"É impossível descrever o que vai dentro de mim. Nem quero acreditar que tenho os pés em Moscovo", declarou João Pinheiro à Lusa, depois de uma longa e atribulada viagem entre o Porto e a capital russa. .João Pinheiro tinha requerido junto do Consulado da Rússia em Lisboa um visto para entrar no país, mas foi-lhe várias vezes recusado.."Não sei o que aconteceu desta vez, mas recebi o visto e aqui estou. Foram três anos a lutar por este momento e cá estou", frisou..Como a família de Alexandra não se quis deslocar a Moscovo por motivos económicos, João Pinheiro lançou-se numa longa viagem até Pretchistoe, vila onde reside a menina, situada a mais de 360 quilómetros de Moscovo. ."Por essa menina, vou mesmo até ao fim do mundo. Vim aqui precisamente para isso. Quero abraçá-la, dar-lhe um beijo e entregar-lhe as prendas que trouxe", continua João Pinheiro, enquanto, através da janela do carro, olha para aldeias russas com enorme curiosidade..Não sabendo como iria ser recebido, bateu à porta da velha casa da família de Natália Zarubina com um certo receio, mas não havia motivo para tal, pois foi recebido com a possível hospitalidade russa: abraços e beijos..A "Xaninha" não estava em casa, andava a brincar com as amigas. Veio pouco depois e foi recebida por João Pinheiro com abraços e beijos, mas sem que respondesse em português a algumas das perguntas dele..A menina dirigiu-se rapidamente para as prendas, prestando pouca atenção às conversas entre os adultos.."A camisola de que gosta! E que estojo com perfumes bonitos! Mais uma camisa e meias bonitas!", exclama Alexandra entusiasmada, mas falando sempre em russo..Em português apenas disse "obrigada!", mas só após a insistência da mãe..Durante o almoço no restaurante local onde Natália ganha a vida como empregada de mesa, João Pinheiro contou como corria a vida da sua família em Portugal, tentando, ao mesmo tempo, apelar para as recordações de Alexandra sobre a sua vida passada, mas a menina raramente reagia, distraindo-se com outros afazeres..Irrequieta e traquina, não tardou a insistir com a mãe para voltarem para casa, pois queria ir brincar com as amigas.."Quando não está na escola, passa a vida a brincar na rua com as amigas. Não está parada", justifica Natália, mãe de Alexandra..Rapidamente chegou a hora da despedida, pois João Pinheiro tinha ainda de regressar a Moscovo e as estradas russas não permitem grandes velocidades. Ida e volta é uma viagem de 11 horas.Ao distribuir beijos e abraços por todos os membros da família da Alexandra, desde o avô até ao padrasto, João Pinheiro propôs a Natália e ao marido que viessem passar o Natal e Ano Novo a Portugal.."Está bem, nós vamos! Mas temos de tratar de passaportes e vistos", declarou Alexei, o padrasto da menina, dando a entender que há apenas um "pequeno" problema: a grave falta de dinheiro.."Eu vou ajudar. Irei dar todo o apoio para vos ver lá em minha casa", retorquiu João Pinheiro..O português não quis deixar a vila sem ver a Lúcia, cadela que acompanhou a menina para a Rússia. A coxear de uma das patas, o animal, que vagueia por Pretchistoe à procura de comida, saltou para João e começou a lamber-lhe as mãos e a pedir festas.."Lúcia, Lúcia, ela reconheceu-me, não se esqueceu de mim", exclamou, sufocado por lágrimas e desviando-se de Alexandra e das outras pessoas para que não o vissem a chorar.."Tentarei fazer tudo para ajudar esta família, e agora muito mais", concluiu João Pinheiro ao deixar para trás a vila de Pretchistoe.