A 11 de janeiro de 1996, o Desportivo de Chaves e o Sporting encontraram-se para jogarem 2.25 minutos, o tempo que faltava disputar de uma partida iniciada 12 dias antes, num dos momentos mais insólitos do futebol português. Hoje (20.30, Sport TV), mais de 26 anos depois, voltam a encontrar-se, desta vez em Alvalade, para mais um capítulo de uma história marcada por duelos difíceis..A história daquele que é um dos jogos mais curtos do futebol nacional e mundial começou devido a um apagão dos holofotes do Municipal de Chaves, que interrompeu esse jogo de 30 de dezembro de 1995 a 2.21 minutos do fim e quando estava 1-1 (Míner tinha adiantado a equipa da casa de penálti aos 60 minutos e Carlos Xavier empatou aos 86", num livre fantástico)..Perante a impossibilidade de continuar a jogar nessa noite por falta de luz, o encontro da 16.ª jornada do campeonato foi reagendada para 11 de janeiro de 1996 e com a particularidade de ser dois dias antes do Sporting receber o FC Porto (liderava o campeonato com seis pontos de avanço e mais um jogo)..Costinha era o guarda-redes do Sporting e recordou ao DN esse jogo que começou em 1995 e acabou em 1996. Para o antigo guardião, "o insólito dessa situação à distância de mais de 25 anos é difícil de explicar". Fazer quase 1000 quilómetros (ida e volta) para jogar pouco mais de dois minutos é coisa que fica na memória. Assim como o "ambiente terrível e de revolta emocional no balneário" por os obrigarem a passar por isso em vez de dar seguimento à partida na tarde do dia seguinte.."O enredo é digno de um filme", recordou Costinha. Segundo as regras, as equipas eram obrigadas a respeitar a ficha de jogo original e os leões já tinham esgotado as substituições, por isso o Sporting decidiu levar apenas os 10 futebolistas que estavam em campo na altura do apagão - Naybet tinha sido expulso, tal como Díaz do Desp. Chaves..Se no jogo inicial foram de comboio até ao Porto, onde dormiram e treinaram no Bessa até seguirem viagem para Chaves, onde descansaram no hotel Pedras Salgadas, propriedade do ex-presidente Sousa Cintra, até ao jogo no dia seguinte, no dia do mini-jogo foram de autocarro, almoçaram às 11.00 da manhã (bife com arroz e salada), deram autógrafos no hotel, jogaram a meio da tarde e voltaram depois para Lisboa..Sem nenhum lance de perigo a ser registado, e depois de compensar a substituição flaviense, o árbitro Juvenal Silvestre terminou o jogo passados... dois minutos e 25 segundos, com Carlos Queiroz (foi sozinho e deixou o adjunto em Lisboa para dar treino ao resto do plantel) e Santana Lopes, então presidente do Sporting, visivelmente irritados..Depois de dois minutos "de pressão constante" do Chaves e sem conseguirem "desfazer o empate", o Sporting manteve o atraso na classificação para o FC Porto. Esse resultado e essa viagem "deixaram marcas" e comprometeram a possibilidade dos leões alcançarem os dragões na classificação até ao fim do campeonato, segundo contou Luís Vidigal..O antigo médio leonino lembra-se bem da "revolta" que essa decisão gerou no balneário. "Um misto de silêncio com momentos de raiva bem verbalizada contra as instituições envolvidas [Pinto da Costa era presidente do FC Porto e da Liga]. Ser perguntassem individualmente aos jogadores, nenhum teria ido a esse jogo, mas éramos profissionais e tínhamos de honrar a decisão e o Sporting. Para bem do futebol português evoluímos muito e creio que uma situação destas hoje não seria possível", disse ao DN o antigo médio e atual comentador da Sport TV..Do ponto de vista do Chaves valeu a pena. Conseguiu um ponto na luta pela manutenção. Esse jogo acabou por ficar na história e marcar para sempre os duelos entre leões e flavienses."Por isso dizem que para lá do Marão mandam os que lá estão", brincou Vidigal, lembrando a responsabilidade histórica de vencer. Hoje o jogo é no Estádio José Alvalade e marca o regresso da equipa transmontana ao convívio entre os grandes do futebol português..isaura.almeida@dn.pt