Coreia do Sul em direto: "Olá Vidigueira,nice to meet you"

Escolas no Alentejo têm projeto tecnológico de sucesso. Tiveram aula por videoconferência com uma turma a 10 mil quilómetros
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"Em inglês diz-se I"m nine [tenho 9 anos]." Na sala de aulas da Escola Básica da Vidigueira, ontem de manhã, o nervosismo de alunos e professores era grande. Poucos minutos depois, a comunidade educativa iria ficar ligada através da internet com uma escola de Daeyanam, na Coreia do Sul. A mais de dez mil quilómetros de distância, um aluno coreano haveria de falar sobre a gastronomia e o património do seu país, numa intervenção seguida com atenção pelos estudantes alentejanos, se bem que muitos não conseguissem decifrar tudo o que lhes era contado "do outro lado do mundo".

E outros tantos percebiam, mas tinham receio "de falar", como disseram ao DN a Teresa e o Miguel, ambos com 9 anos, que ouviram um simpático "nice to meet you [prazer em conhecer-vos]", mas que não responderam ao cumprimento.

A aula marcou o encerramento do projeto "Mudanças na Aprendizagem", uma parceria da Fundação Gulbenkian, da Universidade de Évora e da Samsung Portugal que decorreu nos últimos dois anos letivos em três escolas do Alentejo e que envolveu um total de 140 alunos do ensino básico que obtiveram uma taxa de 100% de sucesso escolar (face a uma média de sucesso de 85% na região). A iniciativa envolveu as escolas da Vidigueira (com 2 salas de aulas), Ponte de Sor (3) e Vendas Novas (2), sendo que os alunos passaram a dispor de tablets para o seu processo de aprendizagem e os estabelecimentos de ensino foram equipados com quadros interativos e com software educativo adaptado às respetivas faixas etárias.

Aluna do ensino especial, Tânia foi integrada em setembro do ano passado na turma do 4.º ano da escola da Vidigueira. Foi nessa altura que teve acesso, pela primeira vez, a um tablet e a aplicações informáticas desenhadas para a sua faixa etária. O resultado, confirma a professora, ficou acima do esperado. "Gosto mais da escola com estas coisas, pois aprendi mais e pesquisei na internet sobre temas como os refugiados ou os escritores portugueses. Gostei muito do Fernando Pessoa", diz Tânia ao DN, momentos antes de ouvir os seus colegas coreanos dirigirem o efusivo: "Nice to meet you".

Já Teresa diz ter gostado "das novas aplicações" que a ajudaram a concluir com sucesso o 4.º ano e com boas notas a Português e a Matemática. Já para Miguel o mais interessante foi a pesquisa "sobre coisas que não sabíamos" e a aprendizagem de noções básicas de informática.

Fátima Ralha, professora e coordenadora do projeto, revela que além do programa definido pelo Ministério da Educação para os 3.º e 4.º anos, os alunos da escola da Vidigueira - à semelhança do que terá acontecido com os das restantes escolas incluídas no projeto - tiveram oportunidade de aproveitar os novos equipamentos educativos para realizar uma série de trabalhos que os ajudou a aprofundar as matérias lecionadas e a estudar assuntos "que lhes interessam".

"Fizemos um blogue sobre os vários pontos de interesse turístico que existem no concelho, pesquisaram informação online, trataram--na e apresentaram resultados sobre diversos assuntos, como por exemplo a descoberta do caminho marítimo para a Índia", acrescenta a docente, segundo a qual os tablets e o software educativo motivaram os alunos "para o estudo sobre temas que lhes interessam" e ajudaram à aprendizagem das matérias inseridas no currículo escolar.

"No princípio foi uma grande euforia, por vezes até complicada de gerir em termos emocionais dentro da sala de aula. Mas depois esta tecnologia começou a tornar-se um instrumento familiar para os alunos e permitiu-lhes uma melhor aprendizagem", acrescenta Fátima Ralha, sublinhando que com o avançar do ano letivo os tablets revelaram-se um "recurso fundamental" para os alunos, o que se traduziu em 100% de sucesso escolar.

"Os 140 alunos envolvidos no projeto transitaram de ano, não houve insucesso, o que significa que estamos a atingir o objetivo de introduzir mudanças nos processos de aprendizagem. Para os miúdos parece uma brincadeira mas na verdade estão a obter conhecimentos", refere Jorge Fiens, da Samsung Portugal, revelando que o projeto irá prolongar-se ao longo dos próximos cinco anos, demonstrando que "há novas formas de ensinar".

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