Mais 375 casos de covid-19 em 24 horas. Número mais elevado dos últimos cinco dias
Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais oito pessoas e foram confirmados mais 375 casos de covid-19 (um crescimento de 0,8% em relação ao dia anterior). É o número mais elevado desde há cinco dias - a dez de julho foram 402. Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta quarta-feira (15 de julho), no total, desde que a pandemia começou registaram-se 47426 infetados, 32110 recuperados (mais 560) e 1676 vítimas mortais no país.
Há, neste momento, 13 640 doentes portugueses ativos a ser acompanhados pelas autoridades de saúde. Sendo que 96,5% dos casos estão a ser tratados em casa, informou a secretária de estado adjunta da Saúde, Jamila Madeira, em conferência de imprensa.
288 dos 375 novos infetados (76,8%) têm residência na região de Lisboa e Vale do Tejo. Os restantes casos estes estão distribuídos pelo Norte (mais 31), pelo Algarve (25), pelo Centro (22), pelo Alentejo (dez) e pelos Açores (um).
A atualização dos infetados por região é a análise geográfica mais profunda possível de se fazer hoje, uma vez que, nos próximos tempos, a tabela do boletim onde estão expressos os casos por concelho será atualizada apenas à segunda-feira. Isto "decorre de uma necessidade de atualizar e melhorar os sistemas informáticos", explicou Jamila Madeira, sem que isto significa uma inibição "do trabalho em termos de terreno".
Apesar disto, durante a conferência de imprensa, a diretora-geral da Saúde, referiu, em resposta ao jornal Público, que "o concelho que, nos últimos 14 dias, apresenta uma taxa de incidência por 100 mil habitantes maior é o concelho da Amadora", com cerca de 150 casos por cada cem mil pessoas, "que é um dos concelhos que também tem estado a descer bastante", acrescentou Graça Freitas.
Já os oito óbitos localizam-se: três em Lisboa e Vale do Tejo, três no Norte, um no Centro e outro no Alentejo. Este último, está relacionado com o surto num lar em Reguengos de Monsaraz. Trata-se de uma mulher de 82 anos que estava internada no Hospital do Espírito Santo de Évora, de acordo com informações prestadas hoje pela Câmara Municipal. A idosa é a 17.ª vítima mortal associada a este surto, já "estabilizado", segundo a diretora-geral da Saúde. Graça Freitas justificou ainda que vão acontecendo mortes "porque tivemos casos graves". "A população é muito idosa e com comorbilidades ".
A taxa de letalidade do país é hoje de 3,5%, subindo aos 16,1% no caso das pessoas com mais de 70 anos - as principais vítimas mortais.
O número de recuperados volta a ser hoje motivo de destaque. Foram dadas como curadas mais 560 pessoas, nas últimas 24 horas. Desde 24 de maio que este valor não era tão grande; na altura houve uma atualização e foram confirmadas, de uma vez, 9 844 pessoas livres da doença.
Já ontem o número de recuperados tinha sido mais elevado (485), mesmo assim ficou aquém do de hoje.
Quanto às hospitalizações, esta quarta-feira, estão internados 478 doentes (mais seis que no dia anterior). Nos cuidados intensivos encontram-se 68 pessoas com covid-19 (menos uma).
O boletim da DGS de hoje indica ainda que aguardam resultados laboratoriais 1550 pessoas e estão em vigilância pelas autoridades de saúde mais de 35 mil. O sintoma mais comum entre os infetados é a tosse (que afeta 36% dos doentes), seguida da febre (28%) e de dores musculares (21%).
Questionada sobre qual o ponto da situação sobre as possíveis sequelas em doentes covid-19, a diretora-geral da Saúde reafirmou que "há de facto estudos que apontam para algumas sequelas da doença e até estudos que indicam que mesmo em pessoas [em que a doença se manifestou de forma mais] benigna pode deixar algumas sequelas".
No entanto, segundo Graça Freitas, ainda é cedo para retirar estas conclusões, lembrando que "a doença ainda é recente, tem pouco mais de seis meses, desde que se propagou na China, menos ainda no mundo" e a muitos dos estudos citados falta-lhes "mais robustez cientifica". São muitos vezes análises muito focadas numa determinada população ou até na descrição de apenas um caso clínico, explicou a responsável pela DGS.
"Às vezes, esses estudos são feitos com amostras pequenas. E ainda passou relativamente pouco tempo para saber se estas sequelas serão ou não permanentes. Podem ser passageiras", diz.
