Kun Agüero pode ser obrigado a deixar o futebol devido a um problema cardíaco. É um dos melhores avançados do futebol mundial mas, segundo a Rádio Catalunha, o jogador do Barcelona já foi informado pelos médicos que pode ser obrigado a abandonar a modalidade aos 33 anos..O quadro cardiológico de Agüero é mais complicado do que o inicialmente previsto. As ressonâncias e os testes de esforço a que foi submetido nos últimos dias parecem indicar uma patologia "incompatível com a prática do futebol profissional". O facto de já ter tido um episódio semelhante quando tinha 12 anos não ajuda a um diagnóstico positivo.Kun Agüero sentiu um "desconforto no peito" durante um jogo com o Alavés, da Liga espanhola, no dia 30 de outubro, que o obrigou a ser substituído. Saiu pelo próprio pé num cenário de grande preocupação e foi levado para o hospital onde fez os primeiros exames..No dia 2 de novembro, o Barcelona informou que o jogador "foi submetido a um procedimento diagnóstico e terapêutico" por um conhecido cardiologista (Josep Brugada) e que ficaria de fora da competição pelo menos "nos próximos três meses" para avaliar a eficácia do tratamento e evolução da doença. Agora sabe-se que as arritmias podem ser malignas..Nem o jogador nem o Barcelona desmentiram a notícia. "Face aos rumores, posso dizer que estou a seguir as indicações dos médicos do clube. Tenho feito exames e tratamentos. Vamos ver a minha evolução em 90 dias. Sempre positivo", escreveu o argentino no Twitter. O mesmo discurso teve o clube, que se limitou a garantir que não irá dizer nada sobre o estado de saúde do avançado "até que termine o prazo dos três meses para avaliação estipulada pelos médicos"..Mas os responsáveis não esconderam a preocupação pelos problemas cardíacos no futebol profissional do clube, pois também Caroline Graham Hansen, da equipa feminina, foi diagnosticada com uma arritmia benigna seis dias depois do argentino..Contratado este verão a custo zero depois de uma década ao serviço do Manchester City, o jogador de 33 anos marcou 388 golos ao serviço de quatro clubes (Independiente, At. Madrid, Manchester City e Barcelona) em 17 anos de carreira. Pela seleção foram 36..Se alguém sabe o Agüero está a passar é o francês Lilian Thuram (tinha 36 anos), o espanhol Rubén de la Red (25 anos), Iker Casillas (tinha 38, ao serviço do FC Porto sofreu um enfarte) e Christian Eriksen (29) - este último colapsou durante um jogo da Dinamarca no Euro 2020 e saberá em dezembro se pode voltar a jogar..Também o português Fábio Faria foi obrigado a interromper uma promissora carreira aos 22 anos devido a um problema idêntico ao que aparenta ter o argentino do Barça. Estava emprestado pelo Benfica ao Rio Ave quando caiu inanimado num Rio Ave-Moreirense. Esse jogo, a 4 de fevereiro de 2012, foi o último da carreira. O processo de tomada de consciência de que podia não voltar aos relvados foi longo e penoso. Afinal cumpria o sonho de jogar pelo Benfica. Andou em tratamentos durante um ano e meio, fez estudos fisiológicos, exames exaustivos e à terceira vez que repetiu todos os exames, o médico disse-lhe que "estava tudo bem e que em princípio poderia voltar a jogar"..Foi tudo o que quis ouvir, mas afinal não era assim. Ainda informou o Benfica desse diagnóstico, mas o clube não quis arriscar. Já tinham perdido Bruno Baião e Miklos Fehér em campo e ninguém queria arriscar a vida de Fábio. Ficou "triste", mas decidiu treinar em casa, sempre com a mãe ou o pai por perto e com o regresso aos relvados em mente: "Numa das corridas com o meu pai, o meu coração disparou, perdi os sentidos e caí no passeio. O meu pai teve de me dar dois murros no coração para ele voltar a bater e quando acordei no hospital disse que não queria voltar a tentar jogar. Saber que podia ir treinar ou jogar e não voltar...".A partir desse momento tudo se tornou "mais difícil". A decisão estava tomada, mas a cabeça não aceitava a decisão ou o facto de lhe ter acontecido a ele entre milhares de jogadores: "Não saía de casa, fechava-me no quarto a jogar PlayStation, a minha vida não fazia sentido." Só a intervenção firme dos pais e da namorada, que quase o obrigaram a ir primeiro um psicólogo e depois a um psiquiatra, o ajudaram a sair do fosso onde tinha caído. Ainda pediu uma segunda opinião. "Ouvir o médico dizer que podia sofrer de morte súbita a subir escadas ou a treinar fez-me ter medo. Tinha medo de adormecer. Fechar os olhos significava que podia não os voltar a abrir", confessou ao DN o ex-jogador..Fábio mudou de vida. O Benfica, o Rio Ave e o Sindicato de Jogadores ajudaram. Agarrou-se aos estudos. Está agora a terminar o curso de Gestão do Desporto, mas voltou ao futebol. É hoje treinador adjunto do Ac. Viseu. Aprendeu a lidar com o problema, mas o medo fica para a vida. Toma um medicamento diário para baixar o ritmo cardíaco e usa um relógio para registar os batimentos. Há quatro ou cinco anos que não tem um episódio, mas há tempos teve uma arritmia e reviveu tudo de novo..No caso de Fábio, os problemas cardíacos impediram uma promissora carreira. No de Agüero pode ser um final da carreira, num cenário financeiro diferente e com uma projeção mundial estratosférica: "Não será fácil para ele. Um jogador está preparado para uma lesão grave, mas um problema cardíaco é algo que te apanha de surpresa e quase nunca permite o regresso aos relvados. É difícil aceitar.".isaura.almeida@dn.pt