25 anos de estudos sobre a luta pela igualdade das mulheres em Portugal
Há pouco mais de 25 anos a Universidade Aberta transformava o paradigma português dos estudos de género, com o primeiro curso feminista em Portugal. Pensado pelas professoras Laura Bettencourt Pires e Maria Beatriz Rocha Trindade, o Mestrado em Estudos Sobre as Mulheres estuda "as relações entre mulheres e homens numa sociedade diversa e complexa" desde 1995.
Ao DN, Rosana Albuquerque - coordenadora do mestrado - conta que esta área de investigação surgiu em Portugal com a necessidade de documentar as vivências das mulheres, numa altura em que se estudava a sociedade de forma neutra. "Havia muito pouca investigação e poucos estudos que tornassem visível as situações das mulheres. Era como se os estudos fossem neutros. Em termos estatísticos, hoje já é comum vermos representados nos dados tanto mulheres como homens, mas há 25 anos isso não era habitual". Nesse sentido, os estudos das mulheres "vieram viabilizar e desocultar as experiências e as vivências das mulheres na sua multidimensionalidade", passando por "resgatar o papel das mulheres que estiveram na origem dos movimentos pelos direitos das mulheres, pela igualdade e o direito ao voto", diz.
Ao longo de 25 anos, o mestrado foi "pensando sempre no passado em ligação com o futuro", alterando os conteúdos para manter os estudantes a par da atualidade. Mas foi a partir de 2011 que o curso de Estudos Sobre as Mulheres passou a conhecer novos horizontes: as aulas passaram a ser exclusivamente online, abrindo caminho a novos alunos estrangeiros. "A partir de 2011, com o ensino à distância (e-learning) houve uma mudança a nível dos estudantes porque agora a maioria não reside em Portugal. São estudantes da Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Moçambique, Brasil ou que residem em outros países europeus".
Com o sistema interativo online da Universidade Aberta, "coloca-se em conjunto pessoas que estão em fusos horários diferentes e há uma grande diversidade de estudantes e docentes com realidades fora da vida portuguesa", o que permite "construir o conhecimento de forma partilhada" e com perspetivas distintas.
Rosana Albuquerque admite que "os contextos são agora muito mais diversos do que eram há 25 anos porque os próprios estudantes refletem essa diversidade. Logo, as disciplinas tiveram de acompanhar". A maioria dos estudantes são mulheres com realidades geográficas muito diferentes, ainda que existam também homens a frequentar o curso. "As pessoas que procuram este mestrado são pessoas que trabalham na área das igualdades de género, intervenção política, jurídica, social e que precisam de uma ferramenta teórica que os ajude a pensar nas questões de género", reforça.
"Ser feminista é apenas ser justo e ser lógico" - a emblemática frase de Ana de Castro Osório é a escolhida por Rosana Albuquerque para assinalar a luta feminista.
Após anos de luta pela igualdade de género, a coordenadora do Mestrado em Estudos Sobre as Mulheres faz questão de destacar "o empenho, o esforço e a generosidade que tantas mulheres e homens colocaram na luta pelos direitos e pela igualdade de género". No entanto, aponta o preconceito que ainda se faz sentir nos movimentos feministas: "às vezes ainda hoje se ouvem pessoas, incluindo jovens, a dizer que não gostam da palavra feminismo e que não gostam da conotação feminista. Mas o feminismo é a luta pela igualdade e pela dignidade de todas as pessoas, independentemente do seu sexo, pertença religiosa, cultura, condição física e idade. Não é uma luta em que se criem desvantagens de uns em relação a outros ou que se perpetue essa desigualdade". "Quando os primeiros movimentos sufragistas começaram a reivindicar o direito de voto para as mulheres, para muitas pessoas parecia algo completamente utópico e inimaginável. Hoje o que se reivindica pode também parecer inimaginável, mas daqui a cem anos pode já estar a ser concretizado no nosso dia a dia", relembra.
Assim sendo, o feminismo "é um legado histórico que nos foi deixado e não devemos desistir dele. Devemos reforçá-lo, pensando sempre em construir um futuro com igualdade, justiça e dignidade entre mulheres e homens", frisa. "Isto não é um projeto que já esteja acabado. É um projeto sempre em construção".
ines.dias@dn.pt