1500 espécies. O "senhor jardim" que nos mostra os quatro cantos do mundo

Monumento nacional desde 2010, o Jardim Botânico pertence ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência e acolhe entre 1300 e 1500 espécies diferentes, vindas de paragens tão distantes como a Nova Zelândia ou Japão.
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Inaugurado em 1878, o Jardim Botânico de Lisboa estende-se por cerca de quatro hectares de área verde e "dos jardins botânicos da capital é o que tem mais espécies diferentes".

Situado na zona do Príncipe Real, acolhe cerca de 1500 espécies oriundas dos quatro cantos do mundo, embora o número exato não seja fácil de contabilizar.

"É sempre difícil chegar a um número certo porque, para além das espécies que são plantadas, temos também espécies autóctones que aparecem de forma espontânea - e que também deveriam ser contabilizadas nesta coleção que é um jardim", explica Ivo Meco, botânico amador e autor do livro Jardins de Lisboa, ao DN.

O jardim foi inaugurado em 1878 mas começou a ser utilizado como terreno de cultivo muito antes. "Está inserido aqui no Monte Olivete, que não era dentro da cidade como nós o conhecemos agora mas nas cercanias de Lisboa", lembra. Na área onde "atualmente está o jardim, estava o noviciado da Cotovia, dos Jesuítas, que, provavelmente, também tinham aqui as suas hortas."

Após a expulsão dos jesuítas de Portugal, o espaço foi convertido no Real Colégio dos Nobres, "um projeto que não correu muito bem", explica Ivo Meco.

Mais tarde, por volta de 1838, foi decretado que deveria haver aqui uma escola politécnica e o jardim serviria para apoiar as aulas de botânica. Apesar deste decreto, segundo o autor de Jardins de Lisboa, "só nos anos 1870, 1873 é que se começou a plantar o jardim." E só abriu ao público cinco anos após o início dos trabalhos, ainda no século XIX. Ou seja, "já é um senhor jardim", afirma o botânico com um sorriso.

Destaquedestaque"O jardim botânico cumpre muitas funções. É um jardim que tem plantas para serem visitadas, para serem estudadas e para serem protegidas."

Considerado um dos pulmões de Lisboa, o espaço é rico em espécies tropicais originárias de várias regiões do mundo, como a Nova Zelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul - uma variedade que se deve à orografia do local onde se insere. O declive natural do jardim faz com que existam zonas com diferentes microclimas e espécies distintas. Na parte superior, a da Classe, que "apanha mais sol e drena muito mais" foram plantadas as espécies que gostam de climas quentes e secos. Esta zona é conhecida como "jardim do México" e é onde estão as plantas suculentas e carnudas. A parte inferior, do Arboreto, é uma zona "mais escondida, com mais humidade e com plantas tropicais"" que precisam de mais humidade, explica Ivo Meco.

Das 1500 espécies do jardim, muitas são "material" de investigação botânica e outras desempenham um papel fundamental na conservação de plantas ameaçadas de extinção. "O jardim botânico cumpre muitas funções. Não é apenas um jardim que tem uma coleção de plantas para as pessoas visitarem. É um jardim que tem plantas para serem visitadas, é um jardim que tem plantas para serem estudadas, é um jardim que tem plantas para serem protegidas", enumera Ivo Meco.

Muitos jardins botânicos espalhados pelo mundo dedicam-se a "acolher espécies que de alguma forma possam estar em perigo na natureza", e o de Lisboa não é excepção. O objetivo é conseguir que as espécies se reproduzam e, depois, disseminá-las por outros jardins.

No Jardim Botânico de Lisboa existem algumas espécies difíceis de encontrar na natureza, como as cicadáceas (de aspeto semelhante a uma palmeira), que são um dos ex-libris.

A título de exemplo, Ivo Meco destaca "o Encephalartos [um género de cicadácea], uma planta da África do Sul que embora seja muito comum em coleções privadas ou em jardins botânicos, na natureza começou a desaparecer porque foi retirada para ser vendida e as populações decresceram muito".

Outro dos "tesouros naturais" do jardim é um exemplar vivo da árvore-do-imperador, também conhecida como marmeleiro-do-imperador, uma planta que só existe em mais outros cinco jardins do mundo.

"O Chrysophyllum Imperiale é uma planta da mata atlântica - uma mata brasileira que está a desaparecer - e portanto, ter um exemplar destes no outro lado do mundo e que consegue vingar, torna-se um tesouro", descreve Ivo Meco.

Uma das formas de ajudar a preservar estas plantas raras é visitar estes jardins e, assim, ajudá-los a desempenhar a função de proteger e propagar essas espécies. Ivo Meco destaca a necessidade de manter a sua continuidade, já que "muitas vezes desaparecem mesmo da natureza e os jardins botânicos são o único reduto que existe."

"É imperativo um lisboeta, um não-lisboeta, visitarem este jardim", apela. "Toda a gente deve visitar pelo menos uma vez o jardim botânico - e é impossível não regressar", assegura.

E deixa um conselho em jeito de conclusão: "Visitar sempre o jardim botânico das capitais dos países para onde viajamos, porque é uma forma de percebermos a importância que essa cultura dá à preservação das plantas" e também uma forma de contribuir para que essa conservação não seja interrompida.

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