Em 2019, um tribunal de Meiningen, na Turíngia, aprovou um protesto em que Höcke era considerado “fascista”.
Em 2019, um tribunal de Meiningen, na Turíngia, aprovou um protesto em que Höcke era considerado “fascista”.RONNY HARTMANN / AFP

Extrema-direita vence eleição pela primeira vez desde o III Reich

Turíngia pode vir a ser governada por Björn Höcke, multado por usar palavras de ordem nazis. Partidos da coligação governamental obtêm resultados desastrosos.
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A Alternativa para a Alemanha (AfD) venceu as eleições regionais na Turíngia e ficou em segundo na Saxónia, confirmando um abalo político que as sondagens previam. Além de carregados de simbolismo -- é a primeira vez desde o fim do regime nazi que um partido de extrema-direita vence um sufrágio --, os resultados são também uma forte advertência aos três partidos da coligação governamental liderada por Olaf Scholz. 

“Estamos prontos para assumir a responsabilidade do governo”, disse o líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke. O controverso ex-professor de História, multado este ano em duas ocasiões por usar palavras de ordem nazis, ambiciona ser o primeiro político da AfD a chefiar um governo de um dos 16 estados federais da Alemanha. Isto apesar de ter perdido o mandato direto: no seu círculo eleitoral, Greiz II, foi derrotado pelo candidato da CDU. Será, todavia, eleito de forma indireta. 

 “A nossa mão está estendida. Também estamos dispostos a fazer compromissos", disse Höcke na TV, referindo-se á CDU, a segunda maior força. No entanto, como era de esperar, os democratas-cristãos fizeram saber, através do secretário-geral Carsten Linnemann, que não estão disponíveis para se aliar à AfD em caso algum.

A formação de um governo na Turíngia deverá ser um quebra-cabeças, como aconteceu em 2019 e prosseguiu nos meses seguintes. O Die Linke vencera as eleições mas perdera peso e nenhuma coligação vingou. A solução encontrada foi eleger chefe do governo o liberal Thomas Kimmerich, cujo partido havia obtido 5%, com os votos da CDU e da AfD, segunda e terceira forças respetivamente. A controvérsia foi tal que, três dias depois de eleito, Kimmerich demitiu-se, tendo o ex-comunista Bodo Ramelow foi reeleito, num acordo de governo com CDU, Verdes e SPD. 

Na Turíngia, com 2952 mesas de voto apuradas em 2976, a AfD liderava com 33%, seguida da CDU (23,6%), do novo partido populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (BSW, 15,9%) e do Die Linke (A Esquerda, 12,9%). Nesta região do leste alemão com pouco mais de dois milhões de habitantes, os sociais-democratas (SPD), os Verdes e os liberais (FDP) já eram minoritários, mas a tendência acentuou-se. Os três partidos que formam a coligação governamental tiveram em conjunto pouco mais de dez pontos percentuais. 

Na Saxónia, também a leste mas com o dobro da população, as projeções indicavam que os conservadores da CDU iriam ser os mais votados. No entanto, quando estavam apurados 63% dos votos, a AfD liderava com 34,8%, seguindo-se a CDU com 33,3%. Também aqui a BSW seguia em terceiro (12,2%).

As eleições deste domingo foram marcadas pelo debate sobre imigração dias depois de um sírio com ordem de expulsão do país ter sido detido, suspeito do ataque à facada em Solingen, e no qual morreram três pessoas. O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, durante a cerimónia de homenagem às vítimas naquela cidade da Renânia do Norte-Vestefália, fez um apelo ao controlo da imigração. ”Só podemos continuar a ser este país se não formos sobrecarregados pelo número de pessoas que vêm sem ter direito a esta proteção especial”, disse em referência ao asilo político. 

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