A anorexia e bulimia não são modas, são doenças
João tem 1,82 metros e chegou a pesar 50 quilos. Não pela busca de um peso ideal, mas para "pôr à prova" o seu corpo. "Não era bem porque queria pesar um número bem definido de quilos. Era mais para ver a quantidade de estragos que podia fazer. Tinha obsessão não pelo peso em si, mas por testar até que ponto o corpo humano podia aguentar o que lhe estava a fazer."
João sofre de anorexia e é uma das histórias que mais impressionou Diana Mendes, a autora do livro Fome de Perfeição, que conta histórias de luta contra as doenças do comportamento alimentar. Dez por cento dos casos de bulimia e anorexia afetam homens. Mas o mais comum é que sejam as mulheres e especialmente raparigas a desenvolver estas perturbações alimentares. Os estudos mais recentes coordenados pela médica Isabel do Carmo apontam para uma prevalência da anorexia de 0,4%, entre os 10 e os 21 anos. Em relação à bulimia, a prevalência, segundo um estudo da professora Maria Helena Azevedo, é de 0,16%.
Os números são referidos no livro da ex-jornalista do DN que espera que a obra ajude a "desmistificar uma série de situações em relação à moda, não são doenças da moda, podem acontecer com a prática muito intensiva de desporto, com a pressão que as crianças têm para serem perfeitas em tudo". "São tudo fatores gatilho", sintetiza.
Além disso, a pressão social com "escolas que pesam alunos uns em frente aos outros, como fator de exposição que é embaraçoso; as televisões que a toda a hora dão programas a falar de alimentação; a publicidade que mostra gente muito magra a comer gelados, criando estímulos dúbios, até chegarmos às páginas na internet que prometem dar 365 razões para se ser magro, porque se deve ser magro, e métodos para perder o apetite". Diana Mendes acredita que a sociedade tem ainda um caminho a percorrer para ajudar a desmistificar estas doenças.
No entanto, a autora lembra que nem todas as pessoas que passam por dietas desenvolvem doenças, havendo fatores biológicos e psicológicos que contribuem para o seu aparecimento. "A anorexia normalmente está ligada a personalidades mais rígidas, mais obsessivas, a bulimia são personalidades mais depressivas", explica.
Do contacto com os doentes ficaram histórias "muito chocantes". "Raparigas internadas com 30 e tal quilos que acham que já estão recuperadas". Ou casos em que os doentes "dividem os mil folhas em mil folhas ou espalham o iogurte pela bancada da cozinha para passar a tarde toda a comer cada bocadinho com o dedo".