Nos últimos meses, vários especialistas têm apontado para a possibilidade da durabilidade de sequelas em doentes covid, como fadiga, insónias, ansiedade ou até lesões pulmonares e neurológicas.
A preocupação de uma segunda onda persiste e o Governo tem dito que se está a preparar para esta situação. Segundo a secretária de estado adjunta da Saúde, "a DGS está a preparar um plano de inverno detalhado, que em breve será conhecido". Mas para já, Jamila Madeira adianta que este plano envolverá a continuação do reforço de recursos humanos, da reserva nacional estratégica e de meios para a medicina intensiva e para a saúde pública, para além de um aumento da capacidade laboratorial do país.
A aposta não deixa de fora a telessaúde, que deverá receber mais equipamentos nos próximos tempos para continuar a ser uma alternativa - sempre que possível - à atividade programada. Até ao momento, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) assegurou "mais de oito milhões de consultas não presenciais" desde o início do ano, representando um aumento de 65% face a 2019, afirmou a secretária de Estado Adjunta e da Saúde.
Jamila Madeira referiu também que, desde o início do ano, a linha SNS 24 deu resposta a cerca de 1,4 milhões de chamadas e a plataforma de acompanhamento de doentes Trace Covid registou, em média, cerca de cinco mil utilizadores ativos por dia.
A mesma preocupação (de uma segunda onda da doença) tinha sido referida, horas antes, pelo primeiro-ministro português, que assumiu, esta quarta-feira, que o país não está preparado para essa eventualidade. "Há uma coisa que sabemos: Não podemos voltar a repetir o confinamento que tivemos de impor durante o período do estado de emergência e nas semanas seguintes, porque a sociedade, as famílias e as pessoas não suportarão passar de novo pelo mesmo", declarou António Costa, no discurso que encerrou a apresentação do programa Simplex 20-21, no Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações, em Lisboa.
O líder executivo disse ainda que o trabalho de adaptação da sociedade "tem de ser feito agora, porque ainda há algum tempo de distância para evitar o pior" no próximo outono e inverno.
"O tempo é curtíssimo, se calhar não conseguimos fazer tudo, mas temos mesmo de arregaçar as mangas e fazer o máximo possível para assegurar a continuidade do funcionamento da sociedade, designadamente das escolas, das empresas e dos serviços da administração pública, mesmo numa condição tão ou mais adversa como aquela que vivemos em março. Temos de acelerar este processo", reforçou António Costa.
O novo coronavírus já infetou mais de 13,4 milhões de pessoas no mundo inteiro até esta quarta-feira e provocou 581 732 mortes, segundo dados oficiais. Há agora 7,8 milhões de recuperados.
No total, os Estados Unidos da América são o país com a maior concentração de casos (3 546 278) e de mortes (139 162). Em termos de número de infetados, seguem-se o Brasil (1 931 204), a Índia (939 192) e a Rússia (746 369). Portugal surge em 40.º lugar nesta tabela.
Quanto aos óbitos no mundo, depois dos Estados Unidos, o Brasil é a nação com mais mortes declaradas (74 262). Depois, o Reino Unido (44 968) e o México (36 327).
Com a pandemia em contínua expansão em várias regiões do mundo, a possibilidade de novas vagas a ganhar terreno na Europa e na Ásia, e a poucos meses de um inverno carregado de incertezas no hemisfério norte, a corrida ao desenvolvimento de uma vacina contra a SARS-CoV-2 é frenética - e parece dar passos promissores.
Neste preciso momento, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), das 163 candidatas a vacinas contra o coronavírus que estão atualmente em desenvolvimento no mundo, 23 encontram-se em fase de avaliação clínica, com testes já realizados em grupos restritos de voluntários, e duas delas já entraram, ou estão a entrar, na terceira e última fase do processo, com ensaios clínicos que envolvem milhares de pessoas. E outras deverão lá chegar dentro de pouco tempo.
Há, no entanto, muito caminho ainda para andar. O prazo estimado desde a primeira hora pela OMS, de 12 a 18 meses, para que uma vacina contra a covid-19 possa estar disponível no mercado, não sofreu nenhum recuo. E, a cumprir-se, este será de qualquer forma um recorde absoluto - e histórico. Até agora, a vacina criada mais rapidamente foi a da papeira, e levou quase cinco anos. A concretizar-se a estimativa da OMS de 12 a 18 meses para a vacina da covid-19, esse recorde será pulverizado e reduzido para menos de metade.