20 artistas, 20 prémios. Um oásis em plena pandemia no MAAT

O MAAT inaugura nesta quinta-feira uma exposição que reúne obras dos 20 artistas que premiou desde 2000. Das revelações Joana Vasconcelos a Diana Policarpo, de Lourdes Castro a Mário Cesariny.
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Que os 20 anos dos prémios da Fundação EDP eram data incontornável deste ano já se antecipava em janeiro. A pandemia trocou as voltas - tudo se fez à distância, com longas videochamadas e e-mails e não com visitas a ateliês - mas não interrompeu o plano, ao contrário do que tantas outras vezes aconteceu aos artistas.

"Demos oportunidade de criarem coisas novas", criando "uma experiência coletiva", ainda que através de um ecrã, dizem Inês Grosso e Rosa Lléo, as curadoras da exposição Oásis ao Entardecer, que nesta quinta-feira inaugura ao público no MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa.

Lourdes Castro, a primeira de todas as vencedoras do Grande Prémio EDP, em 2000, conversou desde a sua Madeira natal e mostra aqui uma das suas mais emblemáticas obras - o Herbário de Sombras, que pertence ao Museu do Mónaco. Artur Barrio, a quem foi atribuída a distinção em 2016, é conhecido pela resistência durante a ditadura militar e falou com as curadoras, desde um veleiro ancorado na baía de Guanabara, sobre o seu grande desgosto com o atual estado do Brasil. Claire de Santa Coloma está na Austrália e vive junto a uma reserva natural. Mariana Silva encontra-se em Nova Iorque. Priscila Fernandes vive e trabalha em Roterdão.

"Não queríamos mostrar uma sala de troféus, o objetivo era pôr todos em pé de igualdade, em termos conceptuais, de linguagens", refere Inês Grosso. Na grande galeria do MAAT, eles conversam sem hierarquias, sem cronologia, sem querer fazer uma retrospetiva nem ser documental.

Uma ideia acabou por ganhar terreno, a de contágio, mas procurando o "sentido positivo", a influência que os artistas foram deixando nas gerações seguintes, explicam ao DN as curadoras Inês Grosso, curadora residente da Fundação EDP, e Rosa Lléo, de Barcelona, que estabelecem as pontes entre os artistas.

André Romão, vencedor em 2007, disse-o logo nas primeiras conversas: "Eu comecei a usar plexiglas por causa da Lourdes Castro." Foi assim que nasceu a sua peça, citação direta do trabalho da artista, fundadora do KWY, mestre das sombras. A artista, de 89 anos, recebeu-o, com Inês Grosso, no ateliê do Funchal.

Neste jogo de referências, mesmo ao lado da peça Volupta, de Joana Vasconcelos, a artista Priscila Fernandes, que em 2011 venceu o prémio para novos artistas, cita a vencedora de 2000, num vídeo sobre a relação entre o seu trabalho, as vanguardas e o lazer, a partir de um cenário quase surreal, num parque de diversões em Roterdão.

E Vasco Araújo (prémio novos artistas em 2003) encontra-se com Mário Cesariny numa peça criada para a exposição. Os marinheiros da obra do surrealista, entre outras, em exposição são alvo de referência de Araújo numa peça criada para esta ocasião: esses marinheiros, a linha de água e os textos em sequência, antes de chegarem aos universos mais sombrios de Eduardo Batarda e Jorge Molder.

A exposição começa com a grande linha criada por Carlos Bunga, vencedor em 2003, que atravessa a galeria e nas costas do projetor que passa o filme A Grande Bebedeira (2007) da dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva, vencedores em 2004, que foi criada para o Inhotim - Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico, em Minas Gerais.

Do outro lado da tela estão duas séries de trabalhos de Artur Barrio dos anos de 1970, incluindo trouxas ensanguentadas - crítica aos mortos que a ditadura militar fez - que se tornaram uma marca do seu trabalho. Acompanham-no neste núcleo as peças de Álvaro Lapa (1939-2006), incluindo uma leitura da sua obra em miniatura, que o artista preparou para uma das suas retrospetivas.

E numa caixa escura, a peça que João Leonardo apresentou em 2005, ano em que venceu, a única repetente. "Quando ganhou o prémio, a obra foi muito polémica", lembra Inês Grosso. Pelo seu tema - o artista bebe cerveja, urina, bebe a urina - terá tido menos visibilidade, algo que agora se repõe neste cubículo escuro que "remete para as cabines de urinóis públicos" em que o público está como voyeur - é a mesma peça, mas acrescentando as leituras que suscitou há 15 anos.

O arquiteto Diogo Passarinho transformou a galeria do MAAT num lugar em que as divisórias fixam núcleos mas não obstruem a visão. "Queríamos criar momentos de diálogos", diz Inês Grosso, e "não haver só um lado". "O verso é a frente e vice-versa e estes ângulos permitem ver de todos os lados", acrescenta Inês Grosso.

É justamente assim que começa a exposição: olhando o projetor que passa as imagens do filme A Grande Bebedeira, da dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva, de 2007.

Ao mesmo tempo, os Atlas Projetos criaram a identidade visual da exposição, e "num processo de arqueologia visual, após dois dias a ver os arquivos digitais da Fundação EDP", recuperaram o lettering usado nos anos em que cada artista venceu o seu prémio. Isto é: Álvaro Lapa, Ana Jotta, Artur Barrio, Eduardo Batarda, Jorge Molder, Lourdes Castro, Mário Cesariny (Grande Prémio de Arte) e os novos artistas Ana Santos, André Romão, Carlos Bunga, Claire de Santa Coloma, Diana Policarpo, Gabriel Abrantes, Joana Vasconcelos, João Leonardo, João Maria Gusmão & Pedro Paiva, Leonor Antunes, Mariana Silva, Priscila Fernandes, Vasco Araújo.

Oásis ao Entardecer pode ser vista no MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia até 18 de fevereiro de 2021.

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