01, 02, 03, 04. Os quatro filhos de Bolsonaro sob investigação da polícia

Ao ser alvo de um inquérito para apurar favorecimento de uma empresa pelo governo, Jair Renan, o quarto descendente, junta-se a Flávio, centro do escândalo milionário das rachadinhas, Eduardo, acusado de propagar notícias falsas, e Carlos, envolvido nestes dois casos
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A polícia federal do Brasil abriu um inquérito para investigar Jair Renan Bolsonaro, filho mais novo de Jair Bolsonaro (sem partido), na segunda-feira, dia 15. Em causa uma denúncia de possível tráfico de influência e lavagem de dinheiro feita por parlamentares de oposição ao governo. Com essa investigação, todos os filhos do presidente da República, o senador Flávio (Republicanos), 39 anos, o vereador Carlos (Republicanos), 38, o deputado federal Eduardo (PSL), 36, e o empresário Jair Renan (sem partido), 22, são alvo da polícia ou da justiça. Sobra Laura Bolsonaro, 10 anos.

O caso envolve a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, empresa sediada no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e inaugurada no fim de 2020 numa festa com cobertura gratuita de fotos e vídeos de uma produtora que prestava serviços para o governo federal.

Segundo a denúncia divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo e a ser apurada pela Polícia Federal, em novembro do ano passado Renan Bolsonaro, chamado de 04 pelo pai, moveu a sua influência para que o grupo empresarial Gramazini conseguisse duas reuniões no Ministério do Desenvolvimento Regional para falar sobre um projeto de construção de casas populares. Renan Bolsonaro e o parceiro comercial dele, Allan Lucena, participaram pessoalmente dos dois encontros no ministério, ao lado, num deles, do ministro Rogério Marinho e em ambos de empresários, um dos quais da Gramazini. As reuniões foram marcadas oficialmente a pedido de Jair Fonseca, assessor especial do presidente da República.

Nas redes sociais da empresa do filho do presidente, entretanto, há fotos de duas peças de mármore da Gramazini a decorar o escritório. E Allan Lucena disse nas redes sociais que recebeu um carro elétrico da empresa Neon Motors, ligada a esse mesmo grupo empresarial, um mês antes dos encontros citados.

A defesa de Jair Renan Bolsonaro disse que não marcou reunião nem ajudou a empresa Gramazini na relação com o governo federal e que Allan Lucena é apenas um colega e personal trainer e que já não existe relação societária entre os dois. Segundo a defesa, o 04 não recebeu um carro de presente.

Em nota, o ministério disse que os técnicos do ministério esclareceram que "propostas de sistemas construtivos inovadores para a construção habitacional precisam ser avaliadas" e que "os proponentes foram orientados quanto aos procedimentos e etapas necessárias para tal avaliação".

O ministério também informou que Renan Bolsonaro, que conhecia o projeto previamente, participou da reunião na qualidade de ouvinte.

Os representantes do grupo Gramazini e do grupo Neon, assim como o Palácio do Planalto, não se manifestaram.

A polícia federal tem 30 dias para entregar um relatório com as conclusões ao Ministério Público.

Os problemas com polícia e justiça dos filhos de Bolsonaro começaram com o senador Flávio Bolsonaro, debaixo de fogo desde antes da posse do pai por causa de um esquema de corrupção milionário. Flávio, o 01, é acusado de comandar um esquema de "rachadinha" quando era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Segundo as investigações, o senador receberia a maior parte dos salários de pessoas empregadas no seu gabinete ao longo de mais de 10 anos. Depois, os recursos eram lavados numa loja de chocolates no Rio, cuja venda serviu para Flávio pagar parte da entrada da luxuosa mansão que comprou em Brasília já este ano por perto de um milhão de euros. As investigações ao primogénito de Bolsonaro, aliás, envolvem 39 imóveis.

O intermediário do desvio dos recursos seria Fabrício Queiroz, um amigo de mais de três décadas do presidente da República, que depois de meses foragido foi encontrado numa casa em Atibaia de Frederico Wassef, o advogado de Flávio.

O facto de Queiroz ter efetuado 27 depósitos em contas de Michelle Bolsonaro, atual primeira-dama e madrasta dos quatro filhos homens do presidente, continua sem explicação. Jair Bolsonaro interrompeu irritado cinco entrevistas com jornalistas depois de ser questionado sobre esses depósitos.

Reportagem do portal UOL, entretanto, depois de verificar 607.552 operações bancárias de 100 suspeitos de participação naqueles crimes, revelou indícios de que o esquema da "rachadinha" também ocorria nos gabinetes do pai, o presidente Jair Bolsonaro, quando este era deputado federal, e do irmão, Carlos Bolsonaro.

Partidos da oposição já protocolaram pedido de investigação do ministério público ao caso e a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as "rachadinhas". Nem o pai, nem o filho 02 comentaram.

Carlos também é investigado, em paralelo, por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito chamada "CPMI das Fake News". Depoimentos à comissão apontaram a participação dele e do seu irmão Eduardo, o 03, em campanhas na internet para atacar adversários políticos, com uso frequente de notícias falsas.

Em março do ano passado, o deputado Alexandre Frota (PSDB), ex-aliado da família Bolsonaro, disse na "CPMI das Fake News" que documentos enviados pelo Facebook à Câmara implicavam Eduardo Guimarães, um assessor de Eduardo, no esquema de ataques virtuais. Segundo Frota, os documentos revelaram que o computador de Guimarães está vinculado à conta do Instagram "Bolsofeios", que faz ataques contra jornalistas e críticos do governo.

Eduardo Bolsonaro disse desconhecer qualquer vínculo entre seu assessor e a conta.

FLÁVIO

O primeiro dos três filhos de Jair Bolsonaro e Rogéria Nantes tem 39 anos, é advogado de formação e senador desde 2018. Vai no sexto partido em cerca de 20 anos de carreira. Dos descendentes presidenciais é o que tem problemas mais graves com a justiça, por causa de um escândalo milionário de desvio de dinheiro público dos salários dos seus colaboradores, mas é considerado o mais político e polido da família.

CARLOS

Licenciado em Ciências Aeronáuticas, tem 38 anos e exerce há cinco mandatos consecutivos o cargo de vereador do Rio de Janeiro - elegeu-se, pela primeira vez, aos 17, concorrendo contra a mãe, Rogéria Nantes. "Carluxo" é considerado o diretor de comunicação informal do pai, envolvendo-se em constantes batalhas nas redes sociais na defesa do presidente.

EDUARDO

Aos 36 anos, Eduardo é uma espécie de elo de ligação da extrema-direita do Brasil com as suas homólogas de outros países, nomeadamente a americana. Deputado federal mais votado da história em 2018, ao contrário dos irmãos mais velhos, ambos no Republicanos, mantém-se no PSL, com quem a família rompeu em 2019. "Duda", como "Carluxo", entra em polémicas com frequência.

JAIR RENAN

Com 22 anos, é filho da segunda mulher do presidente, Ana Cristina Valle. Atua como empresário mas já ensaia entrada na política na direção do Aliança Pelo Brasil, partido fundado em torno do pai que ainda não saiu do papel. Conhecido pelo nome de guerra BolsoKid em jogos de computador online, não é o filho mais novo do presidente - ainda há Laura, 10 anos, fruto da relação de Jair com a primeira-dama Michelle.

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