375 desenhos expostos hoje e amanhã para pagar dívida
Tudo começou quando, entre 2006 e 2009, engrossava os números dos "falsos recibos verdes" e não conseguia pagar os impostos devidos à Segurança Social. Em novembro de 2012 recebeu então uma carta onde era informada que estava em curso um processo de execução de 7500 euros. Ao tentar encontrar uma solução, em conversa com uma amiga, a artista percebeu que poderia usar a pintura e o desenho para lançar uma iniciativa que a ajudasse no problema financeiro. Em vez de pedir emprestado poderia vender "num patamar de acessibilidade a todos".
Encontrou no seu atelier o que precisava para dar forma à ideia: seriam 375 desenhos - o número que multiplicado por 20 euros dará o montante da dívida - em variados tipos de papel, pintados a lápis de cera, acrílicos, graffitis e tudo o que a imaginação e os materiais disponíveis permitiram, num calendário "rígido". Isto porque Margarida contatou o centro Mário Dionísio, na Casa da Achada, em Lisboa, com a esperança que existisse interesse no projeto. E houve. Então criou uma página no Facebook onde muitas reservas de compra foram efetuadas entre as 125 obras que estão online, e trabalhou até praticamente ao dia da exposição.
Só na passada quarta-feira Margarida Alfacinha terminou os 375 desenhos. Sendo gerente de uma loja no Chiado apenas após o horário laboral poderia meter mãos-à-obra. Teve pouco mais de um mês, o que obrigou a fazer 10 a oito desenhos por dia e 20 aos sábados e domingos. E a inspiração? "chega com o principio de que com trabalho tudo se consegue", afirmou ao DN. Assim, hoje das 18:30 à meia-noite e amanhã das 18:30 às 21:00 os desenhos podem ver apreciados e comprados na Casa da Achada.
Trata-se de desenhos únicos, numerados, assinados e trabalhados num mesmo formato, em folhas com 24 por 15 centímetros, contudo "bastante coloridos, muito diferentes, abstratos e figurativos", explicou Margarida. A temática baseou-se naquilo que motivou a artista para o projeto: "Coisas do quotidiano aliadas à ideia de não desistência e de alcançar objetivos".
Margarida tem 37 anos, é mãe de dois filhos e tem a arte nas veias, talvez por ser filha de pai escritor e de mãe pintora. Se a iniciativa resultar, "torna-se realidade o verdadeiro sentido da arte: criar e transformar o mundo", concluiu.