Portugal tem das piores situações da União Europeia quando a precariedade é medida pela proporção de pessoas contratadas a prazo que preferiam não estar nessa condição, isto é, pela proporção de trabalhadores jovens (menos de 35 anos) que aceitaram um vínculo de trabalho temporário, mas fizeram-no de forma "involuntária", por não terem alternativa ou melhor proposta..Mais de 80% dos contratados a termo em Portugal dizem sofrer desse problema; pior só em Chipre (quase 90%), revelam dados do Eurostat. A média europeia é cerca de metade (45%)..A Comissão Europeia abordou esse problema na semana que passou no estudo anual sobre o mercado de emprego e a situação social na Europa. Há dois anos, Chipre e Portugal lideravam o grupo dos países mais precários (no referido indicador dos contratados a prazo involuntários). Atualmente, continua tudo na mesma..A atualização destes indicadores surge justamente na semana em que os deputados do grupo de trabalho das leis laborais aprovou a figura da futura taxa que vai penalizar as empresas que abusem da contratação a prazo ou a termo, a chamada contribuição adicional por rotatividade excessiva..Embora não seja para entrar já em vigor (segundo o Jornal de Negócios, a intenção do PS é adiar a cobrança desta taxa até 2020), esta é mais uma medida do chamado pacote de combate à precariedade promovido pelo governo, designadamente pelo ministro do Trabalho, José Vieira da Silva..Como referido, a Comissão Europeia lamentou nesta semana que os mais jovens continuem a ser fustigados por situações de precariedade. "A maioria dos trabalhadores temporários na União Europeia continua involuntariamente nessa situação." E há muito tempo que é assim..Bruxelas diz que "há mais de dez anos que mais de metade dos trabalhadores temporários" estão nessa condição de forma involuntária..O fenómeno afeta "mais as mulheres do que os homens (53,7% versus 51,9%), sendo que "em cinco Estados membros (Espanha, Croácia, Itália, Chipre e Portugal) pelo menos quatro em cinco funcionários temporários estão a trabalhar involuntariamente nesse tipo de contrato". Segundo o Eurostat, Chipre lidera com uma taxa de incidência do problema na ordem dos 89%, Portugal tem 82%, Espanha tem quase 82% também..A Comissão observa ainda que a importância do trabalho a termo, a prazo e outras formas de vínculos temporários no emprego total é mais pesada em países como Espanha, Portugal ou Polónia (taxas próximas de 20% do emprego total)..Além disso, a taxa de emprego a termo portuguesa continua bem acima (é quase o dobro) da média europeia, que rondaria os 12% em 2018.."O trabalho temporário está acima de 20% e está a aumentar em Espanha e um pouco abaixo de 20% em Portugal e na Polónia (onde a tendência é decrescente)." Reino Unido, Roménia, Bulgária e países bálticos têm as taxas mais baixas da Europa, cerca de 5%, indica o mesmo estudo..Combate à precariedade.Como referido, a taxa da rotatividade, aprovada pelo grupo de trabalho parlamentar mas que ainda precisa de passar no Parlamento, é mais uma medida que tenta contrariar a precariedade em Portugal, argumenta o governo. O respetivo artigo foi aprovado na quarta-feira passada ao final do dia com os votos a favor do PS, abstenção de BE, PSD e CDS e votos contra do PCP. Os comunistas dizem que esta taxa "pode até contribuir para a legitimação da precariedade", já que as empresas vão poder pagar para manter vínculos de trabalho a prazo e temporários..O artigo aprovado diz que "a taxa contributiva adicional, da responsabilidade da entidade empregadora, tem aplicação progressiva com base na diferença entre o peso anual de contratação a termo e a média setorial, até ao máximo de 2%". A escala de progressão será fixada mais tarde, "em decreto regulamentar"..Antes disto, foi aprovada outra medida que prevê que as situações de contratação a prazo passem a ter a duração máxima de dois anos (antes eram três anos) e continua a ser possível três renovações de contrato no máximo (aqui não houve mudança)..O grupo parlamentar validou ainda restrições mais fortes à contratação a prazo de jovens à procura do primeiro emprego e de desempregados de longa duração (um ano ou mais sem trabalho), quando o que está em causa é a ocupação de postos de trabalho e funções considerados permanentes.