23 filmes de Ingmar Bergman para (re)ver até 13 de setembro
O Sol brilha numa paisagem natural a preto e branco. A graciosa luz incide sobre a água e realça o cenário idílico. O calor sossega os corpos e liberta a fantasia neles contida: é o verão dos amantes segundo Ingmar Bergman. Aquele que se pode ver no magnífico Um Verão de Amor (1951), "o mais belo dos filmes", como escreveu Godard, sobre o regresso de uma bailarina à memória encantadora e trágica da primeira paixão, ou em Mónica e o Desejo (1953), com a sugestiva nudez da atriz Harriet Andersson, filme que lançou definitivamente Bergman no plano internacional... Inolvidável é a visão da silhueta feminina entre a rugosidade das rochas.
Estes são apenas dois dos 23 títulos do cineasta sueco - numa obra com mais de 50 - que podem ser vistos ou revistos a partir de amanhã no Espaço Nimas, em Lisboa (alguns em cópias restauradas). Filmes que, na sua diversidade, estabelecem entre si um diálogo íntimo, renovando o fascínio por um dos mais plenos mestres da sétima arte. Quem não provou a nostalgia de Morangos Silvestres (1957), com Victor Sjöström, ou não experimentou a depuração dramática de O Silêncio (1963) e Lágrimas e Suspiros (1972), tem aqui nova oportunidade para sacudir as falsas noções acerca do universo bergmaniano. As obras que o compõem são reflexo dos mais profundos enigmas humanos, e a sua modernidade pulsa numa rara justeza estética.
O ciclo atravessa a filmografia desde o final da década de 1940, com A Prisão, até 1982, ano de Fanny e Alexandre. Dois títulos que podemos unir, de impulso, pela ideia do êxtase infantil diante da projeção de luz: cada um deles configura momentos em que as personagens se deleitam com imagens projetadas num quarto escuro. Um dos regozijos, aliás, do próprio cineasta enquanto criança, como conta na autobiografia Lanterna Mágica. Não por acaso, o drama familiar Fanny e Alexandre, nesse retorno à expressão da infância tão explorada na literatura de Bergman (basta lembrar o romance Filhos de Domingo), acaba por ser uma espécie de compêndio dos seus temas. Filho de um autoritário pastor luterano, o realizador sueco nunca deixou de perseguir o existencialismo paredes-meias com a religião, encontrando no amor a hipótese de uma manifestação divina, e na dúvida o alicerce para o seu filme predileto: Luz de Inverno (1963).
O teatro, por sua vez, constituiu-se uma importante base formal, invadindo a narrativa como apontamento vigoroso da ilusão, de que O Rosto (1958), filme sobre uma trupe de artistas, será um bom exemplo, ou a cena de uma representação teatral caseira no belíssimo Em Busca da Verdade (1961). Neste último, redescobrimos Harriet Andersson entregue a uma virtuosa angústia no isolamento da ilha de Fårö, onde Bergman viveu e rodou também o icónico Persona (em português, A Máscara, de 1966).
Conotado com a frieza de títulos como esse, a que se junta O Sétimo Selo (1957), em que a Morte joga xadrez, Ingmar Bergman é menos conhecido na vertente da comédia. Sorrisos de Uma Noite de Verão (1955) surge como uma referência quase eremítica, e, no entanto, temos neste programa, além do já mencionado O Rosto, o nocivo musical A Força do Sexo Fraco (1964), Uma Lição de Amor (1954), e o delicioso O Olho do Diabo (1960), que a partir de um provérbio irlandês monta uma delirante farsa entre o inferno e o paraíso terreno.
Neste filme há uma lapidar descrição da mulher nórdica - "sociável no verão, coberta no inverno". Assim é também o cinema de Bergman, esse explorador das estações na nossa paisagem interior.
Amanhã, 17 de agosto
Da Vida das Marionetas
Sexta, 18 de agosto
Flauta Mágica
Sábado, 19 de agosto
Cenas da Vida Conjugal
Domingo, dia 20
Fanny e Alexandre
Segunda, dia 21
A Fonte da Virgem
Terça, dia 22
A Prisão
Quarta, dia 23
Ritual
Quinta, dia 24
Mónica e o Desejo
Sexta, dia 25
A Máscara
Sábado, dia 26
Lágrimas e Suspiros
Domingo, dia 27
Morangos Silvestres
Segunda, dia 28
Em Busca da Verdade
Terça, dia 29
O Olho do Diabo
Quarta, dia 30
Rumo à Felicidade
Quinta, dia 31
O Rosto
Sexta, 1 de setembro
Luz de Inverno
Sábado, 2 de setembro
Mónica e o Desejo
Domingo, 3 de setembro
O Sétimo Selo
Segunda, 4 de setembro
A Força do Sexo Fraco
Terça, 5 de setembro
Uma Lição de Amor
Quarta, 6 de setembro
Morangos Silvestres
Quinta, 7 de setembro
O Silêncio
Sexta, 8 de setembro
Um Verão de Amor
Sábado, 9 de setembro
Sorrisos de Uma Noite de Verão
Domingo, 10 de setembro
Sonata de Outono
Segunda, 11 de setembro
A Máscara
Terça, 12 de setembro
Cenas da Vida Conjugal
Quarta, 13 de setembro
Fanny e Alexandre
Horários
13.30; 15.30; 17.30; 19.30; 21.30
Exceto
Flauta Mágica: 14.00; 16.30; 19.00; 21.30
Cenas da Vida Conjugal e Fanny e Alexandre: 14.00; 17.30; 21.00