8000 milhões para salvar o Egito. Novo Suez coloca Al-Sisi sob fogo
Para os media pró-governamentais egípcios é "um triunfo nacional". Para os críticos é um desperdício de dinheiro que teria sido mais bem gasto na melhoria das infraestruturas e serviços públicos do país. A verdade é que a expansão do canal do Suez, que custou perto de 8000 milhões de euros e foi ontem inaugurada pelo presidente Abdul Fattah al-Sisi, não deixa ninguém indiferente. As obras, iniciadas há um ano, vão permitir duplicar o tráfego de navios até 2023 na passagem artificial entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho e, espera o governo, salvar uma economia instável desde a queda de Hosni Mubarak após uma revolta popular em 2011.
Na cerimónia de inauguração em Ismaília estiveram presentes vários líderes mundiais, do primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, ao presidente francês François Hollande; do rei Abdullah II da Jordânia ao presidente do Sudão, Omar al-Bashir. Al-Sisi chegou de óculos de sol e uniforme militar, a bordo do El-Mahrousa, o iate que fora o primeiro navio a passar pelo canal, quando este foi construído em 1869. Na altura, estiveram presentes muitas cabeças coroadas, como o austro-húngaro Francisco José, numa inauguração que um jovem Eça de Queirós relatou nas páginas do DN.
Século e meio depois, a expansão do canal contou ainda com uma exibição da força aérea egípcia, tendo sido celebrada nas ruas do Cairo com cartazes a saudar este "presente para o mundo".
Mas nem tudo foram louvores. Tanto na imprensa internacional como no Twitter muitos questionaram o custo da obra e, sobretudo, o seu contributo para a economia do Egito. Ahmed Kamaly, economista na Universidade Americana no Cairo, garantiu à Reuters que as projeções do governo de Al-Sisi não passam de "desejos piedosos". Os especialistas questionam-se se o tráfego de navios e as trocas comerciais Ocidente-Oriente serão suficientes para sustentar o projeto "Não foi feito qualquer estudo de viabilidade", afirmou o académico, acrescentando que as vantagens imediatas da expansão do canal serão mais políticas do que económicas, ao unirem o povo egípcio em torno de "um projeto nacional". A nacionalização do Suez em 1956 pelo presidente Gamal Abdel Nasser gerou a chamada "crise do Suez", com a França, o Reino Unido e Israel a invadirem o Egito.