Ana Maria Magalhães: "Acontece de tudo na Feira do Livro de Lisboa. E é divertido"
A minha primeira aventura na Feira do Livro foi um deslumbramento! Acabava de fazer sete anos, levaram-me à Avenida da Liberdade sem muito explicar, quando percebi que estava numa feira onde só vendiam livros fiquei maravilhada porque já então adorava ler.
Naquele tempo não era costume atafulhar as crianças de presentes, achei perfeitamente normal que me dissessem para escolher um livro. Mas qual? Cirandei por entre as barraquinhas a avaliar as capas com o olhar guloso de quem se debruça numa montra de bolos e todas me pareciam tentadoras.
Esqueci o título eleito, mas não esqueci a história que passou a fazer parte integrante daquela noite de princípio de verão, morna e perfumada, que guardo entre as boas memórias de infância.
Não podia adivinhar que um dia mais tarde viria a ser escritora e que me estavam reservadas muitas outras aventuras na Feira do Livro de Lisboa. A maior parte relacionadas com testemunhos de leitores que me deixam enternecida e feliz. Mas também já fui surpreendida por bizarrias como a de um professor americano que, depois de se desfazer em elogios aos livros da história de Portugal que escrevi com a Isabel Alçada, se lançou numa diatribe contra o uso da palavra mouro que considerada ofensiva e racista. Barafustou durante uma hora, por mais que eu tentasse explicar-lhe que a palavra não tem conotações negativas e que não é possível falar da Idade Média na Península Ibérica sem falar em mouros e continuou a exigir em altos berros que substituíssemos mouros por muçulmanos em todos os textos.
Por sorte tinha ali à mão um livro de lendas, uma delas a Lenda da Moura Encantada. Mostrei-lha e perguntei se lhe soaria bem a muçulmana encantada. Emudeceu, pouco depois desandou em grande fúria deixando-me exausta e envergonhada com a gritaria. Acontece de tudo na Feira do Livro de Lisboa. E é divertido.
O livro que eu queria encontrar na Feira:
"A primeira edição dos Lusíadas num alfarrabista ou então Uma Agulha no Palheiro de J.D. Salinger que tenho procurado sem êxito."