2,1 milhões imunizados e "junho já será diferente"
A população portuguesa com anticorpos contra o SARS-CoV-2 ultrapassa os 21,5 %. O último Inquérito Serológico Nacional Covid-19 indica que 13,5% das pessoas estão imunes por infeção, a que se juntam os 8% que já tomaram as duas doses da vacina. Mas o virologista Pedro Simas considera que se deve somar os 30 % que receberam pelo menos uma dose da vacina dado o elevado grau de eficácia, o que significa que o país está perto de atingir os 50 % de pessoas imunes. E defende que se alcançará a imunidade de grupo no início do verão. Foi também esse o novo prazo referido pelo secretário de Estado Diogo Serras Lopes. Mas a task force mantém o final do verão.
"É uma estimativa que já venho referindo há muito tempo e é uma estimativa por baixo. Ficaria muito contente se tiver razão, que vamos atingir a imunidade de grupo no início do verão e vai notar-se a diferença a partir de maio. Junho já será muito diferente e poderemos fazer uma vida praticamente normal no verão", sublinha o cientista.
Isto porque o início do verão começa a ser apontado como o prazo para Portugal adquirir a imunidade de grupo contra o novo coronavírus, em grande parte devido à vacinação. Ontem foi o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, que o afirmou durante a inauguração de um centro de vacinação em Portimão. "Costumo dizer a frase "vacina chegada é vacina dada" e continuamos a fazer isso. Se as previsões se concretizarem (...) então, durante o verão, mais para o início do que para o final, chegaremos aos 70% da população adulta vacinada", disse, citado pela Lusa.
A task force, responsável pelo Programa de Vacinação Covid-19, não está assim tão otimista. Mantém que o final do verão será a data indicada para concluir a vacinação de 70% dos habitantes.
Estão muitas variáveis em jogo. Desde logo, se os laboratórios passarão a cumprir os prazos para a entrega das vacinas. A UE intentou uma ação legal contra a AstraZeneca que visa a entrega de 300 milhões de vacinas até junho. Em Portugal, está por decidir se as 678 mil pessoas que tomaram a primeira dose da AstraZeneca vão receber a segunda e quais os grupos etários. A Direção-Geral da Saúde entende agora que só os maiores de 60 anos iniciam esta vacina. E falta emitir um parecer sobre a Johnson & Johnson, que é de toma única, com as recomendações sobre a quem deve ser administrada.
Ambos os laboratórios registaram a ocorrência de coágulos sanguíneos em vacinados, tendo a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) concluído que os benefícios eram superiores aos efeitos secundários.
A vacina é fundamental para o combate à pandemia e Pedro Simas convenceu-se de que a situação estava resolvida a partir do momento em que surgiu uma. Mas considera que é importante também ter em conta o elevado número de infetados, que adquirem os anticorpos, apesar de todas as dúvidas que ainda possam existir sobre o comportamento do SARS-CoV-2.
"Todas as pessoas infetadas ficam imunizadas. Ainda há quem diga que depende das variantes, que a imunidade não é duradoura e tem de se repetir a vacina. O que a ciência e a prática demonstram é que a forma de nos protegermos é cumprindo as regras e que as vacinas têm efeitos para as todas as variantes. É isso que explica o baixo número de infetados, que esperava ser maior. O vírus vai tornar-se endémico e expandir-se, é o percurso normal", argumenta Pedro Simas. Isso não significa, no entanto, aligeirar as medidas de prevenção da doença, "para não morrermos na praia".
O inquérito serológico do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) incidiu sobre a população residente em Portugal, com idades entre 1 e 80 anos e que realizaram os testes entre 2 de fevereiro e 31 de março. Concluíram os cientistas que 13,5% adquiriram anticorpos por infeção e 2% por vacinação. Passou um mês e, entretanto, segundo os registos do Plano de Vacinação, foram administradas 2 913 895 doses da vacina até ontem, sendo que 788 174 já levaram as duas doses, o que significa 8% da população. O objetivo da task force é que sejam vacinadas 100 mil pessoas por dia.
Entre os vacinados, quem levou a primeira dose adquiriu 74,9% dos anticorpos, percentagem que aumenta para 98,5% com duas doses levadas há pelo menos sete dias, ou seja, uma imunidade quase total.
A maior prevalência da infeção por SARS-CoV-2 é nas regiões norte e Lisboa e vale do Tejo. É mais elevada na população em idade ativa e mais baixa no grupo etário entre os 70 e os 79 anos. Outra das conclusões é que os anticorpos estão igualmente distribuídos pelos que têm menos de 20 anos. Os resultados agora divulgados correspondem à segunda fase do inquérito do INSA. A primeira foi realizada entre maio e julho de 2020 e estimou-se então uma seroprevalência de 2,9 % da população portuguesa.
O trabalho é desenvolvido pelos departamentos de epidemiologia e de doenças infecciosas do instituto, em parceria com a Associação Nacional de Laboratórios Clínicos, a Associação Portuguesa de Analistas Clínicos e 33 unidades do Serviço Nacional de Saúde. Nesta segunda fase, analisaram os dados de 8463 pessoas. O relatório será publicado, no site do INSA, na primeira quinzena de maio.