'Pena que haja marcas portuguesas com nomes estrangeiros'

A marca nasceu há 19 anos, tornando-se sucesso em Portugal e em França, onde é presença habitual na Semana de Moda de Paris
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Sempre atenta à evolução da moda nacional e internacional, Fátima Lopes só desenha peças que seja capaz de vestir. E a história desta marca de traços únicos, que conseguiu pôr o mundo a olhar para a moda portuguesa com mais respeito, é muito simples e dispensa grandes apresentações: "Inicialmente vendia para lojas multimarca, mas em 1992 decidi abrir o meu espaço na Avenida de Roma. Nessa altura estava ainda longe de imaginar que seis anos depois entraria para o restrito grupo dos 90 estilistas da Moda Paris."

A criadora, que se orgulha muito do País onde nasceu, não esconde, porém, que quando começou esta aventura os portugueses eram muito mais arrogantes e desligados da moda. "Lembro-me de no início haver fábricas que se recusavam a fazer cem peças, justificando que só produziam grandes quantidades" disse, salientando que "foi graças a essa arrogância e deslumbramento que muitas fábricas se viram obrigadas a fechar".

Mas se a indústria portuguesa precisa - como está a acontecer agora - de apostar mais nas pequenas quantidades e na qualidade da produção, alguns estilistas também têm de mudar de atitude.

Um dos segredos de Fátima Lopes é não ter vergonha de ser portuguesa, e com isso mudou muitos preconceitos que existiam no estrangeiro, nomeadamente em França. "Nunca fui discriminada pela minha origem - até porque a moda quando é bem feita não tem nacionalidade -, mas quis sempre ser reconhecida como portuguesa. Havia quem pensasse que eu era espanhola e me tratasse por Fátima Lopez, mas eu emendava logo, nunca admiti essas confusões."

E é sobre a falta de nacionalismo que a criadora crítica algumas marcas portuguesas: "Não entendo. Aliás, arrepio-me quando vejo uma marca portuguesa com nome estrangeiro. Tenho pena porque acho que temos de ter orgulho no nosso País e levar a nossa língua e os nossos nomes connosco."

Mas como nem só de palavras e imagens se faz uma marca made in Portugal, no que toca à produção o nosso país também é a sua primeira escolha. Actualmente, todas as peças da marca são produzidas em território nacional e a qualidade é indiscutível.

No silêncio do primeiro andar da sua loja do Bairro Alto - onde pondera reabrir um bar com o seu estilo -, a criadora lembrou ainda que hoje são os estrangeiros que começam a dar valor a Lisboa e à moda portuguesa, contrariando o sentimento de vergonha que alguns portugueses ainda tinham do seu país na década de 90.

"Nas primeiras vezes que fui a França, os portugueses não falavam comigo em português e tentavam que eu nem percebesse que eram do meu país. Às vezes eram os colegas que diziam para eles falarem em português. Essa imagem mudou não só através da moda como também através de eventos como a Expo'98", sublinhou Fátima Lopes.

E ainda que a entrada para o clube dos 90 melhores estilistas - aqueles que estão presentes na moda Paris - tenha sido um dos marcos mais importantes da sua vida e "algo que já ninguém [lhe] tira", Fátima Lopes lembra que a evolução da moda em Portugal também lhe dá muitas alegrias. "Contra mim falo, mas a democratização deste sector fez que os portugueses passassem a estar mais bem vestidos. E digo que falo contra mim porque isso só foi possível graças às lojas de roupa mais barata que surgiram e que apesar de não terem tanta qualidade têm peças parecidas com as dos estilistas", rematou, esboçando um sorriso.

Certa de que o seu futuro terá de passar pela expansão a mais países, Fátima Lopes prefere não antecipar para já qualquer cenário, até porque segundo ela na sua vida tudo tem acontecido "step-by-step", e é assim que quer continuar.

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