Começa-se pelo princípio. A coreógrafa belga Anne Teresa de Keersmaeker é a protagonista da primeira bienal Artista na Cidade, e vai apresentar, com a sua companhia, a Rosas, mais de uma dezena de espetáculos ao longo deste ano em Lisboa. Começa-se pelo princípio e, por isso, o ciclo abre com "quatro peças da juventude", que serão apresentadas no Centro Cultural de Belém: hoje, 'Fase, four movements to the music of Steve Reich' (1982); amanhã, 'Rosas danst Rosas' (1983), no dia 7, 'Elena"s aria' (1984) e, no dia 9, 'Bártok/Mikrokosmos' (1987). ."São as minhas primeiras peças e voltar a dançá-las é também uma forma de o público se ver a vê-las", diz a coreógrafa, de 52 anos. De refletirmos em conjunto sobre o que se passou nestes anos todos e é verdade que alguns dos que se irão sentar na plateia do CCB não estarão a ver as obras pela primeira vez. "É algo especial".Até porque, ela sabe-o, vai chegar o dia em que já não irá conseguir dançar estas peças. "Daqui a dez anos, provavelmente, já não o irei fazer." Ninguém pode fugir ao envelhecimento. Sobretudo se for mulher. Ainda mais se for bailarina. "Sentimos o tempo a passar no nosso corpo. Já não sou uma miúda de 20 anos e sinto-o ao dançar estas peças. Mas como toda a gente diz, também se descobrem outras coisas, aprendemos a desfrutar. Espero que a experiência seja uma mais valia no meu trabalho, que isso se note", e ri-se. .Hoje é dia de ver Anne Teresa a usar o seu corpo experiente, de professora e mãe, para dançar uma peça criada há 30 anos, quando era ainda uma jovem a experimentar ao som de Steve Reich - o músico que tanto a influenciou e que voltaria a usar em outras peças. A ligação entre o movimento e a música, algo tão característico da sua obra, começou neste 'Fase' em que Keersmaeker e Tale Dolven "usam a repetição com um efeito quase alucinogéneo", como escreveu o crítico do The Guardian Luke Jennings. .Sábado, a coreógrafa não dança, mas o palco voltará a ser ocupado só por mulheres: 'Rosas danst Rosas' foi a peça que catapultou a companhia Rosas para o mundo e que se tornou a mais emblemática peça de Keersmaeker (e isto aconteceu muito antes de Beyoncé a ter imitado). O estilo minimalista de 'Fase' é aqui aplicado à música de Thierry De Mey e Peter Vermeersch, que foi composta ao mesmo tempo que a coreografia.."O mundo mudou muito e o facto de continuar a fazer estas peças e que elas continuem a dizer algo, embora diferente do que diziam, também tem um significado", diz Keersmaeker. Mas, na obra de Anne Teresa, como nesta bienal - estas peças são mesmo só o começo.