"Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar". É assim que canta Alcione, a dama do samba, numa de suas mais famosas músicas, homónima ao primeiro verso e publicada em 1974. A depender do público e da programação de algumas das principais salas de espetáculo de Portugal, o pedido de Alcione tem boas razões para concretizar-se, afinal, recentemente, o samba por cá tem estado bem vivo. Se na última semana foi o 'Príncipe do Samba', Paulinho da Viola, a se apresentar em Lisboa e no Porto, nos próximos dias (6 e 8 de novembro) será a vez de Zeca Pagodinho, outro símbolo do género, a fazer espetáculos nas duas maiores cidades portuguesas. "Geralmente, quando venho é para fazer show, mas mesmo assim dá para dar uma volta. Em outras visitas já deu para conhecer a Bairrada, Santarém e mesmo aqui em Lisboa o Castelo de São Jorge e outros pontos", disse em conferência de imprensa realizada na manhã desta terça-feira, 4 de novembro, num hotel da Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde se prepara para atuar no palco do Sagres Campo Pequeno na quinta-feira (6). Autor de sucessos como "Deixa a Vida Me Levar", "Verdade" e "Coração em Desalinho", Zeca é um dos principais nomes da música brasileira e, desta vez, chega para comemorar os 40 anos de carreira. Nas quatro décadas, acumulou mais de 12 milhões de discos vendidos e faturou quatro prémios Grammy Latinos. "Eu nunca pensei nisso, aconteceu, mas nunca me preparei para isso", afirmou ao ser questionado sobre quando decidiu que o samba seria o seu caminho na vida. Para os próximos concertos em Portugal - além do Campo Pequeno também sobe ao palco da Super Bock Arena, no Porto no sábado (8) - traz alguns destes seus grandes clássicos, "desde o 'Camarão que dorme a onda leva' até 'Deixa a Vida me Levar'", frase que Zeca explicou à imprensa."Não é bem assim, né? ‘Deixa a Vida Me Levar’ é porque a gente não pode ficar muito preocupado. Mas claro que tem as coisas da vida que eu tenho que me preocupar: filhos, netos, trabalho. Depois disso tudo, deixa a vida me levar" explicou. "Não adianta programar nada. Tem que estar na mão de Deus, a gente vai vivendo. Faz o que tem que fazer e vai vivendo. O resto Deus resolve", complementou o artista.Com mais de duas dezenas de discos publicados ao longo da carreira, Zeca Pagodinho, nascido no bairro do Irajá, Zona Norte do Rio de Janeiro, há 64 anos, foi um dos principais artistas a dar uma "nova cara" ao samba nas últimas décadas. Hoje, vê-se orgulhoso de uma força tão viva do género, não só no Brasil, mas também ao redor do mundo. "O pessoal [novos artistas] está fazendo coisas divertidas, levando na 'responsa', como se fala no Brasil. E isso está por aí, ao redor do mundo, Por onde eu vou tem gente cantando samba. Até no Japão. É uma honra isso", disse o artista que, mesmo com poucas palavras na conferência de imprensa, sempre guarda espaço para algum bom humor.Questionado se é mais difícil arranjar uma boa letra, um bom parceiro de música ou um bom 'boteco' - como são chamados os bares tradicionais no Brasil e pelos quais Zeca é um admirador confesso - diz "os três", arrancando risadas dos jornalistas. Em Lisboa, no entanto, revelou já há anos ter arranjado um 'boteco' que o trata bem por cá: "o Pinóquio". "É a minha casa", sublinhou o carioca, frequentador assíduo no tradicional estabelecimento dos Restauradores. O espetáculo de Zeca Pagodinho em Lisboa nesta quinta-feira (6) está marcado para às 21h00. Já apresentação no Porto no sábado (8), está previsto para às 21h30. Ainda há bilhetes disponíveis para ambos espetáculos. Entre um concerto e outro, Zeca, aos 64, continua atento à novas inspirações. "É como diz o Sombrinha [compositor brasileiro fundador do grupo Fundo de Quintal]. Tudo que ele vive, tudo que ele vê, ele transforma em samba". Fazer sambas "falando sobre a vida", é, portanto, a maneira como Zeca Pagodinho dá seu contributo para manter esta arte da cultura popular brasileira firme e forte, fazendo jus a música e ao pedido de Alcione parafraseado no início deste texto. Aliás, a Dama do Samba é outra que, muito em breve, também estará em palcos do país. .Paulinho da Viola. “O samba não acaba porque o povo não deixa”.Criolo: “Espero que um dia imigrante seja apenas o adjetivo de alguém de outro território, não alguém menor”