Dos 4,7 milhões de euros previstos para a recuperação ambiental da mina do Lousal, em Grândola, já foram gastos 2,3 milhões, mas o sistema está longe da perfeição. A mina, conhecida pelo Museu Mineiro e o Centro de Ciência Viva aí instalados, é uma das 175 abandonadas do País. O DN pediu análises à água que sai da estação de tratamento ali instalada e o resultado não deixa dúvidas: a acidez é tão elevada que extravasa os parâmetros definidos por lei para a água de rega. Parâmetros estes que permitem na rega a presença de metais como o cobre e o zinco, não aceitáveis na água de consumo pela toxicidade que provocam no corpo humano.. "A percentagem de ferro diminuiu muito, mas o pH [potencial hidrogeniónico; índice de acidez] ainda não está na percentagem que queremos. As consequências não são muito grandes, mas queremos corrigir. Até porque detetámos ao longo da ribeira [de Corona] outro ponto que estava a escorrer e a contaminar", reconhece ao DN o responsável pela Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), José Nero. .O DN recolheu uma amostra numa concentração de água contaminada pelos minerais, num local onde antes passavam os camiões carregados de minérios para o caminho de ferro. Uma outra análise retirada no final do processo de tratamento revela que o índice da acidez da água permanece exatamente igual (ver infografia). A concentração de zinco também se mantém e apenas há redução de cobre e de ferro. "Estes resultados estão acima dos parâmetros definidos pela lei para água de rega, menos exigentes que os definidos para a água de consumo", explica ao DN o professor e investigador da Universidade de Évora António Candeias, já com trabalho desenvolvido nalgumas minas do País. .Manuel João Vaz, 55 anos, nascido e criado no Lousal com uma passagem pelas minas de S. Domingos, conhece a mina como a palma das suas mãos. Foi lá que trabalhou como eletricista, seguindo os passos do pai e da família. Chegou a fazer parte do sindicato e a exigir indemnizações à proprietária SAPEC para os funcionários feridos em serviço. Hoje é um dos 20 mineiros que ainda ali vivem e luta por manter a memória e a cultura de então. "Quando morrermos, a nossa história morre connosco.".Há dois anos, aquando das obras de reabilitação, disseram-lhe que a ribeira de Corona por esta altura já teria peixes para pescar. "Nem um", atira. A contaminação da água é quase semelhante à registada há uma década, quando se distraía com o gado e via as cabras definhar por terem ingerido água contaminada. "Nunca mais engordavam, percebíamos logo o que se tinha passado"..A mina do Lousal fica localizada na Faixa Piritosa Ibérica e atingiu o seu auge na década de 1950, quando se tornou a mina de pirite mais moderna de Portugal. Hoje, onde era o armazém há um restaurante com o mesmo nome, a clínica médica é uma associação de reformados, a loja de artesanato e o café substituem antigos escritórios. E na zona de extração funciona um museu. Obra da Fundação Frédéric Velge..A mina do Lousal é uma das 175 abandonadas no País, segundo um levantamento feito pela EDM - 61 de minérios radioativos e 114 de sulfuretos polimetálicos. De acordo com o engenheiro José Nero, que só a partir de 2007 conseguiu pôr a andar alguns projetos, numa primeira fase foi feita uma hierarquização das minas com maiores perigos ambientais, numa relação custo/benefício. .A mais urgente, e já intervencionada em 2008, foi a mina de urânio da Urgeiriça. Um estudo concluído sete anos antes, com o apoio do Instituto Ricardo Jorge e do Observatório Nacional de Saúde, referia uma maior taxa de mortalidade por "neoplasias da traqueia, dos brônquios e do pulmão" em concelhos onde estavam localizadas minas de urânio. ."Os tratamentos são diferentes em cada uma das minas, desde confinamento de solos, aspetos paisagísticos, culturais, de transformação para aproveitamento dos solos ou aspetos de segurança", enumera José Nero. Em abril deverão ser disponibilizados 65 milhões de euros (verbas comunitárias) para avançar com mais obras. A Herança das Minas Abandonadas, como a EDM lhe chama, só estará resolvida em 2020. Para já, gastaram-se 42, 3 milhões de euros.