Alcione concedeu entrevista em Lisboa.
Alcione concedeu entrevista em Lisboa. Reinaldo Rodrigues

Alcione: “Quero que o meu canto deixe as pessoas bem”

Em entrevista concedida em Lisboa, onde atua na noite desta sexta-feira (21), a sambista brasileira fala sobre ancestralidade, a força do samba e a emoção de celebrar o aniversário em palco.
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O último mês tem sido especial para os amantes de samba que moram em Portugal. Após shows de Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho, agora é a vez de Alcione atuar no país com sua turnê de celebração dos 50 anos de carreira. Depois de se apresentar com ingressos esgotados na noite da última quinta-feira (20), no Casino Estoril, a “Marrom”, como é conhecida, faz ainda espetáculos em Lisboa nesta sexta-feira (21), quando sobe ao palco do Coliseu dos Recreios às 21h30, e no Ageas Coliseu, no Porto, na segunda-feira (24), também às 21h30.

Em conversa com jornalistas na capital portuguesa, a Dama do Samba falou sobre a importância de cantar no Dia da Consciência Negra, a força do samba nas novas gerações, a ligação profunda com os países de língua portuguesa e a emoção de celebrar o aniversário em palco. Vale lembrar que ainda há ingressos disponíveis para as próximas duas apresentações.

Veja o que disse Alcione

Os temas indispensáveis nos espetáculos

Os meus temas são sempre sobre o ser humano, sobre a paixão e sobre os sentimentos que nós, seres humanos, possamos ter uns com os outros, além da liberdade de expressão. Se há uma coisa que eu gosto de fazer na vida é cantar e cantar aquilo de que gosto. As pessoas precisam gostar também daquilo que eu escolho para elas ouvirem, e tenho essa preocupação.

Cantar no Dia da Consciência Negra

Agradeço todos os dias a Deus por ter-me dado o dom de cantar. É a dádiva mais poderosa que Ele poderia me dar. Como diz a música, canto “para aliviar meu pranto e o pranto de quem já tanto sofreu”. Canto para as pessoas e quero que o meu canto invada e deixe as pessoas bem. Se estiverem apaixonadas, que fiquem mais; se estiverem felizes, que fiquem ainda mais felizes.

Cantar neste dia é muito importante. Sou filha de pais e avós negros, e meus bisavós foram escravos. Temos uma herança muito forte dessa africanidade que me foi passada.

A força e a atualidade do samba

O samba tem aquela força: sempre foi um pouco discriminado, se o feijão aumentava ou o arroz subia, a culpa era do samba. Devemos agradecer a pessoas como Clementina de Jesus e Paulinho da Viola, guerreiros que lutaram muito para colocar o samba no lugar onde ele tem que estar. O samba é a música do meu país. Como diz o poeta: quem não gosta de samba, bom sujeito não é.

Ligação com Angola e Moçambique

É muito forte a memória que Angola e Moçambique deixam na gente. Convivendo com eles, sinto a certeza de que meus ancestrais são dali. Tenho essa cultura profundamente dentro de mim e tenho orgulho disso. Aprendi muito, pude ensinar alguma coisa e agradeço todos os dias por mergulhar nessa cultura e aprender mais. É a nossa cultura.

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Celebrar o aniversário no palco português

Até no dia do meu aniversário Deus me dá de presente estar no palco fazendo o que vim à Terra para fazer: cantar. Tenho muito mais a agradecer do que a pedir. Sou muito feliz por passar o aniversário aqui, com vocês, fazendo aquilo de que gosto e junto do povo que sempre me recebeu bem.

Força espiritual e dedicação

Isso é coisa de Deus. A gente vem para fazer o que tem de fazer. Todos os dias peço forças a Deus para fazer o que faço do jeito certo. Eu acredito em Deus.

Cantar noutras línguas e homenagear culturas

Gosto de chegar ao país da pessoa e homenageá-la. Se for cantar na Rússia, por exemplo, tenho de cantar algo na língua deles, e é difícil, viu? É bonita, mas difícil. Tento sempre fazer algo que deixe bem quem está me recebendo, para acarinhar essas pessoas.

Relação com Portugal

Já cantei no Porto, Lisboa, Coimbra e Ovar. Já bati muita perna por Portugal. Gostamos muito da irreverência do português e adoramos estar aqui. O idioma facilita: falamos a mesma língua e é fácil expressar o que queremos dizer.

Mensagem às mulheres dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)

A Loba [música de Alcione que a cantora interpretou para os jornalistas] é aquela mulher cujo espaço precisa ser respeitado. É preciso respeitar a família, o ambiente. Ela se impõe pelas coisas que sabe que precisa ter para se afirmar nesta vida tão masculinizada. A mulher precisa cobrar, precisa ter força para se impor.

nuno.tibirica@dn.pt

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.
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