobressaltar até o leitor mais empedernido. O exemplo maior desse poder acontece em O homem na multidão – o escritor de Boston descreve ao pormenor a multidão que o cerca, captando os odores, ruídos e vibrações da rua, com uma imagética capaz de concorrer com o cinema.. Contos 5/5 A carta roubada EDGAR ALLAN POE EDITORIAL PRESENÇA